INDISPENSÁVEL: aonde quer que vá, Illy leva a colherzinha de prata para degustar a bebida

Ele se considera praticamente um brasileiro. Já recebeu título de cidadão de três cidades mineiras: Monte Carmelo, Viçosas e Araponga. Além disso, acha o jeitinho nacional muito parecido com o italiano. “As pessoas estão sempre com um sorriso no rosto, são otimistas”, diz Ernesto Illy, presidente honorário da Illycaffè, conhecido mundialmente como embaixador da bebida. O fato é que Dr. Illy, como é chamado, tem uma história que se confunde com a do grão. Tanto que não consegue falar da vida pessoal sem associá-la à bebida. Não é para menos. Dos 82 anos de idade, 60 foram dedicados ao café. A incursão neste mundo de aromas se deu em 1947, quando Illy começou a atuar na empresa do pai.

Ele viajava pela Europa, convencendo os donos de estabelecimentos a comprar seu produto. Como? Simples, pedia licença e preparava seu café. Na verdade, preparava dois cafés: um com seu material, outro com a matéria-prima do local. Depois, servia aos clientes e perguntava: “Qual xícara você gostou mais?” Seu produto sempre era o escolhido. Em 1956, com a morte do pai, assumiu a companhia e empreendeu a sua marca, o constante investimento em pesquisa. Químico, com doutorado em biologia molecular, ele construiu cinco laboratórios na sede da Illycaffè, em Trieste, na Itália. Tudo para produzir a melhor bebida. “Nosso café é sempre o mesmo: mesmo blend, mesmo aroma, mesmo sabor, tanto aqui quanto no Cazaquistão”, salienta. Isso graças à tecnologia, afinal café é como vinho, cada safra tem suas características.

O maior desafio de sua trajetória foi introduzir o café nos EUA. Era década de 80 e uma pesquisa dizia que o espresso não seria aceito pelos norte-americanos. Mas os números não desanimaram o italiano. Seu comentário na época foi: “Não acredito em pesquisas, acredito no meu produto.” E deu certo. Hoje, o consumo de café Illy em território norte-americano é de 1,2 mil toneladas/ano. A empresa está presente em 140 nações e compra a matéria-prima de 20 países. O Brasil é o principal fornecedor, responde por 60% dos grãos arábica. Por isso Dr. Illy perdeu a conta de quantas vezes veio para cá. Ele faz questão de acompanhar os prêmios de qualidade de café e visitar as fazendas dos produtores parceiros. Segundo ele, o segredo de uma boa bebida está na lavoura. “Não fidelizamos clientes, fidelizamos fornecedores”, diz. Dos clientes, o que ele espera são sorrisos, que comprovem a satisfação de tomar um café de alta qualidade.

“Nosso café é sempre o mesmo tanto aqui como no Cazaquistão”

Para quem deseja saber o segredo do vigor aos 82 anos, Dr. Illy dá as dicas: “Comer pouco, tomar cinco xícaras de café por dia e uma taça de vinho.” Além disso, não descarta o contato com a natureza. “Em junho ninguém me acha”, conta. É o mês que ele se dedica a velejar. A paixão pelo esporte se reflete no jeito de ser do italiano. Mesmo vestido de traje social, ele não dispensa o relógio esportivo e, se possível, substitui o sapato por tênis. Outro item imprescindível no seu vestuário é a colherzinha de prata, que usa para a degustação de café e a carrega para todo lugar. Poliglota, amante de livros, Dr. Illy é polêmico quando o assunto é televisão. “Não tenho tevê em casa; penso que o passado não se pode mudar e me dedico ao futuro”, diz.

por Lívia Andrade