O consumo interno de café não para de crescer no Brasil. Nos últimos dez anos, o mercado dobrou de tamanho, puxado por dois ingredientes principais: o aumento na renda dos consumidores e o aprimoramento da qualidade da bebida, que passou a ser degustada em cafeterias, bares e restaurantes por uma geração de consumidores exigentes. Neste ano, o consumo per capita nacional atingiu a marca recorde de 4,94 quilos, superando os 4,75 quilos de 1965, o melhor resultado até então. Depois desse pico do consumo, há quase 50 anos, os cafeicultores vinham registrando quedas sucessivas, situação revertida a partir de 2012.

Com a experiência de 42 anos na industrialização de café solúvel e em grãos e na exportação para mais de 40 países, o empresário Sérgio Giestas Tristão, presidente da Realcafé, de Viana, no Espírito Santo, presenciou essa trajetória de sobe e desce do mercado cafeeiro no País. A empresa, dona de um faturamento de R$ 400 milhões no ano passado, foi eleita a campeã na categoria Café do anuário AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL. Segundo Tristão, o consumo de café cresce a reboque da popularização das máquinas de expresso e do acesso a grãos de qualidade superior. “Graças a esse movimento, a Realcafé ampliou sua atuação, passando a vender solúvel no mercado interno, o que antes ia apenas para o Exterior”, diz Tristão.

Para conquistar seu espaço ao sol no concorrido mercado brasileiro de café, a empresa adotou uma estratégia ousada: escolheu apenas três empresas para embalar e vender seu café no País. Atualmente, 50% da produção de mil toneladas da Realcafé é embalada pela alemã Melitta. A outra metade, por duas empresas que atuam apenas no varejo com o solúvel. A estratégia, segundo ele, foi um tiro certeiro. “O brasileiro opta cada vez mais pela alimentação fora de casa e por alimentos mais práticos e fáceis de serem preparados, em razão do novo estilo de vida e da rotina de trabalho nas grandes cidades”, diz. “O solúvel atende a essas especificações.” Embora promissor, o solúvel representa apenas 5% do total de café consumido no País. No ano passado, o consumo avançou 6,3%, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic). Diante desses números, a Realcafé reforça o seu projeto de trabalhar para ampliar sua participação no mercado, por meio do aumento da produção de solúvel e também do maior processamento e comercialização de grãos especiais.

A aposta de crescimento da Realcafé não se limita ao consumo brasileiro. A empresa é uma das três maiores exportadoras brasileiras de solúvel. No ano passado, faturou R$ 160 milhões com a venda de 300 mil sacas de café solúvel para a Europa, os Estados Unidos e a Etiópia – números que poderiam ser ainda maiores. Isso porque o café solúvel brasileiro enfrenta barreiras tarifárias para entrar na União Europeia, que sobretaxa o cafezinho brasileiro em 9,2%, mas isenta as importações provenientes da Índia e do Vietnã.

Apesar da concorrência desigual, o consumo internacional do café brasileiro tem se mantido estável. As exportações estão acima da média de três milhões de sacas nas últimas três ou quatro décadas, garantindo aos cafeicultores brasileiros um lugar cativo no mercado global. Para a Realcafé, o maior volume de exportações ocorreu em 2002, quando foram embarcados 2,6 milhões de sacas. “O lado positivo da concorrência internacional é a entrada de novos consumidores para o café nos países emergentes, especialmente na Ásia, onde o consumo da bebida era quase zero.”