AJUDA AO CAMPO: “Depois do mapeamento das lavouras via GPS, nossos radares farão a previsão de safra por cultura”, diz o pesquisador Sano

A partir de outubro o céu da Bahia estará muito azul e quase sem nuvens. A previsão é simbólica, não tem nada de real, mas representa uma ótima notícia para quem trabalha no campo. Trata-se de um projeto inédito no País, que lança mão de radares para aprimorar o sistema de previsões de safras e dar agilidade aogoverno na execução de políticas agrícolas. Mais do que isso, no entanto, o produtor rural poderá saber com antecedência qual o volume da safra vindoura e se preparar para a negociação.

Criado pela Embrapa Cerrados, o levantamento será realizado em uma área de 1,2 milhão de hectares nos municípios de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, na Bahia, para discriminar as principais culturas da região – soja, milho e algodão. As informações serão geradas pelo radar do satélite japonês Alos/Palsar, com os dados produzidos pelo radar da aeronave R-99, da Força Aérea Brasileira (FAB), utilizada pelo Sistema de Proteção Ambiental da Amazônia (Sipam).

Como funciona o radar da Embrapa para mapear culturas Na imagem feita em Barreiras (BA) é possível ver nos diferentes tons de cinza as culturas de milho, soja, algodão e café detectadas nos destaques

1• CULTURAS: soja, milho, algodão e café são as primeiras a receber atenção dos técnicos

2• TONS DE CINZA: o equipamento registra na imagem as diferentes culturas pelos tons de cinza

3• VISTA AÉREA: o mapeamento começará numa área de 1,2 milhão de hectares na Bahia

4• GPS NA TERRA: a equipe da Embrapa começa o trabalho registrando cada plantação

“Vamos acompanhar o crescimento dessa safra até a colheita, combinando o radar do satélite com o do avião, para dar a qualidade necessária aos dados”, diz Edson Eijy Sano, pesquisador responsável pelo projeto. Até agora o método mais utilizado era o monitoramento feito apenas com o satélite. A grande desvantagem de sua utilização é que, quando há nuvens e gotas de chuva, nada mais pode ser detectado.

O uso do radar tem duas finalidades: discriminação de culturas e identificação de áreas com exploração seletiva, como o desmatamento parcial em algumas regiões de uma floresta. Até agora, a tecnologia se restringia às pesquisas na Amazônia. Com base em um número restrito de padrões de tonalidade e classes de culturas que podem ser identificadas, os pesquisadores saem a campo com auxílio de um GPS. A partir desta análise preliminar, eles conseguem estender a diferenciação para toda a área fotografada. No caso da previsão de safras, as imagens do radar podem ajudar apenas na identificação da área plantada. De acordo com Sano, os satélites meteorológicos são mais eficientes para acompanhar as plantações.

O radar acoplado às aeronaves fornece imagens com mais detalhes, mas tem um custo maior. Já a aquisição de uma cena do satélite japonês custa US$ 200. “A diferença é enorme, mas depende do tipo do avião e do aparelho”, afirma Sano. A cobertura geográfica do radar de satélite é maior – 10 mil quilômetros quadrados, contra 600 quilômetros quadrados da aeronave. Segundo o pesquisador, o preço e a abrangência fazem com que o satélite seja a melhor opção. A Embrapa só vai utilizar o avião da FAB porque ele já estava disponível e o detalhamento é importante nesta fase de pesquisa.