Confirmada pré-candidata do MDB como representante da chamada terceira via na disputa presidencial deste ano, Simone Tebet tem agora, segundo líderes envolvidos nas articulações, o desafio de definir uma mensagem clara ao País para tentar superar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Diante das crises econômica, política e institucional, a equipe de pré-campanha da senadora trabalha com os eixos de combate à miséria e pacificação do País.

No caminho, há obstáculos, como impasses políticos no centro democrático e o desafio de ganhar tração nas pesquisas. Apesar da chancela do MDB e do Cidadania, Simone ainda espera pelo apoio do PSDB – a desistência do ex-governador João Doria (SP) não significou adesão automática dos tucanos. Já nos mais recentes levantamentos, Lula e Bolsonaro aparecem à frente, embora o potencial de voto em Simone tenha crescido.

“O projeto visa a retomada do desenvolvimento, focando principalmente no enfrentamento da miséria”, disse o ex-governador do Rio Grande do Sul e coordenador do programa de governo de Simone, Germano Rigotto (MDB). Ao lado, está a superação da radicalização. “Não tem como ter um governo que não pacifique o Brasil.”

Dados da economia revelam o tamanho da tarefa. O cenário é de deterioração de indicadores, com elevada taxa de desemprego e expressivo contingente da população em situação de vulnerabilidade. Uma das principais preocupações do brasileiro, a inflação, fechou o acumulado dos últimos 12 meses até abril em 12,13%, o maior resultado desde outubro de 2003 (mais informações nesta página).

Ideias

Na primeira entrevista após a confirmação do MDB, Simone já pincelou algumas ideias. “Não é Estado mínimo ou Estado máximo, é o Estado necessário para servir às pessoas”, afirmou na quarta-feira.

Para isso, a ideia da pré-campanha é exibir um time econômico robusto, com agentes do mercado. Houve também articulações com representantes das mais diversas áreas. Entre fevereiro e abril, a senadora conversou com nomes como Ricardo Paes de Barros, Beto Veríssimo, Edmar Bacha, Pérsio Arida, Armínio Fraga, José Roberto Mendonça de Barros, Carlos Ari Sundfeld, Ilona Szabó, entre outros.

“Simone participa das reuniões, que chama de imersões”, afirmou Elena Landau, coordenadora do plano econômico. As pessoas ouvidas não estão vinculadas à pré-campanha, mas contribuíram em debates de propostas de sua área. “Como a terceira via não é mais terceira, é a Simone, o grupo vai engrossar. Temos um grupo muito grande de pessoas com espírito público, todas querendo um projeto de centro-liberal”, disse.

Resgate

O plano tem o objetivo de resgatar iniciativas já em andamento no Congresso, para, se eleita, Simone acelerar a implementação de projetos. Um dos eixos centrais do futuro programa da senadora é o texto da Lei de Responsabilidade Social, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB), um dos nomes cotados para figurar como vice na chapa.

O projeto prevê reformulação dos programas sociais, metas para a queda da taxa geral de pobreza e cria uma poupança para famílias vulneráveis. “Simone tem ênfase no programa social, que é o combate à pobreza e à miséria. O Auxílio Brasil tirou a qualidade dos programas de transferência de renda”, afirmou Elena.

Projetos que atendam as mulheres terão destaque na agenda de Simone. O foco no eleitorado feminino também vem recebendo atenção de outros candidatos. Nas campanhas de Bolsonaro e de Lula, as mulheres dos pré-candidatos têm ganhado protagonismo.

Estratégia

Aliados da senadora temem que a publicação de um programa de governo acabe se tornando um teto de vidro. A ideia, portanto, é apresentá-lo, de forma informal, em esferas de debates para as quais Simone for convidada.

Rigotto disse que vai se encontrar com Rodrigo Maia (PSDB), que era coordenador da pré-campanha de Doria, tão logo o PSDB anuncie apoio a Simone, o que pode ocorrer nesta semana. A reunião com Maia vai tratar do plano econômico e deverão ser iniciadas conversas entre o ex-ministro e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles e a economista Elena Landau.

O MDB e o PSDB precisam ainda chegar ao entendimento político. Os tucanos querem apoio em palanques estaduais, como no Rio Grande do Sul, para onde Simone deve viajar na segunda metade desta semana para tratar do imbróglio.

Presidente do Cidadania, partido com o qual o PSDB formou uma federação, Roberto Freire está otimista. “Quando houver a decisão do PSDB, haverá um processo de integração de seus filiados e seus colaboradores, inclusive todos trabalhando para construir um programa comum. “Teremos facilidade do ponto de vista econômico de termos um programa comum, elaborado com certa tranquilidade”, afirmou.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.