T rinta anos depois da primeira edição da novela ‘Pantanal’, o ator e empresário Marcos Palmeira voltará à região pantaneira para regravar a trama, que deverá ser transmitida a partir do ano que vem em TV aberta. Com um olhar mais maduro e no papel do protagonista Zé Leôncio (vivido por Cláudio Marzo na época), Palmeira traz agora uma nova bagagem, já que ele mesmo virou um homem do campo. Uma história que começou em 1997, quando comprou uma propriedade rural e deu início à produção de alimentos orgânicos. Se a experiência que trará para o personagem como fazendeiro é mais recente, a ligação com o meio ambiente, não. Ainda adolescente, Palmeira, que hoje está com 57 anos, teve a oportunidade de viver em meio aos índios Xavantes, na aldeia São Marcos, no Mato Grosso. “Essa, talvez, tenha sido a principal virada da minha vida, a que me trouxe toda essa consciência de que nós não somos nada e que, como indivíduos, dependemos do coletivo e da empatia”, disse à DINHEIRO RURAL.

Durante a pandemia os pedidos on-line da fazenda saltaram 20%

“Quando você começa a se aprofundar e percebe que o alimento que come está contaminado por agrotóxico, descobre o mundo dos orgânicos” Marcos Palmeira Ator

Conectado à agenda sustentável desde jovem, o ator sempre quis ter um sítio. Há cerca de 20 anos, encontrou uma propriedade que, segundo ele, “cabia no seu bolso na época”. Nascia a fazenda Vale das Palmeiras Orgânicos, localizada em uma região bucólica que liga Teresópolis a Friburgo, no Rio de Janeiro. Por lá, já havia famílias cultivando o solo, mas que não se alimentavam com sua própria colheita em razão do uso excessivo de agroquímicos. É uma realidade que representa parte da agricultura familiar do Brasil que, sem orientação nem tecnologia, usa químicos de maneira pouco responsável para saúde das pessoas e meio ambiente.

A partir do cenário encontrado e com interesse em manter o cultivo de alimentos, o agora produtor ‘certificou’ sua cabeça com o olhar agroecológico e iniciou um processo de limpeza do solo, dando origem à produção e comercialização de produtos livres de qualquer substância química. Ele confessa que sempre teve uma preocupação em se alimentar de forma saudável, mas adquiriu real consciência desse conceito após mudar o estilo de vida e se aproximar do campo. “Quando você começa a se aprofundar e percebe que o alimento que come está contaminado por agrotóxico, descobre o mundo dos orgânicos”, afirmou. Foi então que o ator entendeu que não bastava ser só natural. “Eu como de tudo de forma equilibrada, mas procuro sempre alimentos que venham da agricultura familiar.”

A fazenda de 220 hectares se dedica a laticínios (60% da produção) e hortaliças; café, obtido por meio de uma parceria com um produtor no Espírito Santo; mel, fabricado em conjunto com um grupo do Paraná; além de chocolate, produzido com sua família a partir do cultivo das amêndoas de cacau.

Divulgação

Apesar de considerar a logística um dos principais desafios do pequeno produtor, uma vez que o transporte a um custo mais baixo ainda é um obstáculo, Palmeira acompanhou o salto de pedidos on-line da fazenda em 20% durante a pandemia. “Houve um aumento grande na procura pelos orgânicos, porque as pessoas estão muito mais ligadas às questões de saúde”, afirmou.

Sob a ótica de empresário do segmento que está em contato direto com o agricultor familiar, Palmeira ainda enxerga a burocracia e a ausência de retorno dos impostos pagos como obstáculos para empreender na área. “Falta uma política pública mais clara para o pequeno produtor”, disse. Os planos agora passam por ganhar eficiência na fazenda por meio do incremento da agrofloresta dentro da pecuária, a chamada pecuária regenerativa. “O que eu posso fazer hoje para melhorar minha empresa e a minha relação com meus funcionários é investir em produtividade de alguma maneira que eles mesmos se beneficiem disso, fazendo a economia circular”, afirmou. Para trocar informações e entender mais sobre esse mundo, Palmeira ainda encontra tempo para atuar como conselheiro do Instituto Brasil Orgânico, que conta com a participação de professores, agrônomos, veterinários, biólogos, chefs de cozinha, além, é claro, de produtores e consumidores. E, assim, vai roteirizando mais um capítulo na história do agro nacional.

Divulgação

A Farra dos agroquímicos

Enquanto cresce a demanda por uma agricultura mais orgânica entre consumidores domésticos e internacionais, o governo de Jair Bolsonaro acumula recordes de aprovação de agroquímicos. Em 2020, 493 novos produtos foram aprovados. Em 2019, haviam sido 474. Neste ano, já foram outros 106 produtos. Em uma perspectiva mais ampla, quase um terço dos mais de 3 mil produtos químicos para o agro comercializados no Brasil foram aprovados no atual governo. A demanda por fertilizantes químicos e minerais no Brasil também foi recorde, com 39,5 milhões de toneladas. Destes, 87% foram importados. Para este ano, a expectativa para o mercado de agroquímicos em geral é de crescimento de 10% na receita. Com uma cultura tropical como a do Brasil o uso de químicos é necessário, mas com tecnologia e informação é possível um uso mais responsável e salutar, o que faria bem para quem produz, compra e para quem come.