Quando Elis Regina cantava “eu quero uma casa no campo”, traduzia na música o desejo de muita gente. A diferença é que a música interpretada pela “Pimentinha”, como era mais conhecida a cantora gaúcha, se refere a um lugar singelo e modesto, o oposto do luxuoso haras Larissa, uma propriedade de quase 500 hectares em Monte Mor, cidade a 120 quilômetros de São Paulo. O lugar é ideal até para a realeza. No ano passado, quando o príncipe Harry, neto da rainha da Inglaterra, esteve no Brasil, foi nesse haras que montou num cavalo para disputar uma partida de polo. “O haras era um sonho do Geraldo que se tornou realidade”, diz Eny de Vasconcelos Bordon, viúva do empresário Geraldo Bordon, morto em 2003, dono da propriedade.

Entre as décadas de 1960 e 1980, Bordon foi o maior exportador de carne bovina do Brasil, detentor de marcas como a Swift, atualmente parte do portfólio do grupo JBS (no ano passado, uma pesquisa da consultoria BrandAnalitcs, de São Paulo, mostrou a marca como uma das 50 mais valiosas do Brasil, estimada em US$ 217 milhões). O empresário também criava gado de elite da raça nelore mocho e gado para engorda. Bordon chegou a ter um rebanho de 145 mil animais, em nove fazendas. Além disso, era um apaixonado por cavalos. “Por isso, cada canto do haras sempre foi especial para nós”, diz Eny.

O haras construído na década de 1980, e que faz parte da fazenda Santo Antônio, tem passado por uma transformação profunda nos últimos anos. Os cinco herdeiros de Bordon, os filhos João Geraldo, Gioconda, Mariangela, Maria Eny e Maria Clara, fizeram uma parceria com três empresários do ramo imobiliário: Álvaro Coelho da Fonseca, da Coelho da Fonseca, Marco Malzoni, da Cap Empreendimentos, e Antonio Carlos Camanho, da Setimob Investimentos. Nela, os herdeiros permaneceram com parte do haras, e os parceiros estão transformando toda a área da fazenda em um bilionário empreendimento imobiliário. “Foi o melhor caminho que encontramos para continuar com a propriedade, e ao mesmo tempo rentabilizá-la”, afirma João Geraldo. Gioconda diz que o pai tinha o haras como um ponto de encontro de toda a família. “Para reunir os filhos, netos e amigos”, diz. “Não queremos perder esse vínculo.”

Quem quiser se juntar aos Bordon para ter sua própria casa de campo, e estiver disposto a pagar R$ 460 por metro quadrado – preço equivalente a R$ 4,6 milhões por hectare –, pode comprar terrenos entre 1,5 mil e quatro mil metros quadrados. Mas o processo de transformação do haras não começou com a parceria imobiliária.

Desde 2009, o haras é uma mescla de fazenda, residência familiar e pousada com 17 quartos, sete quadras de tênis, spa, centro de hipismo e campo de polo. “Cada canto da sede foi pensado por nós”, diz Eny. A casa foi projetada pelo amigo de Bordon, o arquiteto Marcos Tomanik, um dos mais renomados profissionais do País. A obra só foi finalizada em 1983, depois de quase uma década de construção. “Eu mesma arborizei o haras”, afirma Eny. “Cheguei a plantar mais de 15 mil mudas de árvores e arbustos.” Em 2009, a pousada foi a primeira do País a ser incluída na lista da rede internacional Small Luxury Hotels of the World, de Nova York, que avalia cerca de 500 hotéis diferenciados e de luxo, em 70 países. Hoje no País, além do haras Larissa, apenas o hotel Toriba, em Campos do Jordão (SP), faz parte da lista.

Nos últimos três anos, para sustentar o projeto imobiliário, a infraestrutura foi ampliada com a construção de um complexo hípico com pistas gramada e de areia, arena coberta, andador para oito cavalos, 98 cocheiras e maternidade. Até o fim de 2013, estarão prontas as primeiras 60 casas de campo, dos 212 lotes da primeira fase do projeto oferecidos ao mercado. Desse total, 80% já foram vendidos. Em breve, será lançada a segunda fase com mais lotes, campo de golfe e helipontos.

A ideia de mudar a cara do haras Larissa foi de João Geraldo. “A família chegou a um consenso e começamos”, diz. “Para Gioconda, o importante é que o haras permaneça como um lugar para boas histórias. “Vi muitos nascimentos de cavalos neste haras e vi, também, meus filhos aprenderem a cavalgar.” João Geraldo, que hoje tem 54 anos, conta que frequentemente acompanhava o pai na rotina de criação e corridas. “Meu pai ganhava mais de 50 corridas por ano e chegou a mais de mil prêmios”, diz João Geraldo.

Foi na década de 1970, época em que era um frequentador assíduo do Jockey Club de São Paulo, que Bordon se tornou criador de cavalos puro-sangue inglês (PSI). Para manter o legado do pai, os herdeiros deram seu nome ao centro hípico do haras, hoje um local de disputadas provas. Em setembro do ano passado, no Concurso de Salto Internacional Haras Larissa, o cavaleiro carioca Rodrigo Marinho, montando Cleofas van Westuur, ficou em primeiro lugar no GP World Cup Qualifier. O GP foi a terceira etapa de um total de seis, para classificar dois cavaleiros da Liga Sul-Americana que disputarão a final da Copa do Mundo de Saltos em abril, em Gotemburgo, na Suécia.