O Instituto Butantan anunciou nesta segunda-feira, 26, ter identificado no Estado de São Paulo a variante sueca e uma mutação da cepa originalmente identificada em Manaus (P1) do novo coronavírus. Os cientistas também identificaram um novo caso da variante sul-africana. Segundo especialistas, modificações no vírus podem tornar o Sars-CoV-2, causador da covid-19, mais transmissível ou reduzir o grau de proteção oferecido pelas vacinas.

A variante sueca, B.1.318, e a N9, mutação da variante amazônica, são consideradas variantes de interesse, o que significa que elas têm potencial de risco, porém não existem estudos suficientes para confirmar isso. Já a sul-africana, B.1.351, é classificada internacionalmente como variante de preocupação.

A variante sul-africana foi encontrada na Baixada Santista. Anteriormente, já havia sido identificada em Sorocaba. A cepa da Suécia foi descoberta em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, e a mutação da variante de Manaus, foi encontrada em Jardinópolis, com registros também em outros Estados.

Uma variante de preocupação (da sigla em inglês VOC – Variant of Concern) indica que a cepa pode ser mais transmissível e desencadear casos mais graves da doença. As variantes de interesse (VOI – Variant of Interest) têm mutações que podem ser perigosas, mas faltam estudos para obter essa confirmação. Das modificações brasileiras do vírus, só a P.1 é considerada variante de preocupação, enquanto a N.9, N.10, P.2 e P.4, por enquanto, são variantes de interesse.

Esse tipo de mutação de vírus é natural. “O surgimento de variantes faz parte da evolução natural do vírus, mas esse surgimento de forma acelerada em virtude da alta transmissão é o problema”, aponta Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e pesquisadora (UFRGS), divulgadora científica pela Rede Análise COVID-19. Especialistas já apontaram que o descontrole da crise sanitária pode fazer do Brasil um “celeiro” de mutações do Sars-CoV-2.

O destaque da pesquisadora é para as variantes de preocupação, como a P.1 de Manaus e a B.1.351, da África do Sul. “São realmente preocupantes, em virtude das adaptações que podem ser conferidas por conta dessas mutações. A B.1.351, junto da P.1 tem a mutação E484K, por exemplo, que pode conferir um escape imune da resposta de recuperados ou vacinados”. Isso não significa que não há mais proteção na vacina, mas sim que nesse caso houve impacto significativo no número de anticorpos neutralizantes. “Para ver se há ou não proteção, estudos de eficácia e efetividade devem ser feitos”, acrescentou.

O Butantan realiza cinco mil testes diários. O órgão coordena a Rede de Laboratórios para o Diagnóstico do Coronavírus – que reúne 19 laboratórios e é responsável por todos os testes de covid-19 feitos na rede pública do Estado de São Paulo. É por meio de testagem e sequenciamento das amostras para identificação da sequência genética do vírus, comparando com bancos de dados conhecidos, que são descobertas novas variantes.

Conforme dados iniciais de um estudo preliminar realizado em parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), a CoronaVac é capaz de combater a variante P.1. Conclusão que também foi reforçada por resultados preliminares de uma pesquisa sobre o impacto da CoronaVac em mais de 67 mil profissionais da saúde de Manaus. A análise comprovou que a vacina tem 50% de eficácia contra a cepa amazônia, 14 dias após a aplicação da primeira dose.