Dados da plataforma Info Tracker, atualizada por pesquisadores da USP de São Carlos e da Unesp, mostram que a velocidade atual de transmissão do coronavírus no Estado de São Paulo é semelhante à do início da segunda onda. Anteontem, a taxa média era de 1,17, ou seja, cada 100 pessoas infectadas podem contaminar outras 117. Em 14 de dezembro, era de 1,25. A alta transmissão, na época, levou a um aumento assustador no número de casos no início de 2021, causando colapso no sistema de saúde em muitas regiões do País.

Os números atuais estão levando mais prefeituras a decretarem lockdown no interior de São Paulo. Na quarta-feira, o governador João Doria (PSDB) decidiu suspender a flexibilização das medidas restritivas que entrariam em vigor no dia 1.º. Para o professor da Unesp Wallace Casaca, um dos coordenadores do estudo, a alta na taxa de contágio reflete o aumento nos casos em todo o Estado, desta vez pela ação de variantes como a P.1. Ele acredita que uma terceira onda já começou e pode ser pior que a de março.

No interior, regiões da faixa norte do Estado puxam a taxa média. Em São João da Boa Vista, com 1,67, a mais alta, cada cem contaminados podem transmitir o vírus para 167. No fim de dezembro, a taxa era de 0,97. A prefeita Terezinha de Jesus Pedroza (DEM) anunciou lockdown a partir de segunda-feira. “Apesar das medidas tomadas anteriormente, as festas e aglomerações continuaram acontecendo. Vamos usar a Polícia Militar, pois o número de fiscais é insuficiente.” Ontem, ela se reuniu com os demais prefeitos da região para que as medidas sejam tomadas em conjunto. “A Santa Casa, que recebe pacientes dessas cidades, está perto do colapso, então precisamos de união. A situação nas demais cidades não é diferente.”

Franca, com o terceiro maior índice, adotou o lockdown quinta. O comércio em geral fecha até o dia 10. Na região, a taxa de transmissão está em 1,56. A cidade registra também o maior crescimento de óbitos, com 49 mortes na última semana, aumento de 8,54%.

Em Araçatuba (taxa de 1,41) e Campinas (1,39), as prefeituras também já reduziram as atividades. Na quinta, o Mário Gatti, principal hospital da rede municipal de Campinas, suspendeu as cirurgias eletivas. “Estamos no meio de uma situação de guerra, com demanda muito grande e sem condições de repor e melhorar o número de funcionários”, disse o administrador hospitalar, Sérgio Bisogni.

Desde quarta, a vigilância em saúde monitora pessoas com sintomas gripais para evitar a disseminação de novas cepas, como a variante indiana B.1.617. Outras cidades com alto contágio, segundo o estudo mais recente, são Araraquara (1,35), Barretos (1,33), Piracicaba (1,31) e Marília (1,31).

Situação melhor

Na outra ponta, Registro, no Vale do Ribeira, tem menor contágio. Cada cem infectados passariam o vírus para outros 53. Cortada por uma rodovia duplicada, a Régis Bittencourt (BR-116), a região é a mais isolada do Estado. A prefeitura disse que adotou medidas de controle desde o início do ano, criando central de monitoramento para casos suspeitos e positivos, além de uma central 24 horas para denúncia de quebra do isolamento. Também acelerou a vacinação, já alcançando um terço da população. “Contudo, ainda temos 83% de ocupação nas UTIs de referência regional, o que não nos permite mudar a postura de prevenção e alerta”, disse a prefeitura, em nota.

Na região metropolitana de São Paulo, os índices variam. A segunda mais alta taxa do Estado, de 1,62, está na Grande São Paulo Sudoeste (Embu-Guaçu). Já a taxa da Grande São Paulo Norte (Mairiporã), de 0,76, é a segunda menor. Nos municípios da Grande São Paulo Sudeste (Diadema), a taxa de contágio é de 0,88%, a terceira menor. Também têm índices de contágio mais baixos a Baixada Santista (0,92), Bauru (0,93), Taubaté (0,96), Presidente Prudente (0,97), São Paulo, capital (0,98), Grande São Paulo Leste (1,02) e Sorocaba (1,09).

Para o pesquisador Wallace Casaca, o contágio oscila e reflete as restrições de circulação tomadas pelos gestores e o comportamento da população. “Cada região vive momentos diferentes na pandemia.” E as variantes que circulam no Estado também influenciam os números. “A gente combina os dados de transmissão com o sequenciamento genômico das amostras de cada área e conclui que hoje de 85% a 90% dessas amostras são da variante P.1. Isso reforça a convicção de que estamos entrando na terceira onda. No começo de fevereiro, a gente não tinha grande circulação da P.1.” Dados da Secretaria da Saúde mostram que, até 24 de maio, tinham sido encontrados 356 casos autóctones da P.1, outros 15 da B.1.1.7 e 3 da B.1.351.

Outro indicador de uma nova onda, segundo Casaca, é o aumento na ocupação das redes privada e pública de hospitais, com elevação na curva de internações no Estado todo. “É muito parecido com o que aconteceu em março, com pacientes à espera de leitos. Atrelado a isso, temos a taxa de transmissão acima de 1%, não só em São Paulo, mas na maioria dos Estados. A gente vai observar nas próximas semanas, infelizmente, aumento no número de mortes. Com a curva ascendente de internações, vamos ter o pior momento entre 14 e 20 dias. Talvez até supere o que aconteceu em março.”

População

Procurada, a Secretaria da Saúde do Estado informou, em nota, que a decisão de colocar São Paulo na fase de transição do Plano SP foi adotada após recomendação do Centro de Contingência do Coronavírus, com foco em análises e pareceres médicos. E reforçou a necessidade de a população colaborar. “Somente com o integral cumprimento das normas em vigor será possível conter as taxas de contaminação.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.