Perspectiva-2021/2022

Quando o assunto é o setor de grãos, pode-se dizer que o Brasil nada de braçada. Mais ainda se a maré for positiva, e esse é o horizonte mostrado pelos números. Sem números fechados, a expectativa para a soja é terminar 2021 com novo recorde nas exportações, próximo a 87 milhões de toneladas, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Já o milho estabelece marca em produção de 112,9 milhões de toneladas na safra 2021/22, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As perspectivas para o grão dependem de uma boa colheita da safra de inverno para se concretizar. Uma vez que em 2021 a região Sul perdeu 5 milhões de toneladas, quase 20% da safra de verão. Desempenho que desagradou o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho. “A perspectiva era melhor, mas já temos sinal de alerta”.

“O problema do fertilizante é para a safra 2022/23. Isso é uma tragédia. Não sei como pôde chegar a tal ponto” Cesário Ramalho, Abramilho (Crédito:Divulgação)

A estiagem foi tão séria no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, e até no Mato Grosso do Sul, que levou os secretários de Agricultura dos quatro estados a buscarem ajuda do governo federal, solicitando inclusive a criação de um crédito emergencial para produtores que perderam sua fonte de renda. Foram afetadas tanto a produção de grãos quanto de silagem. Apesar dessa situação, as projeções da Conab apontam para uma boa produtividade do milho em 2021/22, com quase 5,4 toneladas por hectare, resultado 23% maior do que no período anterior. Esse aumento acontece com apenas 5% a mais de área cultivada. O plantio total na atual temporada deve ser de quase 21 milhões de hectares.

No caso da soja, os índices são de alta, mas um pouco mais modestos do que os do milho. A produção total tende a se aproximar de 140,5 milhões de toneladas, segundo o relatório da Conab, e a área plantada soma 40,4 milhões de hectares (crescimento de 3,8%). A preocupação está na remuneração. Os valores da saca caíram nos últimos meses de 2021, principalmente porque o mercado tem demandado menos, segundo Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja). O cenário é confirmado pelo relatório do Rabobank, que aponta uma queda de 20% na comercialização da soja para a temporada 2021/22 em relação ao período anterior. Conforme Galvan, o produtor já tem perda expressiva de R$ 20 por saca. “Vender a saca de soja a R$ 145 não cobre os custos dos fertilizantes. Insumos que custavam US$ 300 a tonelada agora passam de US$ 1 mil”, afirmou.
Sobre uma possível falta de fertilizantes, devido à dependência de fornecedores externos, o risco não se refere à safra 2021/22, pois os estoques estão abastecidos. “O problema é para 2022/23. Isso é uma tragédia. Não sei como pôde chegar a tal ponto”, afirmou Ramalho. Quem trabalha no campo sabe que a saída é uma só: planejamento. Agricultor que garantiu compra de insumos assim que negociou a produção tem situação melhor.

A crise dos insumos impacta fortemente os custos de produção. E a solução para esse entrave é de longo prazo. O governo federal, por exemplo, está trabalhando em um plano nacional de fertilizantes que será tocado em conjunto por vários ministérios. O intuito é reduzir a dependência da participação estrangeira, saindo de 85% para aproximadamente 60% pelos próximos 30 anos, e mapear as áreas de reservas minerais a serem exploradas.
A safra de 2022/23 será ditada pelo desenrolar da crise dos insumos. A conta não fecha se o alto desempenho das lavouras custar a lucratividade do agricultor.