O descendente de italianos Giocondo Valle, criador de gado no município de Machadinho D’Oeste, no interior de Rondônia, até pouco tempo atrás era um ilustre desconhecido no setor. Mas seu trabalho para
tornar a fazenda Don Aro um projeto perene e sustentável vem chamando a atenção de pesquisadores, entre eles os da Embrapa no Estado. Há pouco mais de um ano, Valle se inscreveu no programa de Boas Práticas Agropecuárias (BPA), da estatal, para validar seu modo de gerir a propriedade. Porém, em vez de se classificar na avaliação  mais baixa do programa, ele foi alçado de imediato à categoria Ouro no BPA. Por esse desempenho, no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014, Valle é o criador de destaque na categoria Fazenda Sustentável. O pecuarista é um bom exemplo de que a distância dos grandes centros urbanos e o tamanho de uma propriedade não são empecilhos para aplicar conceitos modernos de governança. “Quem não for realmente sustentável estará, rapidamente, fora do sistema”, diz o criador. 

A fazenda de 1,6 mil hectares dentro do bioma amazônico é considerada de pequeno porte para os padrões do Centro-Oeste. Nela, Valle cria nelore cruzado com angus, com planos de chegar a um rebanho de dois mil animais até 2017. Seu projeto é fazer o ciclo completo, a partir de um grupo de 700 fêmeas. Hoje, porém, o criador vende os bezerros aos oito meses, logo após a desmama. No ano passado, foram comercializados mil animais. Além da pecuária, Valle  produz arroz, madeira e castanhado- pará. Para esta espécie, o pecuarista mantém a maior área privada individual do Estado, com 11 mil castanheiras em 67 hectares de floresta. “Preservar é o resultado de persistência, abdicações e trabalho físico”, afirma Valle. “E não me refiro apenas a animais e plantas o homem é fundamental nessa equação.” Para ele, o maior investimento que se pode fazer em sustentabilidade está na mudança de atitude de todos os envolvidos no trabalho de uma fazenda. 

Na Don Aro, até o desempenho escolar dos filhos das cinco famílias de funcionários que moram na propriedade é levado em conta nos momentos de avaliação. Valle aplica na gestão da fazenda o método interativo PDCA (do inglês Plan- Do-Check-Act), no qual se estabelecem objetivos e processos. Por isso, junto com o ensino das crianças, da qualidade de moradia e da regularidade trabalhista, há o treinamento constante da equipe, reuniões semanais e o incentivo financeiro através do 14º salário. Nos últimos cinco anos, Valle investiu R$ 1 milhão em adaptações gerenciais, valor equivalente a 20% de seu faturamento bruto anual. “O retorno aconteceu desde o primeiro dia, com a satisfação da equipe, melhora nos índices zootécnicos, segurança jurídica e a certeza de estar fazendo o certo”, afirma Valle. 

Dentre as principais mudanças na lida com o gado, a número 1 foi a implantação do sistema de integração lavourapecuária com a cultura do arroz. “A resposta na produção do gado foi imediata”, diz
Valle, que nunca utilizou queimadas e que garante não derrubar, há 15 anos, uma única árvore para abrir áreas de pasto. “Com a integração passei de um animal por hectare para quatro animais.” Para a coordenadora do BPA em Rondônia, a zootecnista Elisa Köhler Osmari, o criador vem fazendo com louvor a lição de casa, tanto na recuperação das pastagens quanto nas demais áreas. “Nas áreas de reservação permanente, por exemplo, ele isolou, rapidamente, o espaço determinado em lei e chegou a fazer o plantio extra de duas mil mudas de árvores”, diz Elisa.Atualmente a Don Aro é a única fazenda de Rondônia a contar com um Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), registrado em um órgão local. “O conceito de lixo zero é um indicador inquestionável de que, de fato, houve uma mudança de cultura na propriedade”, afirma Elisa. Para ela, os resultados obtidos por Giocondo Valle mostram que é possível replicar modelos sustentáveis em qualquer lugar do País.