Com um cheque de R$ 12,6 bilhões no bolso e um discurso de que todos os problemas do campo estariam por hora sanados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou no fim do mês passado um novo pacote “verde”. A medida tem como principal objetivo socorrer empresas com problemas de caixa causados pelo aperto financeiro dos últimos meses. Apesar de o dinheiro não ir diretamente para os produtores rurais, a ideia é irrigar a agroindústria com recursos que possam recolocar seus pagamentos em dia num curto prazo. Os principais beneficiados serão os frigoríficos, usinas de álcool e açúcar e cooperativas. Nos três casos descritos, justamente pela falta de créditos há pagamentos em aberto com fornecedores de cana, pecuaristas e associados, que entregaram seus produtos há meses, mas até agora não viram a cor do dinheiro. O anúncio aconteceu após uma reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional, que avaliou a necessidade de medidas urgentes. “O crédito será barato, de 11,25% ao ano”, prometeu Mantega. Para tanto, será colocado em prática um conjunto de cinco medidas que pretende irrigar o fluxo de caixa das empresas, gerando uma espécie de efeito cascata até chegar aos produtores, no campo.

Empresas cujo limite de crédito esteja tomado terão acesso ao novo financiamento do governo

Para o professor Fernando Peres, do departamento de economia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o dinheiro ajuda, mas não resolve. Isso porque, segundo ele, muitas empresas grandes perderam quantias vultosas em derivativos cambiais criando um buraco financeiro muito grande a ser preenchido. “Se você somar o que necessitam alguns poucos frigoríficos e usinas, todo o dinheiro vai embora num curto espaço de tempo”, avalia. Para o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Otávio Cançado, o enfoque é outro. “Isso não é um socorro e sim uma ajuda para restaurar a confiança no setor”, explica. Pouco antes de a crise econômica eclodir, os pagamentos aconteciam 40 dias após a entrega dos bois, segundo Cançado. “Hoje todos querem receber à vista.” “Com esse dinheiro, será possível alargar os prazos de pagamento e, aos poucos, o sistema voltará a funcionar como antes”, acredita.

Quem quiser contratar o empréstimo, terá até 31 de dezembro de 2009, com dois anos de carência para quitar a dívida principal. Para o tesouro, fica a equalização entre os custos de captação e os juros de 11,25% cobrados pelo BNDES. “Está tudo incluso”, explicou Mantega. De acordo com o secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bitten-court, o risco dessas operações é do banco, o que sinaliza que eventuais perdas com derivativos não impedem a contratação. Há que se provar, porém, que a empresa é viável. Há ainda outras novidades, como uma linha para a estocagem de etanol e a permissão para que empresas cuja totalidade do limite de crédito esteja tomada tenham acesso ao financiamento. O CMN estipulou novas regras para contratos de opção como instrumento para política agrícola. Entre elas, passa para 10% o adicional sobre o preço mínimo (estipulado pelo governo) para estimular vendas dessa natureza.

O que fez o Conselho Monetário Nacional

1 Subvenção

Autorizou a subvenção econômica para a equalização de taxas de juros para estocagem de etanol

2 Opções

Aprovou mudanças nos contratos de opção de vendas, seja na definição dos preços, seja na venda efetiva

3 Aportes

Autorizou o aporte para capital de giro de cooperativas e aumentou programas em curso

4 Equalização

Autorizou a equalização de taxas de juros para a concessão de subvenção econômica para financiamento

5 Prazos

Modificou os prazos de operações de Securitização, Recoop, Funcafé- Dação, Cacau e do Pesa (saneamento de ativos)