Os produtores rurais do chamado cinturão agrícola americano, principal fornecedor de milho e soja no Meio-Oeste dos Estados Unidos, são conhecidos em todo o país por serem “workaholics” – pessoas viciadas em produção, de fazer inveja aos engravatados executivos do mercado financeiro, em Wall Street. Aqueles que gastam menos de 12 horas nas plantações ou zelando pelo maquinário chegam mesmo a ser chamados de “lasy rednecks”(algo como “caipiras preguiçosos”, em uma tradução livre). Há, no entanto, dois acontecimentos que os fazem parar o trabalho, um por paixão e outro por obrigação: os jogos de baseball do St. Louis Cardinals e o plantio das áreas de refúgio nas lavouras, como determina o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Desde a década de 1990, pela lei americana, entre 10% e 20% das plantações transgênicas, dependendo de cada Estado, precisam ter um percentual de plantas convencionais. Com isso, em vez de exterminarem as pragas pura e simplesmente, causando um desequilíbrio no ecossistema e antecipando a resistência das plantas, bem como a nociva mutação da natureza, os refúgios mantêm a coexistência dos seres vivos e controlam as pragas de forma inteligente. O problema é que, pelo fato de o refúgio ser trabalhoso, gerar perda de tempo e provocar aumento de custos ao produtor, nos últimos anos essas áreas nos Estados Unidos estão em franca decadência. “Fazemos o refúgio quando dá tempo, mas sabemos que é uma prática cada vez mais em desuso”, afirma o fazendeiro Dan Elliott, produtor de milho e soja em uma área de 1,8 mil hectares no Estado de Illinois.

É por conta desse problema, que afeta a produtividade e a rentabilidade das lavouras, que a Monsanto, maior produtora de sementes transgênicas do mundo, baseada em Saint Louis, no Estado do Missouri, desenvolveu um sistema aparentemente tão simples quanto eficiente: o Refuge-In-the-Bag (RIB), que nada mais é do que uma sacaria de sementes transgênicas misturadas a convencionais. Com isso, o produtor fica dispensado de criar áreas específicas de refúgio e, de quebra, cumpre a lei ao garantir que um percentual de suas plantas serve de abrigo e alimento para larvas e insetos. “Sem os refúgios, as novas tecnologias que proporcionam maior produtividade aos agricultores estão condenadas ao fracasso”, afirma o cientista e agrônomo Troy Coziahr, responsável pelo centro tecnológico da Monsanto em Monmouth, no interior de Illinois.

?O RIB da Monsanto, já disponível aos produtores americanos, chegará aos campos brasileiros de milho já na safra 2013/2014, que começa a ser plantada neste mês. Atualmente, os refúgios não são obrigatórios no País, mas são exaustivamente recomendados pelas empresas de biotecnologia. Batizadas de VT Pro 3RIB e VT Pro MaxRIB, as sementes são a grande aposta da empresa para exterminar de vez a dor de cabeça criada para os produtores pela necessidade de refúgio, além, é claro, de se transformar numa fonte de receitas para a própria Monsanto e outras gigantes do mundo dos transgênicos. Garantindo a existência das plantas convencionais nas lavouras transgênicas, há um atraso na resistência da natureza e uma vida útil maior para as descobertas das empresas de tecnologia agrícola.

O VT Pro 3 será focado na proteção da raiz do milho contra o ataque da Diabrotica speciosa (larva-alfinete) e também contra as pragas aéreas que atacam folhas, colmo e espiga da cultura (lagarta do cartucho, broca do colmo, lagarta da espiga e lagarta elasmo). Já o VT Pro Max foi desenvolvido para agir contra as cinco principais pragas que atacam a cultura, responsáveis pela queda de produtividade nas últimas safras: lagarta do cartucho, broca do colmo, lagarta da espiga, lagarta elasmo e lagarta rosca. “Controlando as populações de pragas, o produtor estará controlando também o futuro de sua lavoura”, afirma Coziahr.