São Paulo, 7 – O setor de meio ambiente global deveria ser acompanhado a partir de agências de rating, como já existe no meio empresarial e bancário, defendeu o CEO global da BRF, Lorival Luz, que participou, no início da noite desta quarta-feira, 6, de “live” com o coordenador do FGV Agro, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Isso permitiria que o setor ambiental no Brasil, sobretudo o agronegócio, fosse julgado não a partir de acusações infundadas, mas com base “em fatos, dados, métricas efetivas e padrões”, disse. “Aí se elimina a retórica do discurso e do marketing.”

Para Luz, a falta deste tipo de métrica, aceita globalmente, faz com que não chegue para o consumidor o que as empresas de alimentos, que trabalham corretamente no sentido de preservação ambiental, estão fazendo. “Se você for para uma ampla população no mundo, a imagem do Brasil se resume a ser o ‘maior poluidor’, um país que joga contra o meio ambiente porque tem desmatamento ilegal”, disse ele, acrescentando que o que o setor faz de correto, ambientalmente falando, não aparece. “Precisamos trabalhar com critérios específicos justamente por causa disso”, ressaltou. “A matriz energética limpa que o País tem, por exemplo, não aparece, não existe na cabeça das pessoas, porque isso não é falado.”

Daí a necessidade de métricas aceitas globalmente, como já existe para o mercado financeiro, que segue as agências de rating nas classificações de empresas e bancos. Para Luz, se algo neste sentido existisse em relação ao meio ambiente, “o mercado se autorregularia” para direcionar financiamentos a iniciativas efetivamente sustentáveis, de acordo com critérios aceitos por todos. “Se houvesse um rating como este, se uma empresa (bem classificada) emitisse um bond ou debênture, o spread cobrado seria menor.” Ele lembrou, por exemplo, que recentemente a BRF anunciou investimentos em matrizes energéticas renováveis como em energia solar e eólica.

Luz acha importante, porém, que todos esses critérios de rating ambiental que passariam a existir precisariam também “chegar ao consumidor”. “Hoje, o consumidor não sabe quem é quem. Ele olha na prateleira do supermercado e não sabe se aquele produto foi produzido por uma empresa que tem gerador a diesel ou a carvão; essa informação também precisa chegar, para ele ter o direito de escolher entre um produto ou outro, mais alinhado com o que ele pensa e quer.” Para Luz, se o consumidor não tiver acesso a este tipo de informação, “fica difícil”, pois se cria um “desestímulo” para as empresas fazerem algo a mais.

Ainda sobre possíveis métricas para medir o desempenho ambiental de empresas, Luz ressaltou que é necessário criar ferramentas isentas, com base na ciência. “Não podemos engolir a métrica deles (dos países europeus, por exemplo). Não podemos deixar a verdade dos outros virar a ‘verdade verdadeira’ para todos.”

Sob este aspecto, Luz disse que participa de um grupo de CEOs globais, “muitos da União Europeia”, que lançaram a discussão de que se deveria diminuir o consumo de proteína animal em favor de uma alimentação à base de mais vegetais. “Eu disse que a produção de proteína animal pode ser tão sustentável quanto a produção de vegetais”, disse ele, acrescentando: “Você vê como esse discurso prevalece (de redução do consumo de proteína animal), e passa a ser a ‘verdade verdadeira’ deles”, disse. “No Brasil, somos muito mais eficientes e produtivos, nossa produtividade é muito maior; no fundo este discurso (ambiental na UE) pode ser uma forma de limitar o acesso dos produtos brasileiros aos mercados.”

Luz reconheceu, porém, que, para isso, é necessário o empresariado brasileiro “fazer a sua parte, sendo protagonista e mostrando as ‘verdades verdadeiras'” que há aqui, “sem deixar que eles imponham a verdade deles”.