São Paulo, 21 – O jornal chinês Global Times acusou os Estados Unidos de conceder enormes subsídios aos produtores de soja do país e de praticar dumping na comercialização da oleaginosa para a China, num momento em que vêm crescendo as tensões comerciais entre os dois países. Em editorial, o jornal diz que esses subsídios violam regras da Organização Mundial de Comércio (OMC) e que fortes medidas restritivas precisam ser adotadas contra a importação de soja dos EUA. O país asiático é o maior importador mundial do grão, e produtores nos EUA temem uma retaliação chinesa à decisão do presidente Donald Trump de sobretaxar as importações de aço e alumínio – mercados em que a China é um player dominante. No ano passado, a China comprou o equivalente a US$ 14 bilhões em soja dos EUA.

O editorial destaca que, segundo dados do Escritório Nacional de Estatísticas da China, as importações chinesas de soja aumentaram 40,73 milhões de toneladas, ou 74,3%, entre 2010 e 2017. Um dos motivos “para isso é que a soja importada, principalmente dos Estados Unidos, recebeu enormes subsídios”, diz o jornal, acrescentando que a vantagem competitiva da soja norte-americana é em parte responsável pela queda da produção chinesa nos últimos anos.

Analistas do Vertical Group argumentam, no entanto, que a China talvez não consiga desacelerar suas compras de soja norte-americana por muito tempo. De acordo com os analistas, o país precisa de muita soja para alimentar seu plantel de suínos e essa demanda é muito grande para ser atendida exclusivamente por produtores da América do Sul.

Porém, mesmo uma interrupção temporária do comércio com a China pode ter importantes ramificações para os preços e para agricultores dos EUA, diz o estrategista Brian Grossman, do Zaner Group. A expectativa é de que as áreas plantadas com soja e com milho sejam iguais na temporada 2018/19. Se as exportações de soja dos EUA diminuírem, os estoques domésticos podem atingir níveis recorde ao fim do ciclo. “Resumindo, estamos aterrorizados”, diz Grossman. “Isso não vai ser bom para o agricultor americano.”

Produtores do país devem ter um ano bem difícil, mesmo se a possível queda das exportações para a China não acontecer: de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a renda da agropecuária este ano vai atingir o menor nível desde 2006.

Fontes ouvidas pelo Wall Street Journal disseram que a China estaria planejando também sobretaxar a importação de suínos vivos. Para os analistas do Vertical Group, reduzir a dependência de animais dos EUA seria mais fácil, já que criadores chineses vêm expandindo seus plantéis. Uma eventual restrição chinesa aos embarques de suínos dos EUA poderia afetar grandes processadoras de carne como Tyson Foods, Hormel Foods e a Smithfield, controlada pelo grupo chinês WH.

O agricultor Shane Hanna, de Delphi, Indiana, teme uma contração ainda maior de suas margens caso uma queda das exportações de soja resulte em preços mais baixos do grão. Mas ele também está preocupado com seus vizinhos que criam suínos. Uma redução dos embarques de animais para a China pode resultar em menor demanda por soja para alimentá-los. “Precisamos que os porcos comam o que produzimos”, diz Hanna. (Com Dow Jones Newswires).