Carlos Aguiar, superintendente de Agronegócio do Banco Santander Brasil, tem motivos para celebrar a safra 2017/2018. A oferta de empréstimos ao agronegócio cresceu 44% com relação ao mesmo período de 2016. Com uma mudança significativa. “Os empréstimos subsidiados ou obrigatórios representam a menor parte da carteira, e, nesta safra, são R$ 4 bilhões”, diz. “O restante dos recursos são para o crédito livre, oferecido com taxas de mercado, mais o Funcafé e a parte liberada pelo BNDES.” Enquanto o total contabilizado nas linhas direcionadas quase não cresceu, o montante emprestado pela carteira de recursos livres vem florescendo. E isso não é uma exclusividade do banco de origem espanhola. Em outras instituições financeiras, a corrida do produtor para acessar linhas de crédito rural está a todo vapor.

Pelos dados mais recentes do Banco Central (BC), o número de operações chegou a 702,9 mil entre julho, abertura da safra, e setembro. A captação de recursos para custeio e comercialização foi de R$ 35,6 bilhões, alta de 9,7% ante o mesmo período do ano passado. O montante representa 23,7% do total de R$ 150,2 bilhões destinados ao Plano Agrícola e Pecuário desta safra. O crescimento tem uma boa explicação: juros menores. As taxas dos empréstimos direcionados são fixas. Por exemplo, os 6,5% ao ano da linha Inovagro, que financia a inovação, e os 8,5% ao ano da linha Moderagro, destinada a modernização e expansão da produtividade. Esses empréstimos não são influenciados pelos juros de mercado.

Porém, a queda da taxa Selic, que recuou para 7,5% ao ano em outubro, ante os 14% do mesmo mês de 2016, barateou o crédito. Pelos dados do BC, os juros médios cobrados nos empréstimos brasileiros caíram 4,49 pontos percentuais neste ano, para 28,4%. É o menor valor desde agosto de 2015. Isso justifica a queda de um ponto percentual nos juros de custeio e investimento do Plano Safra deste ano, ante o ano passado.

“A supersafra passada animou os produtores a investirem mais”, diz o diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Marco Túlio Moraes da Costa. “Com a gradual melhora da economia, agora podemos oferecer crédito mais barato.”Costa sabe o que diz. O Banco do Brasil é o maior financiador do setor, com uma carteira de crédito rural de R$ 188 bilhões, alcançando uma participação nesse mercado de 59,8%. “Hoje, em comparação ao mesmo período da safra passada, já aplicamos 28% mais recursos. São R$ 23 bilhões”, diz. As instituições financeiras vêm enxergando o agronegócio com bons olhos. O setor superou as crises de 2008 e de 2015, e mostrou resiliência em tempos de economia ou política adversas. Por isso há mais recursos disponíveis. Segundo o BC, as liberações cresceram para R$ 48 bilhões no primeiro trimestre da safra 2017/2018, alta de 27,5% ante o mesmo período do ciclo passado.

Os produtores também aproveitaram os juros mais baixos para renovar a frota. As vendas de máquinas e implementos devem crescer 7% neste ano frente a 2016, quando foram vendidas 43.7 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Esse é um bom sinal para a modernização no campo, e uma mudança radical em relação a 2014 e 2015. Nesses dois anos o setor contabilizou quedas anuais de 20% nas vendas em relação ao período anterior, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Neste ano, o setor deve lucrar aproximadamente R$ 13 bilhões”, afirma Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq. Não por acaso, o Banco do Brasil aumentou a liberação de empréstimos para máquinas e implementos nesta safra. “Já aplicamos R$ 4,5 bilhões, 34% acima do ano passado”, afirma Costa.

Hoje, em comparação ao mesmo período da safra passada, já aplicamos 28% mais recursos” Marco Túlio Moraes da Costa, diretor de Agronegócios do Banco do Brasil (Crédito:Divulgação)

Esse crescimento pode esbarrar na falta de capital por parte dos bancos. Segundo Fernando Pimentel, sócio-diretor da Agrosecurity, consultoria especializada em crédito ao agronegócio, a maior demanda por financiamento pode consumir os limites de crédito do setor financeiro e deixar clientes sem ser atendidos. Para ele, a solução é ir em busca de outras fontes de financiamento. “Sem alternativas de crédito, a safra 2018/2019 pode ser menor do que a atual por falta de recursos para custeio”, diz ele. Duas opções são o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e a Letra de Crédito Agrícola (LCA). O CRA tem duas vantagens. É isento de impostos para o investidor, e permite captar dinheiro no mercado internacional, que oferece mais liquidez. “Os produtores de commodities exportáveis, como soja e algodão, podem captar, em seis meses, até US$ 1 bilhão em CRA, com taxas menores do que nas captações em real.” O risco, aqui, é a tentação do governo em tributar a variação cambial, medida a ser definida no pacote de ajuste fiscal a ser divulgado em dezembro. A tributação pode afastar o investidor internacional de um título testado e aprovado, que já foi emitido, em reais, por gigantes do setor como BRF, Raízen, Fibria e Suzano. Neste ano, Raízen e Fibria captaram R$ 750 milhões cada. A carteira desses papéis registrada na B3, nascida da fusão da BM&FBovespa e da Cetip, atingiu R$ 26 bilhões em outubro.

Neste início de safra, porém, as emissões de LCA é que têm aparecido mais, devido ao interesse dos bancos. No caso do Santander, a carteira atual de LCAs é de R$ 8,5 bilhões. “Essa carteira cresceu 30% em relação ao ano passado”, afirma Aguiar. “A LCA será o futuro do financiamento no campo.” As LCAs também têm isenção do Imposto de Renda.