Entre os criadores de cavalos quarto de milha, o que não falta são  histórias para contar. Em tempo de festa, como a que aconteceu no mês passado, em Avaré, no interior paulista, onde foi realizado o 37º Campeonato Nacional de Conformação e Trabalho, elas se multiplicam. “O gosto pela montaria veio do meu pai”, diz Marcelo Ferreira, criador, competidor em categorias amadoras como apartação e três tambores e atual presidente da Associação Brasileira de Quarto de Milha (ABQM). “Toda a família cavalgava junto com ele, participando em competições, ou mesmo a lazer.” Ferreira, hoje com 38 anos, diz que seu pai, Geraldo Alves Ferreira Filho, era tão apaixonado por cavalos que preferia que os três filhos passassem o tempo livre junto a ele e aos animais do que com os amigos. “O cavalo foi o responsável por garantir muitos laços em nossa família.” 

O quarto de milha, que conta com um número crescente de aficionados de cavalgadas de fins de semana, é uma das raças mais importantes do País, para os esportes equestres. No evento de Avaré, que atualmente é o maior centro nacional de difusão das qualidades da raça, houve 5,5 mil inscrições para a participação das 19 modalidades de provas, as quais contam com 2,4 mil cavalos. Entre elas estão rédeas, tambores, apartação e laço, e provas que ainda levam nomes de sua origem, nos Estados Unidos, onde são realizadas as maiores competições de quarto de milha, como working cow horse, western pleasure e bulldog.

Celso Minchillo, superintendente-geral da ABQM, diz que a entidade promove outros dois eventos de peso durante o ano, ambos em Avaré, mas o de julho continua imbatível. “O Campeonato Nacional ABQM é o grande momento para criadores e competidores”, diz Minchillo. “Eu não conheço outro evento de equinos, no País, que reúna tanta gente como este do interior paulista.” Em prêmios, a ABQM tem distribuído no campeonato cerca de R$ 1 milhão por ano. 

Como as provas de Avaré têm servido de vitrine para a raça, a ABQM vem fazendo constantes melhorias no parque de exposições do município, em parceria com a prefeitura local. Atualmente, as três pistas de sete mil metros quadrados de área cada uma, estão cobertas e um sistema de drenagem foi implantado, para que nenhuma prova seja interrompida ou cancelada por causa de chuvas. “Nos últimos anos, foram investidos R$ 2,1 milhões em melhorias no parque”, diz Minchillo. Além das pistas cobertas, o parque possui duas outras a céu aberto para treinamentos de provas, como a de três tambores,  considerada a mais importante, e outra pista para o aquecimento dos animais. Para Ferreira, são vários os motivos que explicam a importância que o Campeonato Nacional ABQM ganhou para a raça. O principal deles foi o trabalho da entidade, que apostou no melhoramento genético da raça e na formação de núcleos regionais de criadores. Atualmente, são 45 núcleos, em 18 Estados mais o Distrito Federal. “A raça quarto de milha serve para a lida nas fazendas de gado, por exemplo, e aí temos um bom nicho”, diz Ferreira. “Mas também é ideal para o lazer e muito eficiente em competições.” 

A quarto de milha é considerada uma raça jovem no País. Os primeiros quarter horse, como esses cavalos são chamados nos Estados Unidos, começaram a ser importados em meados da década de 1950. Atualmente, o número de animais em plantéis brasileiros é de cerca de 400 mil, registrados no Ministério da Agricultura. “O salto foi possível porque esse cavalo, robusto e rústico, se adaptou bem ao nosso clima.” A raça, originária do  meiooeste americano, tem o Texas como referência, uma região de temperaturas tão elevadas quanto o Centro- Oeste brasileiro, por exemplo. Nos Estados Unidos, a associação chamada de American Quarter Horse Association (AQHA) fica em Amarillo, no Texas, e é a maior entidade de criadores de equinos do mundo. Ligados a ela estão 360 mil sócios e mais de 4,2 milhões de cavalos registrados em 43 países, incluindo os brasileiros. “No Brasil, ainda é possível crescer mais, em Estados como os de Mato Grosso, Goiás e todo o Nordeste, onde o quarto de milha serve muito bem às vaquejadas”, diz Minchillo. “Temos muito chão pela frente.”