Os últimos cinco anos-safra, a soja, a principal cultura da pauta de exportações brasileira, estabeleceu um novo patamar de preços. Empurrados pela demanda em alta e pela restrição de oferta nos Estados Unidos e Argentina, principais países produtores juntamente com o Brasil, os preços da oleaginosa subiram a uma taxa próxima de 8% ao ano no período. O cenário turbinou o ânimo dos produtores. Com preços favoráveis, o País saiu de 68,5 milhões de toneladas cultivadas para os atuais 86,1 milhões de toneladas. Somente na safra 2013/2014, o incremento da produção foi de 4,6 milhões de toneladas, 5,7% superior em relação à anterior. Mas, para a safra 2014/2015, com previsão de 94 milhões de toneladas, surgem algumas nuvens no horizonte. As cotações internacionais da soja vêm dando sinais de enfraquecimento, provocado principalmente por uma oferta abundante na lavoura americana da oleaginosa. No mês passado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda, na sigla em inglês) anunciou que a sua atual safra deve ser de 106,5 milhões de toneladas, 20% superior à da colheita passada. “A safra americana deve se confirmar, mas é neste mês que teremos um quadro fiel da produção”, diz Fernando Pimentel, consultor de mercado de commodities da Agrosecurity, de Campinas (SP). “Em outubro acontece a colheita em Iowa, o principal polo produtor dos Estados Unidos, o que dará uma dimensão mais clara do volume produzido.” 

Por conta da previsão de uma maior oferta mundial do grão, desde meados de março grande parte dos agricultores de Mato Grosso, o maior centro produtor da commodity no País, com 26,3 milhões de toneladas
nesta safra, deixou de apostar no fechamento de contratos futuros para o grão da safra 2014/2015, que começa a ser plantada. Nesse período, os valores de contratos com vencimento para março de 2015 na Bolsa de Chicago saíram do patamar de US$ 28,67 por saca de 60 quilos para US$ 21,11 no mês passado. Em meados de setembro, para confirmar essa tendência de baixa, o banco holandês Rabobank apresentou um estudo nada animador sobre preços. “Se olharmos para os fundamentos de oferta, demanda e estoques da oleaginosa, seguimos para cenários de preços cada vez mais reduzidos,” diz Renato Rasmussen, analista do depar- tamento de Pesquisa e Análise Setorial do Rabobank no Brasil. “Em nossas estimativas, há uma probabilidade de as cotações chegarem a US$ 18,89 por saca.”

Diante de um cenário baixista, apenas 11% da safra estimada em 27,7 milhões de toneladas de soja para Mato Grosso, em 2014/2015, já estava comercializada até meados do mês passado, segundo dados do
Instituto Mato-Grossense de Economia e Agropecuária (Imea). Em 2013, nesse mesmo período, o índice era de 38,5%, mesmo assim historicamente baixo para o período. O normal, para essa época, seria já ter negociado metade da produção. Um menor número de contratos futuros fechados por exportadores brasileiros em Chicago se explica pela esperança, por parte dos produtores, de que ocorra algum pico de alta nos próximos meses. “Nos últimos três anos, se deu melhor quem segurou as negociações para vender mais tardiamente”, diz Pimentel. “Isso não significa que possa ocorrer o mesmo nesta safra, é apenas uma hipótese.” 

O produtor Nelson Vígolo, presidente do Grupo Bom Jesus, com sede em Rondonópolis (MT), está de olho nas estratégias possíveis de melhor gestão da safra. Vígolo cultiva 200 mil hectares com soja, milho e algodão em 14  fazendas, incluindo também a Bahia. 

“Travamos 30% da produção de soja, entre maio e junho passados, e, pelos preços atuais, acredito que poderíamos ter fechado um volume ainda maior”, diz Vígolo. A média dos contratos negociados ficou um pouco acima de US$ 26,67 por saca, com vencimento para março de 2015, volume que deve corresponder a 135 mil toneladas produzidas. A partir de agora, o produtor diz que vai esperar o desenvolvimento das
safras argentina e paraguaia. “Esses países influenciam os preços”, diz Vígolo. “Caso ocorra algum problema em suas lavouras, os preços podem reagir um pouco para nós e garantir oportunidades de
melhores negócios.” 

Segundo os consultores ouvidos por DINHEIRO RURAL, a ideia é que o agricultor não perca as oportunidades apresentadas pelo mercado. “O produtor precisa travar pelo menos algo que dê para cobrir os custos de produção, além de evitar endividamento em dólar”, diz Pimentel, da Agrosecurity. Para Rasmussen, do Rabobank, é importante aproveitar as oportunidades assim que elas aparecerem. “Não dá para ficar esperando pelo momento espetacular”, diz Rasmussen. “Uma hora, todos vão ter de vender e, se isso acontecer ao mesmo tempo, os preços podem cair ainda mais.”