São Paulo, 04/09 – A preocupação com os efeitos do clima desfavorável nos Estados Unidos em agosto e a venda externa aquecida de soja norte-americana vêm dando sustentação aos preços futuros de soja na Bolsa de Chicago (CBOT), mas há riscos de uma virada nas cotações nos próximos meses, apontou o Itaú BBA, em relatório. Caso os dados de colheita nos EUA a serem divulgados não mostrem redução significativa de volume, os preços podem ceder, principalmente porque Brasil e Argentina terão safras grandes, lembra o banco.

O contrato maio de 2021 da soja subiu 9% entre o começo de agosto e o começo de setembro, e o vencimento maio de 2022 avançou 5%. Entre os fatores de suporte, o Itaú BBA citou o temor sobre prejuízos causados pelo clima mais seco e quente em parte do Meio-Oeste norte-americano em agosto, período de formação de vagens de grande parte da lavoura e início do enchimento de grãos. O banco ressaltou ainda que, até a semana do dia 20 de agosto, 24,2 milhões de toneladas de soja já haviam sido comprometidas para exportação nos EUA da safra 2020/21. Em igual período do ciclo anterior, a negociação antecipada somava 6,4 milhões de toneladas.

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“Muito desse aumento vem das vendas para China que são justificadas por um esforço para o cumprimento do acordo comercial e também pelo aumento da demanda do grão diante da recomposição do rebanho suíno e demais proteínas no país”, disse o Itaú BBA. No Brasil, segundo o banco, as altas em Chicago, atreladas ao câmbio desvalorizado, têm se traduzido em preços em moeda nacional “bastante elevados”.

Sobre a influência do clima na safra norte-americana, o banco destacou: “Os mapas climáticos indicam volta das chuvas em parte do cinturão de produção norte-americano a partir da próxima semana, o que pode minimizar as quedas de produtividades”, disse. O Itaú BBA apontou, ainda, o provável aumento da produção em outros importantes produtores de soja, como Brasil e Argentina. “No caso do primeiro, o crescimento deverá vir a reboque, principalmente, de um crescimento de área e, no segundo, de uma recuperação dos níveis de produtividade em relação à safra anterior, em que pese o fato de que o cenário climático vem caminhando para La Niña.”

Do lado da demanda, o Itaú BBA diz que, apesar da perspectiva de aumento da produção de proteína animal na China, puxada pela recomposição do rebanho suíno, o país ainda enfrenta a peste suína africana, o que pode reduzir a velocidade do crescimento da produção.

Além disso, segundo o banco, em caso de piora do cenário econômico, fundos podem reverter posições compradas em commodities agrícolas, o que tende a influenciar negativamente as cotações da soja na CBOT. Para os preços em reais, um risco extra é a valorização da moeda brasileira.

O Itaú BBA ressaltou que, diante desses riscos, o avanço das fixações para as safras futuras nos níveis que são oferecidos atualmente “parece fazer bastante sentido para que o produtor garanta boas margens”. O banco sugere, entretanto, cuidado com aumento do porcentual fixado antecipadamente sem a aquisição de insumos. “Caso o preço dos insumos suba mais que esperado poderá comprometer as margens. Esse tópico é especialmente relevante para quem está realizando as fixações para a safra 2021/22 e posteriores, uma vez que a possibilidade de negociação de insumos não é tão óbvia”, afirmou.

Segundo o Itaú BBA, produtores também devem ficar atentos ao porcentual comercializado ante o volume de produção esperado. Outros cuidados envolvem segregar das fixações o montante referente a compromissos a serem quitados em sacas de soja, conciliar prazos de recebimento com pagamento de obrigações para operações em dólar e ter caixa disponível para ajustes quando a fixação de preço é feita em bolsa.

Contato: leticia.pakulski@estadao.com
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