As raças chamadas de compostas ou sintéticas apareceram no cenário da pecuária há poucas décadas, pelo cruzamento de duas raças puras, geralmente centenárias nos trabalhos de melhoramento genético. As compostas, uma terceira raça formada por zebuínos e taurinos, conquistaram principalmente os criadores do Centro-Oeste do País, por unir dois predicados: adaptação ao clima tropical e carne de qualidade. Ícone de várias gerações do setor, e ainda em atividade, o criador gaúcho Eduardo Macedo Linhares, aos 84 anos, diz que seu trabalho como selecionador de gado está ainda no começo. “E quando penso em começo, penso na juventude.” Dono da Gap Genética, em Uruguaiana (RS), Linhares foi o vencedor na categoria Genética de Raças Compostas no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL.

Como pecuarista, Linhares sempre apostou no que via pela frente. E quase sempre conseguiu enxergar mais além do que os olhos comuns alcançavam. Na década de 1980, por exemplo, confiou a um jovem zootecnista, Luiz Alberto Fries, todo o trabalho de seleção genética de sua fazenda. Nos anos seguintes, Fries, que morreu em 2007, aos 56 anos, se tornou um dos principais geneticistas do País. “Acreditar nos jovens permitiu a longevidade de uma criação iniciada nos primeiros anos do século 20, herdada por mim e que deve perdurar por outras centenas de anos nas mãos da geração que está chegando para tomar conta da pecuária”, diz Linhares, cujo pai, João Vieira de Macedo, começou a criar gado na região da fronteira gaúcha em 1906.

Atualmente, o rebanho da Gap Genética possui 7 mil fêmeas das raças puras angus e hereford e de suas compostas, brangus e braford. Linhares, um apaixonado pelas raças taurinas, diz que o mercado atual de genética está para as compostas. “Elas são o passaporte para levar sangue britânico ao Brasil Central”, diz. “São uma alternativa de animais adaptados e produtivos para uma pecuária que precisa ser mais eficiente.”

O princípio do trabalho de seleção da Gap é a aposta em testar animais jovens. “Pode-se descobrir um grande reprodutor logo aos dois anos”, diz Linhares. Mas, para ele, isso não pode ser feito às cegas, como pregam os geneticistas. “Sem se basear nos índices zootécnicos dos programas de melhoramento, não há futuro”, afirma. Na Gap Genética, apenas 10% dos animais nascidos seguem em frente, como melhoradores de rebanho. Os demais viram churrasco. “É assim que se faz animais de qualidade e pecuária cada vez mais produtiva”, diz Linhares.