O Brasil deve colher a maior safra de cana-de-açúcar de sua história, em torno de 590 milhões de toneladas, na região Centro-Sul na safra deste ano. Esse volume representa um aumento de 10% ante os 532 milhões de toneladas de 2012 e de 6% se comparado aos 556 milhões de toneladas colhidas na temporada 2010/2011, safra recorde que antecedeu a maior crise enfrentada pelo setor. Segundo Plínio Nastari, presidente da Consultoria Paulista Datagro, a recuperação da produção aconteceu antes do esperado, pois a expectativa geral era de que somente em 2014 o País ultrapassasse o volume de 2010. “Dois fatores foram responsáveis por essa antecipação nos resultados: o clima, que beirou o ideal, e os investimentos em renovação de canaviais”, diz Nastari.

A possibilidade de que a safra 2013/2014 supere a anterior em pelo menos 55 milhões de toneladas foi antecipada no relatório da união da indústria de Cana-de-açúcar (Unica) publicado em setembro. No acumulado desde o início da atual safra até 1o de setembro, o volume de cana processada alcançou 363 milhões de toneladas, contra 307 milhões, no mesmo período do ano passado, alta de 18%. Já a divisão entre a produção de açúcar e?etanol nas usinas deve priorizar a produção do combustível. Segundo Nastari, a expectativa é que a safra termine com uma produção de etanol na casa dos 25,4 bilhões de litros, um aumento de 20% se comparado ao ano passado e equivalente ao registrado em 2010. Já a produção de açúcar deve ficar no mesmo patamar de 2012: 34 milhões de toneladas. “Os preços internacionais do açúcar não estão bons, e as usinas estão optando por ofertar mais etanol, que tem grande demanda no País”, diz nastari.

O aumento da produção de etanol refletiu-se em maiores volumes de comercialização do produto. Do início da safra, em abril, até agosto deste ano, foram vendidos 11 bilhões de litros, alta de 26% em relação aos 8,7 bilhões de litros do mesmo período do ano passado. Segundo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, o mercado interno foi o principal responsável pelo crescimento das vendas de etanol, impulsionado, entre outros fatores, pela maior transferência do produto às regiões norte e nordeste. De abril a agosto, o mercado interno consumiu 9,4 bilhões de litros, 28% a mais que em 2012. “Esse desempenho se deve à resposta dos proprietários de veículos flex, que voltaram a consumir mais etanol hidratado, em detrimento da gasolina”, diz Pádua Rodrigues. Já as exportações somaram 1,6 bilhão de litros nesta safra, contra 1,3 bilhões do ano passado.

Contraditoriamente, a despeito do aumento nas vendas para o mercado interno, atualmente o combustível possui competitividade frente à gasolina em apenas quatro estados: São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Goiás. Para Nastari, a situação só deve mudar se o reajuste para o combustível fóssil, previsto para acontecer no final deste mês, se confirmar. “O mercado acredita que a gasolina possa ficar até 10% mais cara”, diz Nastari. “Com isso, o etanol pode ganhar competitividade em mais estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais.”

Graças à maior oferta, o custo de produção do etanol caiu neste ano, passando de R$ 1,12 por litro, em 2012, para R$ 1 por litro, neste ano. Para Manoel Ortolan, presidente da Organização de Plantadores de Cana da região Centro-Sul do Brasil (Orplana), essa queda é reflexo do aumento da produtividade agrícola, que no ano passado estava em 73 toneladas por hectare e este ano já supera a casa das 80 toneladas. “A renovação dos canaviais já começa a dar resultados”, diz Ortolan. “Mas ainda estamos abaixo dos valores históricos de 85 toneladas por hectare.”

Embora o setor sucroalcooleiro esteja entusiasmado com o desempenho da produção de cana-de-açúcar, em 2013, após a crise dos dois últimos anos, há muita cautela nas projeções do futuro imediato. Embora quase ninguém se disponha a arriscar um palpite, há um sentimento generalizado de que a tendência do setor é manter essa retomada de crescimento e, possivelmente, terminar 2014 com uma colheita superior a 600 milhões de toneladas – um novo recorde, portanto.