No dia 18 de março, o engenheiro Sérgio Leite, diretor da Vale na Argentina, que respondia pelo projeto Rio Colorado desde agosto de 2011, arrumou as malas e voltou para o Brasil. Hoje, seus representantes no país são advogados contratados em Buenos Aires. O projeto da Vale era extrair cloreto de potássio em uma mina próxima da cidade de Mendoza, aos pés da Cordilheira dos Andes, um investimento estimado em US$ 6 bilhões. O potássio é o principal e mais raro elemento químico na formulação de fertilizantes. Sem ele, seria impossível produzir soja e milho no Centro-Oeste, ou recuperar cerca de 60 milhões de hectares de pastagens, pretendidas pelos projetos de agricultura de baixo carbono no País, que visam transformar terras degradadas em produtivas.

Segundo comunicado ao mercado expedido pela Vale, depois de US$ 2 bilhões aplicados na Argentina, ainda havia incerteza em relação à taxa de câmbio, inflação e risco em um país no qual tudo é controlado por um governo que muda as regras constantemente. O projeto Rio Colorado previa a extração anual de quatro milhões de toneladas de potássio, a partir de 2014, além da recuperação de 500 quilômetros de ferrovia, a implantação de outros 350 quilômetros e a construção de um terminal no porto de Bahía Blanca, cidade da Província de Buenos Aires, a 650 quilômetros ao sul da capital federal. A decisão da Vale, que empregava seis mil funcionários no projeto, provocou uma irada reação do governo da presidenta Cristina Kirschner, introduzindo mais um elemento de instabilidade nas relações comerciais com o Brasil. O ministro do Planejamento da Argentina, Julio de Vido, chegou a dizer que a Vale violou a segurança jurídica e as leis da Argentina.

O Brasil é o terceiro maior consumidor de potássio do mundo, atrás de China e Estados Unidos, e deve passar à condição de segundo, nos próximos anos. Atualmente, o País precisa de 4,3 milhões de toneladas por ano para as suas lavouras. Esse volume é praticamente o mesmo do projeto da Vale na Argentina, o que poderia reduzir sua dependência dos fornecedores estrangeiros, com possibilidade de melhor negociação e logística mais favorável. O Brasil produz pouco mais de 320 mil toneladas de potássio  por ano, menos de 10% de seu consumo, o que implica gastar no Exterior cerca R$ 7 bilhões para suprir a demanda, basicamente com compras na Rússia e no Canadá. O produto está em quinto lugar na pauta de importações. Em agosto do ano passado, durante o 2º Congresso Brasileiro de Fertilizantes, realizado em São Paulo, o gerente-geral de marketing da Vale Fertilizantes, José Emílio Nico, afirmou que o foco do projeto Rio Colorado era atender ao mercado brasileiro. A previsão da Vale era vender no País três milhões de toneladas de potássio por ano.

Segundo a Associação Internacional da Indústria de Fertilizantes (IFA), com sede em Paris, o consumo mundial de potássio deverá crescer 3% neste ano, para 30 milhões de toneladas, acelerando-se nos próximos três anos: até 2015, a expectativa é de que a demanda chegue a 41 milhões de toneladas, alavancada pelas compras da China, do Brasil, da Índia e dos países africanos. Trata-se de um mercado extremamente concentrado: quatro companhias, a Belarusian Potash Company (BPC), a alemã KS Group, a israelense ICL Fertilizer e a suíça Ameropa, respondem por 78% das vendas de US$ 15 bilhões por ano. O produto sai, principalmente, da província de Saskatchewan, região central do Canadá, dos Montes Urais, entre a Bielo-Rússia e Rússia, e da Alemanha.

No mundo, somente 12 países têm minas de potássio, com 95% de sua produção destinada à agricultura – o restante é utilizado nas indústrias de detergentes, sabão e vidro. Esses números, por si, evidenciam a importância do projeto Rio Colorado e escancaram a frustração da indústria nacional de fertilizantes com o seu cancelamento.