O produtor rural sabe que trabalhar com a terra envolve riscos. Adversidades climáticas e outras ameaças podem comprometer a colheita. Para não ficar à mercê da sorte e garantir o rendimento, o produtor Getúlio Ferreira Junior, dono de um cultivo de seringueiras de 32 hectares, em Macaúba (SP), conta com um seguro florestal desde 2009. “O investimento na floresta é alto e o retorno é de longo prazo, por isso não abro mão do seguro”, afirma Ferreira Junior. A implantação de um seringal custa, em média, R$ 23 mil por hectare e, só a partir do sétimo ano, o produtor começa a recuperar seu investimento. “Quanto menor o risco, melhor”, diz o produtor.

A floresta implantada por ele em 2007 abriga 15 mil árvores, que produziram 60 toneladas de borracha no ano passado. E a apólice contratada da Allianz, uma das líderes do mercado de seguros, oferece cobertura contra incêndios, raios, chuva excessiva, ventos fortes, granizo, geada, seca e inundação. O seguro da Allianz atende todo tipo de floresta comercial, como plantações de seringueira, paricá, acácia, pínus e eucalipto. “Muita gente está entrando no setor de florestas”, diz Ferreira Junior. “O seguro é fundamental, principalmente para o produtor iniciante.”

Mas Ferreira Junior ainda é uma exceção entre os produtores de florestas comerciais, essencialmente de pínus e eucalipto, destinados à indústria de móveis, papel e celulose. O setor, que no ano passado faturou cerca de R$ 56 bilhões, praticamente desconhece o seguro florestal. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), as florestas comerciais brasileiras ocupam cerca de 6,6 milhões de hectares. No entanto, a área coberta por seguros é ínfima. A BB Mapfre, líder desse mercado, com a comercialização de 51% dos seguros florestais, fechou o ano de 2012 com 100 apólices, para proteger 130 mil hectares. A Allianz, que fica com 27% desse segmento, segurou apenas 73 mil hectares.

É exatamente esse cenário, a falta de florestas seguradas, que está chamando a atenção das empresas de seguros, que começam a apostar nesse nicho. “É um mercado promissor, com um grande potencial de crescimento da carteira”, diz Luiz Carlos Meleiro, superintendente de agronegócios da Allianz. Para ele, os seguros florestais ainda são muito recentes no Brasil, o que explica a baixa adesão até agora. Mas a situação passou a mudar nos últimos tempos, por conta da entrada de novos personagens no setor florestal. “Nos últimos anos, investidores estrangeiros começaram a comprar florestas no Brasil e a disseminar a importância do seguro”, diz. “É uma cultura que está mudando.”

Segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep), oito corretoras atuam nesse segmento. Em 2012, elas tiveram uma arrecadação total de prêmio direto de R$ 9,5 milhões. Já neste ano, entre janeiro e agosto, a arrecadação com o seguro florestal foi de R$ 8,8 milhões, ante R$ 5,2 milhões no mesmo período do ano anterior. “O seguro florestal será cada vez mais valorizado”, diz Meleiro. “Por isso, precisamos investir em tecnologia e oferecer novas coberturas.”

A BB Mapfre deve ajudar na popularização desse tipo de contrato financeiro. A seguradora, uma parceria entre o Banco do Brasil e a espanhola Mapfre, lançou, em outubro, um produto específico para agricultores atendidos pelo Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC). Batizado de “Floresta ABC”, esse seguro personalizado poderá ser contratado por produtores que firmaram contratos de linha de crédito do Programa ABC desde a safra 2010/2011, oriundos de qualquer instituição bancária. “É um produto específico, que vai incentivar o desenvolvimento das culturas florestais”, diz Marcelo Labuto, presidente da BB Seguridade.

Em caso de sinistro, a indenização é determinada sobre os custos da plantação e da manutenção da floresta ou pelo seu valor comercial.  “Vamos oferecer taxas diferenciadas, para motivar os produtores a contratar esse tipo de operação”, diz Labuto. “Acredito que o preço médio será 15% inferior ao valor do seguro tradicional.”

Apesar dos esforços das seguradoras, as apólices precisam evoluir. Segundo Luiz Cornacchioni, diretor executivo da Abraf, o seguro florestal ainda é caro, por isso é uma realidade distante da maioria dos produtores. “Esse mercado tem chances de crescer, mas, para isso, precisa oferecer um seguro florestal com tempo de carência e taxas mais adequadas à cultura.” Ele dá como exemplo de risco o fogo, mas diz que o produtor consegue minimizar o problema, com monitoramento e brigada própria. “Por isso, nem sempre o seguro vale a pena.”

Esse é o caso da Melhoramentos Florestal, que possui 18 mil hectares de florestas de pínus e eucalipto, em São Paulo e Minas Gerais. No ano passado, a empresa produziu cerca de 280 mil metros cúbicos de madeira. Segundo o gerente florestal e de suprimentos, Denivaldo Camargo, a empresa não tem interesse em contratar um seguro. “Nosso risco é muito baixo”, diz.

A empresa possui brigada própria, com quatro caminhões-pipa e uma equipe de 40 colaboradores treinados para combater o fogo. “Não registramos perdas, então o seguro seria um gasto adicional desnecessário”, diz o gerente. “E, quando há alguma perda pontual, reaproveitamos a madeira como biomassa para a geração de energia.”

Para o produtor que não tem uma estrutura como a da Melhoramentos, o seguro florestal é essencial para minimizar os riscos das intempéries. Além disso, segundo Meleiro, essa proteção pode ser uma aliada na hora de conquistar um financiamento. “O banco oferece crédito com mais facilidade para um produtor segurado”, diz. “O seguro funciona como um investimento de proteção do crédito.”