A indústria moageira brasileira processou 12,17 milhões de toneladas de trigo em 2018, volume 3,4% maior do que os 11,77 milhões de 2017. Área Norte/Nordeste, com 3,71 milhões de toneladas moídas, ficou em primeiro lugar, seguida do Paraná (3,47 milhões), Santa Catarina/Rio Grande do Sul (2,17 milhões), São Paulo (1,65 milhão) e Centro-Oeste/Minas Gerais/Rio de Janeiro/Espírito Santo (1,16 milhão). Os dados são da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).

Pela primeira vez, a entidade calculou a extração dos moinhos, que, na média nacional, ficou em 75,9% no ano passado. Este é o percentual de farinha obtida do total de trigo processado. O melhor resultado verificou-se nas plantas do Centro-Oeste/Minas Gerais/Rio de Janeiro/Espírito Santo (77,6%). Seguem-se Norte/Nordeste (77%), Paraná (76,4%), São Paulo (76,3%) e Santa Catarina/Rio Grande do Sul (74,9%). São 160 plantas industriais em todo o País.

Os moinhos não demitiram e continuaram investindo em tecnologia, máquinas e equipamentos, embora a produção do setor esteja praticamente estagnada, considerando que a expansão de 2018 apenas compensou a queda verificada em anos anteriores e que o consumo per capita de farinha no Brasil, em 2018, de 45,6 kg/ano, foi pouco maior do que os 44,8 kg/ano de 2017.

“Essa postura tem contribuído para o aumento da produtividade e qualidade de um produto que, em forma de pães, bolos, doces, biscoitos e massas, está presente em 100% dos lares brasileiros”, diz o embaixador Rubens Barbosa, presidente da Abitrigo, ressaltando: “A indústria está pronta para atender de imediato, sem pressão sobre os preços, à demanda advinda do presumível crescimento da economia, pois sua capacidade ociosa está em torno de 25%, com fábricas modernas e tecnologia de ponta”.

Cada moinho fornece farinha de trigo para praticamente todos os segmentos do mercado: 98,5% atendem o segmento de panificação; 86,4%, o consumo doméstico; 81,8%, massas; e 74,2%, biscoitos.

Do total do cereal processado em 2018, 6,8 milhões de toneladas foram importadas, em especial da Argentina. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o volume produzido no País foi de 5,6 milhões de toneladas.

Expectativa dos empresários

A Abitrigo também mede, anualmente, a expectativa do setor quanto às possibilidades de crescimento da produção. No tocante a 2019, 72,1% dos entrevistados estão otimistas (sendo 30% “muito”). Apenas 4,3% estão pessimistas. Na enquete anterior, relativa a 2018, os otimistas eram 49% dos depoentes e os pessimistas, 7%.

A pesquisa conduzida pela entidade identificou, ainda, os temas prioritários para os moageiros. São eles: regulamentação dos alimentos integrais e da rotulagem de produtos; a legislação de micotoxinas; a definição da questão dos fretes; e a condução das políticas públicas pelo novo governo.

“Seguimos comprometidos na defesa dos temas que são considerados fundamentais pelos empresários do setor”, ressalta Barbosa.

Visando atender às demandas do setor e cumprir sua principal missão, de defesa e desenvolvimento da indústria moageira, a Abitrigo, como ocorreu em 2018, desenvolve projetos em diferentes âmbitos, buscando fortalecer o elo entre o campo e a indústria e, consequentemente, promover um ambiente de negócios mais estável e equilibrado. Cumprindo esse papel, a associação manteve intensa agenda de atividades.

Política Nacional do Trigo

Sobressai nessa agenda, a elaboração da Política Nacional do Trigo (PNT), que tem um viés fortemente estratégico para o setor. Enviado aos candidatos à presidência da República em novembro de 2018, o documento, em versão mais detalhada, foi posteriormente entregue à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Tereza Cristina.

Concluída no segundo semestre de 2018, a PNT está dividida em seis eixos temáticos e propõe iniciativas para tornar o Brasil mais competitivo no negócio do trigo, farinha e derivados, com a adoção de medidas que promovam o crescimento sustentável do setor. São eles:

Ambiente legal: parte do princípio do estabelecimento de um programa regulatório eficaz, ágil e estruturado, em uma abordagem de avaliação de risco baseada na ciência de gestão de segurança alimentar, o que é fundamental para a credibilidade do Brasil como fornecedor confiável de alimentos seguros. Neste âmbito, encontram-se a defesa de boas práticas regulatórias em sintonia com a sociedade, a desburocratização e revisão das normas e procedimentos dos órgãos reguladores (ANVISA, MAPA, INMETRO e IBAMA).

Produção: o documento observa que a triticultura é uma atividade que vem buscando solidez na rentabilidade e competitividade, mas precisa acelerar esse processo para chegar ao patamar de outras atividades brasileiras. As medidas sugeridas são a regionalização e especialização da produção, alinhadas com a demanda do mercado; a ampliação da área plantada e diversificação regional; e o apoio à pesquisa (Embrapa e outros centros) no combate à Brusone e Giberela, com desenvolvimento de variedade de sementes resistentes.

Incentivos fiscais: o ambiente atual não privilegia a eficiência e a qualidade na alocação de recursos e novos investimentos, problema que se soma à insegurança jurídica e econômica. A PNT sugere, como solução, a adoção de um mercado livre, que se autorregule, e a políticas públicas que valorizem a eficiência produtiva e a segurança alimentar. Completam este requisito, a revisão dos incentivos fiscais em vigor e a isonomia tributária em toda a cadeia produtiva.

Ambiente de negócios: os esforços, metas e resultados devem ser estabelecidos de maneira integrada com a cadeia produtiva e com igualdade entre as instituições. Assim, a PNT sugere medidas que ampliem a segurança jurídica e promovam a simplificação e a desburocratização.

Comércio internacional: em um cenário de mercado internacional altamente competitivo, os acordos comerciais exigem agilidade nas operações e uma busca contínua por diferenciais comerciais. As medidas propostas no documento são a convergência regulatória e a modernização de processos, dos portos e da cabotagem.

Logística e infraestrutura: a PNT considera fundamentais a modernização na estrutura e modelos aduaneiros e investimentos em sistemas de logística, modais e armazenagem.