O governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), criticou na noite dessa segunda-feira, 14, a compra de vacinas contra a covid por Estados e municípios antes da aprovação da Anvisa. Em evento fechado à imprensa organizado pelo setor varejista, o mandatário discursou ao lado do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e disse que “não é fazendo politicagem com a saúde das pessoas” que o Estado vai superar a pandemia.

“Tem vacina que já estão comprando que nem no seu próprio país (de produção) foi autorizada ainda. Por isso que digo: o Rio de Janeiro não ficará fora do País. Nós somos uma federação. Eu acredito no general Pazuello (ministro da Saúde), acredito que juntos sairemos dessa crise. Não é fazendo politicagem com a saúde das pessoas que vamos sair”, apontou.

No Rio, alguns municípios da região metropolitana já anunciaram a compra da vacina CoronaVac, produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e anunciada pelo governador João Doria (PSDB), hoje inimigo político da família Bolsonaro. São eles Niterói, que adquiriu cerca de 1 milhão de doses, e Maricá, com 440 mil aquisições. Ambos aguardam a autorização da Anvisa para vacinar a população.

Castro também foi enfático, para aplausos dos empresários, ao negar “lockdown” no Rio. A prioridade, segundo ele, é reabrir leitos. Ao falar sobre a vacinação, exaltou os técnicos da Anvisa e deu a entender que eles não estão suscetíveis a interferências políticas. “Nosso plano nacional de imunização é referência no mundo inteiro, e nossos técnicos da Anvisa passaram pelos governos do PSDB, do PT, do MDB. E só não servem hoje porque são do governo Bolsonaro?”, questionou.

O evento Retomada do Varejo ocorreu no Copacabana Palace, o famoso hotel na orla da zona sul carioca. Promovido pela Associação de Supermercados do Estado do Rio (Asserj), teve como foco a apresentação do Rio Global, projeto voltado para criar um calendário de eventos no Estado.

‘Interlocutor’ do Planalto

A presença da imprensa não foi permitida, mas vídeos recebidos pelo Estadão mostram Flávio Bolsonaro no papel de interlocutor institucional do governo do pai. Ele foi exaltado pelo presidente da Asserj, Fábio Queiróz, e disse aos empresários que medidas do Planalto evitaram “o caos” no País. Ouviu, inclusive, pedidos para que fossem prorrogados o auxílio emergencial e iniciativas de apoio ao empresariado.

Denunciado pelo Ministério Público do Rio por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso das “rachadinhas”, o senador alegou que parte da imprensa passa “o tempo todo massacrando, fazendo campanha contra” – e prejudicando, assim, a imagem do Brasil no exterior. Focou, aqui, no setor do turismo, do qual se diz o maior entusiasta. Reclamou, por exemplo, dos entraves ambientais para transformar a Costa Verde do Rio numa “Cancun brasileira”, como almeja fazer.

Ao contrário dos irmãos Carlos e Eduardo, mais afeitos aos discursos de ataques ideológicos, Flávio atua nos bastidores como o mais político dos filhos de Bolsonaro. No evento, elogiou Cláudio Castro e o presidente da Assembleia Legislativa, o petista pragmático André Ceciliano.

“Eu olho aqui hoje para o governador Cláudio Castro, uma pessoa que sem dúvida nenhuma tem um alinhamento com o governo federal, toda afinidade com o Ministério da Saúde; que tem sido sensato junto com o presidente da Assembleia, André Ceciliano, para tomar as medidas corretas, sem radicalismo e com racionalidade.”

Vice de Wilson Witzel, afastado e denunciado por suspeitas de corrupção, Castro já assumiu o governo fragilizado por também ser investigado pelo Ministério Público. Ele tem na aproximação com a família Bolsonaro, que estava em guerra com Witzel, uma das principais fiadoras de seu governo.

O pedido de diálogo marcou todos os discursos do evento desta segunda-feira. “Apenas a união dos principais setores do Estado e integração de negócios será capaz de nos levar a rumos mais assertivos e promissores em 2021”, disse Fábio Queiróz.