Acordar antes de o sol raiar, conferir como está a plantação, cuidar do agroquímico a ser aplicado, verificar se a quantidade de sementes é suficiente, orientar funcionários, negociar o produto, organizar a gestão financeira e de pessoal. Não bastassem as muitas tarefas do dia-a-dia, o produtor rural ainda tem de se preocupar em guardar todos os recebidos das suas operações para a declaração do Imposto de Renda (IR). Pensando em facilitar essa tarefa e, principalmente, em diminuir os tributos pagos pelos profissionais do setor à Receita Federal, seis empresários fundaram, há cerca de 8 meses, a startup Essent Agro. A ideia é que o aplicativo ajude o produtor a abrandar o ímpeto do leão do IR.

Clientes Com a ajuda da startup, os irmãos Fachin economizaram quase 40% no valor que pagaram ao Fisco no ano passado (Crédito:Divulgação)

Com a plataforma, todas as compras relacionadas à propriedade são automaticamente cadastradas num banco de dados, com o pedido da nota fiscal eletrônica. A comercialização é localizada na Receita Federal, por meio do Cadastro de Pessoa Física (CPF) do produtor. “Uma reclamação que recebemos frequentemente dos fazendeiros é de que guardar as notas fiscais é um problema. Muitas vezes, eles deixam em cima de uma caixa qualquer e perdem”, afirma Giandrei Basso, CEO e um dos fundadores da Essent, que tem cerca de 400 clientes espalhados pelos estados de Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Além de dispensar a utilização de papel, o robô da startup faz um cálculo dos gastos de cada mês, o que permite ao produtor saber quanto pagará à Receita Federal no ano seguinte e ter gestão apurada da propriedade, já que cada gasto é contabilizado na ferramenta. O plano mais básico do serviço custa R$ 75, mas esse valor pode chegar perto dos R$ 5 mil, dependendo do faturamento e do número de pessoas envolvidas na declaração. Uma das principais estratégias para diminuir o valor a ser pago em tributos é adiar para janeiro – quando começa um novo ano fiscal – a venda que seria realizada no final do ano. “Nós damos a orientação de que o cálculo do faturamento deve considerar o imposto a ser pago”, diz Basso. “O dinheiro entra em novembro, mas em abril parte dele precisa ser devolvido ao governo”, diz.

ESTRATÉGIAS Donos da Agrícola Fachin, na cidade de Nova Rama, no Rio Grande do Sul, os irmãos Marcos e Fernando Fachin são clientes da Essent. Numa propriedade de 300 hectares, eles cultivam soja em 85% da área e milho nos outros 15%. No inverno, plantam trigo, aveia e capim-sudão. Na safra 2017/2018, a produção da fazenda foi de 19 mil sacas de soja, 3,5 mil de milho e 5 mil de trigo. Em 2018, o faturamento bruto da Agrícola Fachin foi de cerca de R$ 1,4 milhão. Com isso, a previsão para o pagamento de tributos referentes ao ano passado era de R$ 35 mil. Algumas estratégias foram adotadas com o auxílio da Essent, gerando à empresa uma economia de R$ 13 mil (37%) – a Fachin pagou ao Fisco R$ 22 mil. “Nós tínhamos um contador, guardávamos todas as notas, levávamos para ele e tínhamos um resumo da declaração”, conta Marcos. “Ele passava o valor, sem muito esclarecimento. Não tinha como diminuir o imposto. Era pegar o boleto e pagar.” Marcos diz que, com a economia conseguida, já compensou financeiramente o gasto de R$ 4 mil com os serviços da startup. “Além disso, consigo acompanhar, dia a dia, como será a declaração do Imposto de Renda do ano seguinte”.

De acordo com a Receita, os setores de agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura pagaram R$ 4,1 bilhões em tributos no ano passado, 33% a mais do que em 2017. Segundo o CEO da Essent, Giandrei Basso, além de vender o produto no começo do ano fiscal – e não no final –, outras estratégias podem ser adotadas. Uma delas é criar uma parceria rural, onde são repartidos os gastos e os faturamentos dos envolvidos. Para grandes produtores, uma ideia é ter uma holding e dividir a declaração de impostos entre pessoa física e pessoa jurídica. Tudo para acalmar um pouco a fúria do leão.

“Uma reclamação que recebemos dos fazendeiros é de que guardar as notas fiscais é um problema” Giandrei Basso, CEO da Essent Agro (Crédito:Jonatan Brivio)