O sócio-fundador da Scot Consultoria, Alcides Torres, lembrou nesta sexta que China e Hong Kong, juntos, compram 64% da carne bovina brasileira exportada. Diante da importância desse mercado para o Brasil, Torres considerou ser “perigoso” hostilizar os maiores compradores de produtos do País. O consultor participa de painel neste início de tarde no Encontro de Analistas Scot Consultoria.

O consultor lembrou, ainda, que na atual pandemia de novo coronavírus, todos os clientes do Brasil reduziram suas compras, com exceção da China/Hong Kong, além de outros países da Ásia, como Tailândia. “Se ficarmos hostilizando a China, ela parte para comprar carne de nossos concorrentes, vai comprar dos australianos, dos argentinos, dos uruguaios…”, disse, e acrescentou: “Tem gente que não faz conta ou desconhece o mercado profundamente”, disse.

A fala de Torres veio num contexto de uma polêmica entre a China e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) nesta semana. Na terça-feira (24), o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, criticou postagens em rede social de Eduardo Bolsonaro, que também é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. O deputado havia citado, no dia anterior (23), que o governo brasileiro declarou apoio a uma “aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”. A postagem foi apagada depois. Wanming rebateu dizendo que as acusações do parlamentar são “infundadas” e “solapam” a relação entre os dois países.

O ex-CEO do frigorífico Frigol, Luciano Pascon, lembrou que há 29 frigoríficos de bovinos “parados, numa lista, aguardando a aprovação do governo chinês”. “E a gente sabe que se a amizade e cooperação fosse maior isso já poderia ter sido habilitado; seria uma oportunidade para todos”.

Para o presidente consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, “é absurdo” o País desdenhar a China. “Hostilizar a China é perigoso”, disse. “Conversamos diariamente com adido em Pequim, que nos passa informações sobre a reação da China quando ocorrem atritos aqui e há sensibilidade para isso.”

No mesmo painel, o consultor da Scot Hyberville Netto acrescentou que a Europa, por exemplo, adquire apenas 8% da carne exportada pelo Brasil. “É um mercado que, mesmo menor, tem de estar aberto, não podemos brigar com clientes.”

Contatos: julliana.martins@estadao.com e tania.rabello@estadao.com

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