ÂNIMO NOVO: com garantia de compra, Boninsenha voltou ao plantio de maracujá

O Espírito Santo hoje tem 85 mil hectares destinados à fruticultura. Mas o objetivo da Secretaria de Agricultura do Estado é chegar aos 125 mil hectares. A ampliação está relacionada ao surgimento de uma nova indústria, a Trop Frutas do Brasil, empresa de polpa de frutas, inaugurada no mês passado, em Linhares. A companhia, resultado de um investimento de R$ 53 milhões, já nasce grande e muito bem localizada. Fica exatamente em frente à fábrica da Sucos Mais, hoje Minute Maid Mais, marca que faz parte do portfólio da Coca-Cola e consome anualmente cerca de 60 mil toneladas de polpa de fruta. Quem está por trás do empreendimento são experts no assunto: João Luiz Castanheira e Ricardo Tavares, ex-donos da Sucos Mais, e Renato Barcellos Guimarães, executivo da Matte Leão, comprada no início deste ano pela Coca-Cola. Para que a indústria se concretizasse, o governo não poupou esforços para alavancar os pólos de fruticultura, que abastecerão a Trop Frutas, Os seis principais são de goiaba, maracujá, manga, abacaxi, pêssego e caju. “O Espírito Santo tem todo o potencial para abastecer a companhia”, diz Castanheira, presidente da Trop. “É um Estado pequeno, mas tem diversidade climática que permite produzir tanto frutas temperadas como tropicais.”

A fruticultura entra como alternativa de diversificação para os agricultores. E, para facilitar a negociação com a indústria, foram criadas cooperativas. Um exemplo de produtor que aderiu ao programa é Carlito Correia do Nascimento. Ele tem 140 hectares de terras no norte do Estado. Seu carrochefe sempre foi a cana-de-açúcar, mas hoje se diz mais apegado às goiabas. “Minha alegria é ficar olhando o pomar”, diz. O que motivou o ingresso de “seu” Nascimento na fruta foi o incentivo do governo, que doou as mudas, facilitou o financiamento para irrigação e garantiu a assistência técnica. Edson Wander Boninsenha, presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Jaguaré (Coopruj), foi outro que se rendeu à fruticultura. Ele tinha dito que nunca mais plantaria maracujá, por ter amargado prejuízos no passado. Mas com a garantia de compra da Trop não só voltou como convenceu 37 cooperados a plantar. “Temos contrato de compra por quatro anos e a Trop paga R$ 0,52 por quilo de maracujá”, diz. A indústria fica com 80% da produção e o restante os agricultores podem vender para a mesa, que costuma pagar melhor. O mesmo acontece com a goiaba, com a diferença que o contrato é por dez anos e o preço por quilo é R$ 0,28.

A parceria com os produtores é fundamental para não faltar frutas na linha de produção. A meta é pegar só frutas do Espírito Santo, mas inicialmente será necessário recorrer a outros Estados. Outra grande aposta da Trop está relacionada ao pêssego. Atualmente, 90% da polpa da fruta vem do Chile e da Argentina. “Nosso desafio é produzir o pêssego aqui”, diz Castanheira. Para isso, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural está testando as variedades da fruta para escolher a mais indicada à região. Em um primeiro momento, a Trop irá trabalhar com goiaba, manga e maracujá. Mas nos anos seguintes entram o abacaxi, o caju e o pêssego. A vantagem é que a empresa nem bem entrou no mercado e já tem um contrato de exclusividade por dez anos no fornecimento de polpas para a Coca-Cola Company. Fruto do trabalho de três empresários que conhecem de perto o setor.

SÓ FESTA: Nascimento comemora a produção das goiabas, enquanto Castanheira, Tavares e Guimarães (da esq. para a dir.) brindam a inauguração da indústria

Lívia Andrade, de Linhares (ES)