O ano começou muito bem para a soja brasileira, que deve atingir uma produção superior a 90 milhões de toneladas na safra 2013/2014, volume 10% superior ao que foi colhido na safra passada. O cenário é tão otimista para o grão que nem mesmo a produção em alta derrubou os preços da oleaginosa. No Paraná, em janeiro, a soja era vendida à média de R$ 61 por saca, cotação 5% maior que a registrada na mesma época do ano passado. A dobradinha preços firmes e alta produção também provocou outro fenômeno: em vez de vender o grão para aproveitar os preços e engordar a conta bancária, os produtores colocaram o pé no freio e, até o mês passado, o comércio da soja seguia em ritmo lento nos principais polos de cultivo do País. Segundo o produtor Fábio Willian Ferro, dono do sítio Nossa Senhora Aparecida, de 15 hectares no município de Maringá (PR), a razão para isso é a expectativa de que as cotações continuem em alta no futuro. Até a seca que afetou o País neste começo de ano, embora possa gerar uma pequena quebra da produção, deve ajudar, pressionando os preços. “Vou ficar sentado em cima da minha soja até que consiga um preço ainda melhor para vendê-la”, diz Ferro. “E posso esperar, porque tenho dinheiro em caixa.”

Segundo Anderson Galvão, diretor da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG), em todo o Brasil as vendas de soja chegaram a 47% da produção da safra 2013/2014, volume 20% menor em relação ao que foi negociado até fevereiro do ano passado. Para ele, o produtor está certo em segurar parte de sua produção neste momento. “Por causa da ótima safra passada, o agricultor está capitalizado e pode esperar alguns indícios de alta ou baixa do mercado para a safra em andamento”, diz Galvão. Entre os fatores que podem ajudar a elevar o valor da soja, além da confirmação da quebra de safra no Brasil, na Argentina e no Paraguai, em função da falta de chuvas no período de enchimento dos grãos, figuram os possíveis problemas na safra americana, por conta do clima frio acima do esperado para a época. Na contramão desse movimento, entre os eventuais causadores de uma queda nos preços, o mais preocupante é uma possível diminuição da demanda chinesa. O país asiático, que crescia a taxas de 15% ao ano, pode andar mais devagar em 2014. “Se a China diminuir o ritmo de crescimento da sua economia, as compras de soja também podem ficar menores e sobrará grão no mercado”, diz Galvão. “Para fazer bons negócios, o produtor tem de ficar atento ao movimento das cotações.”

No último levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, até fevereiro as vendas de soja chegaram a 24% dos 16,5 milhões de toneladas que o Estado deve colher nesta safra. No mesmo período do ano passado o volume comercializado era de 37%. Segundo Marcelo Garrido, economista do Deral, o produtor paranaense não tinha o costume de vender sua safra antecipadamente. Em 2012, com a soja no mercado futuro acima de R$ 70 a saca, os produtores paranaenses passaram a experimentar as vendas antecipadas. No ano passado, em março, mês que marca o fim da colheita, quase metade da soja paranaense já estava negociada. “Por não possuir grandes fazendas, o agricultor do Paraná se sentia mais seguro com o produto na mão e era mais conservador em relação às vendas antecipadas”, diz Garrido. “Mas, como agora ele está capitalizado, vendeu só o suficiente para garantir o custeio da safra e vai esperar preços melhores para vender o restante.”

Garrido acredita que o maior volume de vendas deva acontecer entre junho e agosto, período de entressafra da oleaginosa, logo após Mato Grosso, o maior produtor do País, ter colocado no mercado boa parte da sua safra. No ano passado, os paranaenses venderam 15% da colheita nesse período. “Os produtores estão apostando que a saca vai chegar novamente a R$ 70 e que conseguirão uma margem de lucro  melhor”, diz Garrido.

Em Mato Grosso a estratégia é a mesma: esperar por preços melhores. Mas a razão para aguardar o momento propício para a venda é diferente. Enquanto os paranaenses querem ampliar seu lucro, no Centro-Oeste a ideia é fugir dos altos valores do frete, que encarecem muito os custos de produção. Em março do ano passado, por exemplo, o custo para transportar uma tonelada de soja de Sorriso até o Porto de Paranaguá, no Paraná, era de R$ 320. Neste ano, diante das especulações sobre uma safra maior no Estado, o valor já chegava a R$ 300 a tonelada, em janeiro, mês em que os volumes de colheita ainda são pequenos. O volume de vendas em fevereiro era de 61%, dos 27 milhões de toneladas que devem ser colhidas na safra 2013/2014, volume 10% inferior ao vendido no ano passado.

Na fazenda Três Mártires, em Campo Novo do Parecis, no noroeste do Estado, o agricultor Alex Utida decidiu segurar as vendas por mais tempo do que o habitutal. Até fevereiro ele havia vendido apenas 40% de sua safra, estimada em 26 mil toneladas, ante 70% na safra passada. Além do frete, o agricultor diz que o custo de produção nesta safra também está mais alto e que por isso está esperando por cotações melhores. Na média, os preços obtidos pelo produtor no Estado giram em torno de R$ 52 a saca, valor 15% maior que o de fevereiro do ano passado. “Mas, hoje, tenho um custo de R$ 42 por saca e, com o frete caro, quase não teria lucro se vendesse agora”, diz Utida. De acordo com Otávio Celidonio, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), há vantagens em segurar a safra quando o produtor está capitalizado e não depende das vendas para pagar dívidas. “Mas é claro que não dá para segurar o grão por muito tempo”, diz Celidonio. “Depois do mês de março o produtor precisa ficar esperto, porque outros Estados do Centro-Oeste, Nordeste e Norte também começam a vender suas produções.”