Perspectiva-2021/2022

O Brasil é hoje o segundo maior exportador e o quarto maior produtor de algodão, e a perspectiva do setor é alcançar, em um futuro não muito distante, o topo dessa cadeia nas duas categorias, primeiro na exportação e depois em volume colhido. Ao menos essa é a expectativa do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Cézar Busato. “Dobramos de produção nos últimos quatro anos e podemos repetir esse desempenho se pegarmos mais um pedacinho da área de soja”, afirmou o dirigente. E não se trata necessariamente de ocupar terreno de outras culturas, pois cerca de 60% do plantio de algodão acontece na sequência da safra da oleaginosa.

“Dobramos de produção nos últimos quatro anos e podemos repetir esse desempenho” Júlio Cézar Busato, Abrapa (Crédito:Aiba)

Isso não acontecerá de imediato, mas a trajetória já está sendo construída. A estimativa para a cotonicultura nacional em 2022 vai nessa direção. De acordo com a Abrapa, a área plantada será próxima de 1,55 milhão de hectares, 13,5% a mais do que em 2021 (1,36 milhão). A produção também será maior, passando de 2,33 milhões de toneladas no ano passado para 2,71 milhões, com crescimento de 16,5%. “Na temporada seguinte, queremos voltar a passar de 3 milhões”, disse Busato. Essa declaração já dá um sinal de que o cenário em 2021 foi mais desafiador para o algodão: no ano anterior foram plantados 1,66 milhão de hectares e a produção superou a marca de 3 milhões de toneladas.

No segundo ano sob o impacto da Covid-19, as fábricas estavam fechadas e o algodão, parado nos pátios aguardando a comercialização. “O preço estava lá embaixo, em 47 centavos de dólar a libra peso, enquanto o custo era de 62 centavos de dólar. Plantamos prejuízo”, afirmou Busato. Por outro lado, a pandemia também impactou o mercado interno de algodão. “O consumo era de 25 milhões de toneladas e caiu para 22 milhões no início da pandemia, mas já chegou a 27 milhões. Parece que por ficarem mais em casa as pessoas passaram a valorizar mais o algodão”, disse o presidente da Abrapa.

A entidade tem apostado em iniciativas que envolvem toda a cadeia produtiva, das fazendas ao varejo, e estimulam a preferência por roupas de algodão, pois a fibra perdeu espaço para outras opções, como as sintéticas. Nos anos 1970, cerca de 70% das roupas usadas pelos brasileiros eram feitas da fibra natural e agora apenas 49%. Além do projeto Sou de Algodão, criado em 2016 e que já conta com 800 marcas parceiras, a Abrapa lançou no ano passado o Sou ABR, uma ampliação do programa Algodão Brasileiro Responsável. O objetivo é atrair mais o consumidor final pela qualidade do produto e pela sustentabilidade da cadeia produtiva, tudo apresentado com transparência e segurança (blockchain). As marcas Reserva e Renner já são parceiras.

A dedicação da Abrapa também é grande no sentido de conquistar mais espaço no cenário internacional, principalmente na Ásia, a partir de seu escritório em Singapura. O fato de o Brasil ter passado da condição de mercado de oportunidade para a de um dos principais players mudou o patamar da disputa. “Virou briga de cachorro grande. E o maior deles, que tem mais tempo no mercado, não está muito feliz com a gente”, afirmou Busato, referindo-se aos Estados Unidos, que lidera as exportações mundiais da commodity com metade de toda a comercialização. “Vamos nos aproximar com tecnologia e produto de qualidade.”