Além de fazer carnaval e botar o bloco na rua, entender como usar a cidade e interagir de forma produtiva, criativa e acessiva. A Associação Independente de Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro da Cidade do Rio de Janeiro (Sebastiana) quer mostrar que o carnaval dialoga com a cidade do Rio e deve prevalecer dentro de uma perspectiva mais positiva.

Para isso promove a partir deste sábado (18), em parceria com a Casa Firjan, da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a 14ª edição do “Desenrolando a Serpentina”. Um dos objetivos é debater a visão da cidade e seu desenvolvimento, misturado ao carnaval, diz a presidente da Sebastiana, a jornalista Rita Fernandes.

Neste fim de semana, o “Desenrolando a Serpentina” terá oficinas de adereços de carnaval e customização de camisetas, apresentações musicais, atividades circenses para as crianças, além de exibição do filme “Bloco do Barbas – O Documentário”, de Ricardo Morais. O bloco Superbacana encerra a programação do sábado. No domingo (19), o Gigantes da Lira, primeiro bloco do Rio de Janeiro voltado para o público infantil, promove o Gritinho Gigante de Carnaval, destinado para toda a família.

Na terça-feira (21), o “Desenrolando a Serpentina” realiza debate sobre carnaval, cidade e empreendedorismo, no auditório da Casa Firjan. Participam o escritor, professor, historiador e compositor Luis Antônio Simas, o empreendedor social Tião Santos, a vice-presidente social e coordenadora geral do Programa de Inclusão Social da Escola de Samba Mangueira, Célia Domingues, o subsecretário municipal de Cultura de São Paulo, Ronaldo DX, e Mestre Caliquinho, do Bloco Spanta Neném.

Marco regulatório

Na avaliação de Rita Fernandes, o carnaval do Rio enfrenta problemas que já poderiam ter sido solucionados. Em entrevista à Agência Brasil, ela defendeu a criação de um marco regulatório que transforme o carnaval em uma política de Estado e não de governo. “A gente teria avançado bastante”. Rita Fernandes citou os exemplos de Salvador, Recife e Belo Horizonte, que já têm leis próprias que instituem um Conselho de Carnaval e aponta os órgãos envolvidos, quem participa do conselho, o que é competência e responsabilidade do município, das agremiações e dos patrocinadores, quando ocorre o planejamento do evento.

“Quando você tem tudo claro, transparente, fica muito mais fácil. É só, de ano a ano, você fazer os ajustes necessários, normais e naturais em uma festa que é orgânica. Mas você tem o marco, não precisa ficar nessas disputas sem sentido. A cada hora tem entendimento diferente daquilo que é exigência e responsabilidade”, externou Rita.

Ela diz acreditar que o carnaval deste ano ainda será estressante. Rita confia, entretanto, que os órgãos públicos vão acertar com os blocos para que haja policiamento suficiente no período enquanto a guarda municipal fica responsável por organizar o trânsito. Segundo ela, por outro lado, a informatização dos processos ajudou muito as agremiações.

Críticas

Rita Fernandes disse ainda que os grandes blocos de artistas acabam provocando uma certa “descaracterização” do carnaval de rua carioca, o que ela considera “lamentável”. As agremiações locais, ao contrário, têm interação com a cidade durante todo o ano. Por isso ela enfatiza a importância do debate sobre a contribuição da festa para o desenvolvimento da cidade. “O carnaval é o principal evento do calendário tanto turístico como cultural do Rio”, afirmou.

A ideia é entender como o carnaval pode ajudar a cadeia produtiva do segmento: como os blocos podem interagir de forma mais permanente com a cidade, através de trabalho social, de meio ambiente, de percussão. Outra questão necessária é elaborar um projeto de reciclagem para o carnaval.

A possibilidade de descentralização, como ocorreu em São Paulo, também será analisada. Rita destacou que a capital paulista possui um guia de carnaval com regras claras, que seria fundamental para o Rio de Janeiro.

RJ: Associação debate carnaval no evento Desenrolando a Serpentina