O Brasil caiu 20 posições no ranking de logística do banco Mundial (bird), passando a ocupar o 65o lugar entre 160 países. divulgado no mês passado, o levantamento que mede a eficiência do transporte em todos os setores da economia global é mais uma constatação das condições de infraestrutura que penaliza o produtor rural há décadas.

No entanto, as exportações brasileiras de soja seguem aceleradas nos portos, sem tempo para contestações ou lamentos. Na verdade, o tempo é de investimento para acompanhar o crescimento dos embarques ao exterior da oleaginosa, principal item de exportação do agronegócio do País que não para de crescer. No primeiro bimestre deste ano, as vendas externas do grão, cuja produção deverá bater em 85 milhões de toneladas, já chegaram a 4,33 milhões de toneladas. Esse montante é equivalente a 88% das exportações de soja que deixaram os terminais portuários brasileiros, especialmente o porto de Paranaguá. Por essa rota saíram dois milhões de toneladas e, pelo porto de Santos, no litoral paulista, 1,3 milhão de toneladas. Nestes primeiros meses do ano, além de novas regras operacionais implantadas nos dois terminais, para reduzir as filas de caminhões e o tempo de espera dos navios, empresas privadas como a baiana Odebrecht e a francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC) anunciaram investimentos pesados no setor. A IDC replicou a aposta e anunciou na última semana de março a formação de uma nova empresa de logística, em parceria com três potências do agronegócio brasileiro, a Bunge, a Cargill e a Amaggi, que investirão R$ 15 bilhões em ferrovias nos próximos anos.

De acordo com Natalia Orlovicin, do departamento de inteligência de mercado da consultora FCStone, de Campinas (SP), o maior gargalo logístico brasileiro está na maneira como a soja chega aos portos. “A falta de armazéns e o modal rodoviário precário provocam filas nos terminais portuários”, diz Natalia. “Há também problemas de infraestrutura dentro dos portos, mas investimentos vêm sendo feitos, e sempre conseguimos exportar.” Natália chegou a essa conclusão após comparar os volumes de soja embarcados mensalmente pelo brasil e pelos estados unidos, bem como as condições logísticas dos dois países. “O ritmo de embarque das exportações se dá de maneira muito semelhante”, diz natália. Nos últimos três anos, o maior volume mensal exportado pelos estados unidos foi pouco mais de oito milhões de toneladas, em novembro de 2012. A mesma dinâmica ocorre no Brasil. “Historicamente, o maior nível mensal escoado pelos portos brasileiros ficou próximo aos oito milhões de toneladas, tendo sido alcançado em maio de 2013.” Um dos principais pontos a ser considerados na avaliação da eficiência logística dos dois países diz respeito à capacidade de armazenagem, especialmente àquela instalada nas fazendas. Em Iowa, principal estado produtor de soja dos Estados Unidos, a maior parte dos agricultores possui estrutura de silos metálicos, o que ocorre raramente nas propriedades brasileiras. A capacidade nacional de armazenagem é de 143,2 milhões de toneladas, sendo 15% instalados do lado de dentro da porteira. e, nos Estados Unidos, chega a 552,3 milhões de toneladas, um pouco mais da metade nas próprias fazendas. Ao contrário do Brasil, o principal modal utilizado pelos americanos é o hidroviário, reforçado por estradas e ferrovias mais estruturadas e utilizadas como auxiliares no sistema logístico. “Isso representa um custo de apenas um terço do custo brasileiro”, diz Natália. O custo do transporte de soja de Sorriso (MT) ao porto de Santos, por exemplo, é de US$ 293,75 por tonelada. De Minneapolis, em Minnesota, até a Costa do Golfo americano, a tonelada chega por apenas uS$ 94. Mas, mesmo assim, as exportações de grãos têm levado o produtor rural brasileiro a produzir cada vez mais. Tanto que a associação brasileira das indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que ainda serão exportados neste ano mais 44 milhões de toneladas de soja. Esse volume estabelece um novo recorde de vendas da oleaginosa ao exterior.

É de olho no potencial de crescimento das exportações de grãos que a Odebrecht Transport, braço de infraestrutura do grupo Odebrecht, está investindo R$ 1 bilhão na construção de armazéns agrícolas, em uma estação de transbordo de carga em Miritituba, às margens do rio Tapajós, e também em um terminal no porto de Vila do Conde, em barcarena (PA). A estimativa é de que, nos próximos anos, o setor privado ligado ao agronegócio invista R$ 2,5 bilhões apenas em terminais, barcaças e empurradores para o transporte no rio Tapajós, cujo potencial de escoamento é de 40 milhões de toneladas de grãos do Centro-oeste, por ano, até 2020. Por sua vez, a Louis Dreyfus, que produz, transporta, armazena e comercializa produtos agrícolas, com operações nos mercados de açúcar, algodão, arroz, café, fertilizantes, insumos, grãos e sucos cítricos, planeja investir R$ 2,3 bilhões nos próximos cinco anos. Segundo Adrian Isman, presidente da empresa francesa no brasil, o investimento engloba, principalmente, a ampliação da capacidade de exportação de grãos pelos portos do norte do País. “Vamos investir em logística cerca de R$ 460 milhões por ano”, diz Isman. “Outros investimentos serão feitos de acordo com oportunidades identificadas por nós, nos próximos cinco anos.” Ainda de acordo com Isman, em junho deste ano, entra em operação o terminal graneleiro construído no porto de Itaqui, no Maranhão, em parceria com a Mato-Grossense Amaggi Exportação, do Grupo André Maggi. Na primeira fase, o terminal terá capacidade para movimentar 1,25 milhão de toneladas de grãos, por ano, até a segunda fase, que deve ser concluída daqui a três anos. Com a inauguração do terminal, a capacidade passará a 2,5 milhões de toneladas. “em 2013, nossas operações representaram mais de 10% do embarque brasileiro de grãos e oleaginosas”, diz o presidente da companhia. “A expectativa é de que esse volume cresça em 2014.” desde 2002, a IDC transporta soja por barcaças na hidrovia Tietê-Paraná. Até o ano passado, a companhia movimentava 800 mil toneladas por ano por esse modal. Neste ano, com a compra de ativos, como barcaças e atracadores, passará a transportar 1,2 milhão de toneladas de grãos pela Tietê-Paraná.

No interior dos terminais, entre as medidas do governo federal que estão em andamento para mitigar as filas nos portos, figura o porto de Paranaguá, que terá a capacidade do pátio central de triagem dobrada para 2,2 mil vagas de caminhões, segundo José Rocher, um dos membros da Expedição Safra. Que está visitando desde o mês passado os portos do País. “Nesta época do ano, Paranaguá recebe 1,5 mil caminhões por dia, mas o número passa de 2,7 mil nos meses de pico”, diz Rocher. Para manter a mesma taxa de participação nas exportações registradas em 2013, que foi de 37,5%, os administradores portuários do Sul adotaram medidas como a ampliação de pátios para caminhões, o compartilhamento de cargas nos terminais e a construção de novos armazéns. “Os agentes portuários estão confiantes de que não haverá caos nas exportações de soja e milho neste ano”, diz Rocher. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Esalq/USP, o País deve exportar 20 milhões de toneladas de milho, dos 75,1 milhões de toneladas que devem ser colhidas. O Programa de Investimento em Logística, do governo federal, lançado em agosto de 2012, estima um investimento de R$ 54,6 bilhões nos portos do País, nos próximos cinco anos.