A resposta é sim – e mais, vinhos de qualidade. É esse

o plano da Fiesp e do governo do Estado para colocar o

maior consumidor de vinhos também como o maior

produtor do País

“Não queremos fazer vinhos como os do Rio Grande do Sul ou do Vale do Rio São Francisco. E isso é ótimo”

FAUSTO LONGO, gerente da Fiesp

O posto de maior mercado consumidor de vinhos finos do País já está assegurado há anos. Mas, como produtor, São Paulo deixa a desejar. Com muita ambição, um grupo de empresários, pesquisadores e governo estadual trabalham desde fevereiro deste ano para retomar a produção de vinho em São Paulo por meio do projeto SP Vinho. Responsáveis por 64% do consumo da bebida no Brasil, os paulistas viram suas poucas e tradicionais vinícolas transformarem-se em engarrafadoras do vinho de mesa, mais popular, trazido do Rio Grande do Sul. O desafio de colocar o Estado na liderança do setor é grande, considerando a importância e a qualidade da produção gaúcha. “Não queremos fazer vinhos como os do Rio Grande do Sul ou do Vale do São Francisco, no Nordeste. Sabemos que o nosso será diferente, e isso é ótimo”, diz Fausto Longo, gerente do Departamento de Ação Regional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente do projeto.

Além de substituir a importação do vinho gaúcho, o SP Vinho aposta no crescimento do interesse pela bebida – hoje os brasileiros consomem 1,8 litro por ano, contra os 30 litros consumidos pelos argentinos. A primeira fase do projeto terminou no último mês de julho, e a segunda terá duração de dois anos. Várias entidades participam da iniciativa pela criação do vinho paulista de qualidade: Secretaria da Agricultura de São Paulo, Fiesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto Agronômico de Campinas (IAC), entre outras.

CERCA DE 64% do vinho produzido no Brasil é consumido pelo Estado de São Paulo

VINHO DE FINO TRATO: Longo, entre os irmãos Góes: setor revitalizado

Preocupados com a estagnação do setor, representantes de sindicatos da indústria do vinho das regiões de São Roque e Jundiaí – todos filiados à Fiesp – recorreram à federação das indústrias no ano passado com uma questão e uma proposta. Apresentaram os números da dependência do Estado de São Paulo em relação ao Rio Grande do Sul. Não era pouca coisa: o número beirava os 75 milhões de litros de vinho por ano.

“Analisando o mercado, percebemos a possibilidade de revitalizar o setor no Estado de São Paulo”, comenta Cláudio Góes, presidente do Sindicato de Produtores de São Roque e um dos proprietários da Vinícola Góes.

Segundo Longo, para combater o preconceito dos consumidores quanto ao vinho de São Paulo, é preciso qualificar o produto e a matéria- prima, identificando clima e solo para escolher os tipos de uvas mais adequados para serem plantados e, principalmente, onde isso ocorrerá.

O projeto já definiu quatro regiões propícias. O “polígono vitivinícola” compreende os municípios de Itatiba até São Miguel Arcanjo, onde podem ser produzidos vinhos leves.

A região de “cuestas paulistas” se estende de Franca a São Carlos, onde a Embrapa já cultiva e produz vinho a partir da uva shiraz.

As chamadas “fronteiras paulistas”, em Jales, são favoráveis a espumantes brancos. Na Serra da Mantiqueira, as “terras altas paulistas” possuem clima frio semelhante ao de algumas regiões da França, onde se planta a uva cabernet sauvignon.

Foi investido R$ 1,2 milhão em pesquisas para amparar a produção no interior paulista

Um dos maiores entusiastas do projeto, Cláudio Góes define o SP Vinho como uma tentativa. “Estamos ainda em fase inicial, dependemos de estudos técnicos e econômicos”, diz. Com a matriz em São Roque, município paulista conhecido pela tradição em vinho, a Vinícola Góes é a maior em produção própria no Estado. A empresa também possui unidades no Rio Grande do Sul, onde se concentra 85% da produção de dez milhões de litros por ano. Por iniciativa própria, a vinícola começou a fazer pesquisas em 2001, com o plantio de 30 variedades européias de uvas vitiviníferas numa área de dois hectares. Em 2008 ela terá o seu primeiro vinho fino produzido em terras paulistas, a partir de dez hectares plantados de uvas cabernet sauvignon. Ao todo, o investimento custou R$ 1,2 milhão à Vinícola Góes, que pretende compartilhar os resultados das pesquisas com outras empresas, interessadas em entrar para esse mercado de vinhos finos.

O aumento do número de produtores formais de vinho de cerca de 30 para mais de 100 é consenso, mas as metas de produção do SP Vinho provocam divergências. O representante da Fiesp diz que em dez anos será possível substituir os 75 milhões de litros de “importação” de vinho do Rio Grande do Sul. Cláudio Góes é menos otimista. “Se ocorrerem parcerias e viabilização dos custos, podemos chegar a 25 milhões de litros em dez anos”, diz o empresário.

PARREIRAS PAULISTAS: mais um ano e estas uvas estarão engarrafadas e à mesa em forma de vinho

Para Loiza Maria Ribeiro, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho, o caminho dos paulistas é factível, mas longo. “Para chegar à liderança é preciso trabalhar muito, pois existem outros projetos de busca de excelência”, diz a pesquisadora.