São Paulo, 19 – A conclusão das negociações comerciais entre Estados Unidos e China será determinante no direcionamento dos preços futuros de soja ao longo de 2019, disse o Rabobank no relatório Agroinfo, divulgado nesta terça-feira, 19. No fim de fevereiro, chineses e norte-americanos optaram por prolongar o período de trégua com o objetivo de dar continuidade às conversas.

“Um eventual acordo que beneficie exportações de produtos agrícolas dos EUA para a China tende a dar suporte às cotações da soja em Chicago, porém limitaria o avanço dos prêmios de exportação no Brasil”, disse o Rabobank. “Isso pode gerar uma alteração no quadro de concentração dos estoques globais dos EUA para a América do Sul.”

Do lado da oferta, a expectativa é de que a produção sul-americana fique próxima de 180 milhões de toneladas na temporada 2018/19, 6% superior ao ciclo anterior, segundo o Rabobank. “Apesar de perdas produtivas no Brasil em função de volumes de chuvas abaixo das médias históricas no Centro-Sul e Nordeste entre o final de 2018 e início de 2019, a projeção é de recuperação significativa na Argentina ante as perdas observadas na última safra”, relatou o banco. O Rabobank destacou que a demanda chinesa perdeu força por causa dos impactos negativos da peste suína africana sobre a produção local e que a China voltou a adquirir soja norte-americana como parte das negociações entre os dois países. “Esse fator somado à entrada da colheita da safra brasileira pressionou os prêmios de exportação no país.”

O Rabobank assinalou, ainda, que os produtores norte-americanos estão começando a dimensionar a área da safra 2019/20 sem ter uma definição sobre a guerra comercial. Apesar dos elevados estoques de soja nos EUA, a relação de preços soja/milho se mantém acima de 2,4, o que tende a favorecer a oleaginosa. “Uma significativa redução de área de soja poderia não se materializar, elevando riscos de pressão sobre cotações em Chicago, em caso de não ocorrer um acordo.”

Com relação ao milho, o Rabobank chama a atenção para a provável e “intensa” volatilidade dos preços nos próximos meses, após cotações sustentadas em janeiro e fevereiro. Nestes meses, a forte demanda para exportação e do setor de proteína animal puxaram os preços para cima. O País exportou 6 milhões de toneladas, 40% a mais que no primeiro bimestre de 2018, e o indicador Esalq/BM&F se valorizou 8%. A partir de agora, contudo, as exportações brasileiras de milho devem recuar dando espaço aos embarques de soja, e o possível aumento da área de milho nos EUA e os rumos da guerra comercial entre o país e a China podem trazer oscilação às cotações na Bolsa de Chicago (CBOT).

Outro fator a influenciar os preços do cereal será o desenvolvimento da segunda safra no Brasil. “Com a colheita avançada da soja na maioria das regiões, a semeadura da safrinha ocorreu dentro da janela ideal, o que deve resultar na retomada da produtividade em comparação ao ano passado”, disse o banco no relatório. Considerando uma produção de milho verão semelhante à de 2017/18, o Rabobank projeta produção total de 92,4 milhões de toneladas em 2018/19, 15% acima da temporada anterior. O banco estima que a média anual do indicador Esalq/BM&F ficará entre US$ 9,30 e US$ 9,70/saca em 2019.

Quanto ao algodão, os bons resultados da safra 2017/18 somados às perspectivas de margens melhores do que em outras culturas impulsionariam o plantio de algodão no Brasil na safra 2018/19. O Rabobank estima em 1,55 milhão de hectares a área da fibra no atual ciclo, a maior desde a temporada 1991/92. Com o bom andamento inicial da safra em Mato Grosso e Bahia, e se as condições climáticas forem positivas ao longo do desenvolvimento, a produção brasileira deve chegar a 2,5 milhões de toneladas, consolidando um novo recorde no Brasil.

O Rabobank salientou que a combinação de futuros e câmbio permitiu comercialização antecipada da safra 2018/19 a preços atrativos. O banco projeta que a margem operacional do algodão nesse ciclo fique próxima de 38% em Mato Grosso – acima dos 33% observados na media das últimas 5 safras.

Sobre fertilizantes, o Rabobank relata que os preços mais altos dos macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) na comparação anual têm levado ao adiamento das compras por produtores e a uma maior oferta, que pode resultar em recuo das cotações de até 10% no segundo trimestre. A ureia (nitrogenado) e o MAP (fosfatado) se desvalorizaram 25% e 17% em reais, respectivamente, desde outubro, mas ainda estão aproximadamente 15% mais caros que há um ano. No caso do potássio, os preços atuais são 40% superiores ante um ano atrás. Como nos últimos 12 meses somente o milho e o açúcar se valorizaram no mercado interno, “muitos agricultores estão enfrentando uma das piores relações de troca das últimas safras”.

Com fraca demanda no mercado doméstico e também no exterior, os preços dos adubos podem recuar mais nos próximos meses, mas isso não será garantia de reaquecimento da demanda interna, em razão de os preços de alguns defensivos também terem aumentado de 10% a 20% em 12 meses.

“Adicionados os recentes recuos dos preços da soja, algodão e café, percebe-se que parte dos agricultores está tomando decisões já considerando margens ligeiramente menores para a safra 2019/20”, disse o Rabobank.

O banco projeta uma demanda de fertilizantes no Brasil ligeiramente superior a 1,5%, em razão de um menor crescimento da área em 2019/20 e manutenção da taxa de adubação da safra atual. Desta forma as entregas devem bater novo recorde em 2019, de mais de 36 milhões de toneladas.