Três fatores têm sido determinantes na formação do preço das commodities: estoques, mercado e clima. Pois bem, para 2008, a conjunção destes três pilares anuncia um ano de bons preços. Os estoques mundiais estão em baixa, a demanda de grãos para biocombustível é crescente e ainda há o fator clima. Na Austrália, por exemplo, a seca repercutiu na quebra da safra de trigo. Conseqüentemente, o cereal está com os menores estoques dos últimos 30 anos, o que fez a cotação do bushel (saca de 28 quilos) sair da média histórica de US$ 3 para US$ 10 no final do ano passado. No Brasil, a estiagem nos meses de setembro e outubro pode ter implicações na lavoura cafeeira, principalmente porque o ciclo 2008/2009 é de safra cheia. Segundo especialistas, a quebra da produção pode ultrapassar 10%. No entanto, os cafeicultores estão analisando a formação dos frutos neste início de ano para ter uma noção mais exata das perdas. Mas uma coisa é certa: a previsão inicial de uma safra recorde de 50 milhões de sacas não se confirmará. “Estamos trabalhando com um cenário de 44 milhões de sacas”, diz Jacqueline Bierhals, analista de mercado da consultoria Agra FNP.

BONANÇA À VISTA: “Agricultores terão três anos prósperos”, diz Galvão

O bom sinal para o setor cafeeiro é o aumento do consumo, que cresce a passos mais largos que a produção. Estudos mostram que essa tendência deve se manter até 2009/2010. Só para se ter uma idéia, dados da Organização Internacional do Café (OIC) apontam que na safra 2007/2008 foram produzidos 144 milhões de sacas de café no mundo, sendo que 121 milhões foram consumidos. Neste início do ano, bem provavelmente o preço da commodity tenha uma leve baixa, isso em função da revisão da safra 2007/2008 feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no final de dezembro. O número inicialmente divulgado era de 32 milhões de sacas para o período, mas foi revisado para 33,7 milhões. “Para 2008, acredito que vamos ter o mesmo patamar de preços de 2007, algo em torno de R$ 250 a R$ 260 por saca”, diz Jacqueline, explicando que estes valores estão vinculados ao desempenho da lavoura a ser confirmado nestes dias.

EFEITO ESTIAGEM NO TRIGO: a seca afetou os preços mundiais e a commodity chegou a US$ 10 o bushel

No caso da dobradinha soja e milho, os horizontes de 2008 são ainda mais promissores. Por conta do mercado energético, os agricultores norte-americanos deixaram de plantar soja para plantar milho. O resultado foi uma redução de 15% na área da oleaginosa no país e conseqüentemente um encolhimento nos estoques. Na safra 2006/2007, as reservas mundiais eram de 61,1 milhões de toneladas, mas caíram para 47,3 milhões em 2007/2008. No mesmo período, as reserva yankees passaram de 15,6 milhões de toneladas para 5 milhões. “E a perspectiva é de que os estoques continuem baixando, pois os EUA reduziram muito a área das lavouras de soja e o Brasil não cresceu na mesma proporção”, comenta Fábio Turquino Barros, especialista em grãos da Agra FNP. Sua projeção para a commodity neste ano é de preços superiores ao valor histórico de US$ 11 o bushel, registrado em 2004. “Podemos ultrapassar os US$ 12”, comenta. A aposta de Barros vem ao encontro do relatório do banco de investimento Goldman Sachs, que divulgou uma projeção de US$ 14 por bushel. Para Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres, apesar da expectativa de uma safra de soja recorde no Brasil, os preços devem se manter em um patamar histórico. No entanto, ele frisa que esta linha-base já não é a mesma do passado, em função da Anderalta do petróleo, e conseqüentemente dos preços dos fertilizantes. “Os preços estão em uma fase de transição”, diz. Este movimento explica o que o mundo vem chamando de agroinflação, ou seja, a alta no preço das commodites que resulta no encarecimento dos alimentos na gôndola dos supermercados.

Quanto ao milho, os produtores brasileiros vivem o seu melhor momento. A conversão dos milharais norte-americano – antes voltados à alimentação, agora destinados ao biocombustível – gerou uma lacuna no mercado. Hoje, o cereal está em falta no mundo. “Isso é bom para o Brasil, pois, além da demanda interna do cereal para a produção de carnes, o País passa a exportar e a ter um papel fundamental na formação dos preços internacionais”, explica Galvão. Além disso, os estoques em baixa (na campanha 1998/1999, as reservas eram de 190 milhões de toneladas, hoje são de 109 milhões) puxam os preços para cima. O bushel está na casa dos US$ 3,5 contra uma média histórica de US$ 2,5. Neste cenário, apesar do câmbio desfavorável, as perspectivas são positivas. “Penso que teremos pelo menos três anos de bonança”, finaliza Galvão.