O prato principal na mesa de 1,3 bilhão de chineses é o arroz. Com tantas bocas para alimentar, a China consome 140 milhões de toneladas do cereal por ano. O volume é equivalente a 107 quilos per capita, contra 160 quilos consumidos na década de 1970, período em que a população do país ainda era inferior a um bilhão de habitantes. Com o crescimento da população, mesmo com o atual cultivo de 200 milhões de toneladas do cereal, a produção interna de 2012 não foi suficiente para suprir a demanda interna e manter os estoques regulares chineses.

No ano passado, a China aumentou em mais de quatro vezes as importações do cereal, segundo o relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda, na sigla em inglês). O país comprou 2,6 milhões de toneladas de arroz, ante 575 mil toneladas adquiridas em 2011. O governo da China não divulga qual é o seu real estoque de segurança, mas estimativas do Usda apontavam que no fim do ano passado era de cerca de 94 milhões de toneladas. Mas para junho, no final da safra, a previsão é de que esse estoque caia para 46 milhões de toneladas, volume equivalente ao consumo de quatro meses.

Para a US Grains Council (USGC), agência privada para a promoção das exportações de grãos dos EUA , com sede em Washington, há um outro elemento no cenário chinês, além do aumento do  consumo do arroz. Os agricultores na China estão optando pelo cultivo do milho, hoje uma commodity mais rentável. No mercado internacional, uma tonelada de arroz era cotada a US$ 250 no ano passado. O milho, que atravessou um período tenso e especulativo em função da quebra da safra americana, causada pela forte estiagem que assolou o país, chegou a ser cotado a cerca de US$ 350 a tonelada, na Bolsa de Chicago. “Mudanças dramáticas na produção desse cereal estão ocorrendo em todo o mundo”, diz Kevin Roepke, gerente da USGC para o comércio global. “Hoje, o produtor está mais posicionado para tirar vantagem do crescente consumo global do milho.” A produção chinesa de milho, em 2012, foi de 208 milhões de toneladas, oito milhões a mais do que era previsto no início da safra. Em função do quadro mais propício ao milho e dos baixos estoques de arroz, o Usda prevê que o mercado chinês permanecerá aquecido também neste ano e no próximo para o principal ingrediente que compõe o prato chinês. No mercado interno desse país, por falta do produto em algumas regiões, houve picos de até US$ 600 a tonelada no ano passado. A pergunta é: quais países podem entrar na disputa para abastecer a China de arroz nos próximos anos? Claudio Pereira, presidente do Instituto Rio-grandense de Arroz (Irga), em Porto Alegre, diz que o Brasil está fora do páreo. “Ainda não temos pernas para essa corrida.”

O Brasil, maior produtor mundial fora da Ásia, colheu na safra 2011/2012 o equivalente a 13,2 milhões de toneladas de arroz e deve chegar a 15,2 milhões de toneladas, até a safra 2021/2022. O consumo interno deve passar dos atuais 13 milhões de toneladas para 14 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Na ponta do lápis, a margem de sobra do cereal para exportação é muito estreita no País. “Além disso, o problema entre Brasil e China, mais do que a distância, é o tipo de produto consumido lá e cá”, diz Pereira. Os chineses se alimentam com arroz produzido em áreas alagadas, enquanto no Brasil boa parte da produção é de arroz de sequeiro. “São dois produtos de sabor e textura muito diferentes um do outro”, diz Pereira. Por isso, o alvo do Brasil são os países da América Central e o Canadá, mercados abertos em 2011 e culturalmente mais identificados com o gosto brasileiro. “Nos próximos dois anos vamos nos concentrar nesses compradores”, diz Pereira. O Irga e a Agência Brasileira de Promoção das Exportações (Apex) estão criando um projeto para mostrar o produto brasileiro a esse bloco de países. “Acredito que caberá ao Vietnã e à Tailândia abastecer o mercado chinês”, diz Pereira.

A Tailândia, embora seja um país de reduzidas dimensões, sempre foi um concorrente de peso no mercado internacional, com produção acima de 100 milhões de toneladas. Mas, no ano passado, apareceu no cenário mundial a Índia como a maior exportadora – o país vendeu 9,7 milhões de toneladas, no valor de US$ 18 bilhões. O volume foi 9% superior ao registrado em 2011. Os indianos tomaram o lugar dos tailandeses, cujas exportações caíram de 10,6 milhões para 6,5 milhões de toneladas entre 2011 e 2012. Segundo o Usda, as exportações da Tailândia no ano passado somaram sete milhões de toneladas, seguidas pelas do Paquistão, com 3,7 milhões, e dos EUA , com 3,5 milhões.