O engenheiro agrônomo Marcelo Poletti, 39 anos, e o seu colega de profissão Roberto Konno, 42 anos, estão apostando num nicho de mercado promissor: o de produtos biológicos. Após anos de pesquisa acadêmica na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq), de Piracicaba, naturalmente veio a inspiração para criar a Promip, empresa produtora de ácaros predadores para combater pragas que causam prejuízos em culturas como a do morango e a do tomate. Mas, para colocar a ideia de pé, foi preciso muito suor, além da inspiração, pois não basta uma ideia genial para empreender. Não é fácil começar uma empresa do zero e é preciso ultrapassar uma série de obstáculos, principalmente quando se trata de um ramo jovem como o mercado de biológicos, que exige muitos investimentos em pesquisa. “Foram muitas dificuldades financeiras e não existiam clientes para o nosso negócio”, diz Poletti. “Fomos criando oportunidades.” 

Fundada em 2006, a empresa contou com o apoio da Incubadora Tecnológica ESALQTec, vinculada à faculdade, e recebeu investimento de R$ 500 mil da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Em 2008, a Promip migrou de Piracicaba para Engenheiro Coelho, na região de Campinas, e, enquanto aguardava o registro de seus produtos, foi sustentada com a venda de armadilhas para captura e monitoramento de pragas e a produção de organismos-teste para entidades de pesquisa. “Essa foi a alternativa que encontramos para gerar caixa nos primeiros anos”, diz Poletti. Somente em 2010, a empresa obteve o primeiro registro de produto e colocou o pé no acelerador. Em 2013, a startup faturou R$ 2,7 milhões. Agora, Poletti e Konno esperam fechar 2014 com uma receita que pode superar a casa dos R$ 6 milhões. Segundo os sócios, as pesquisas seguem a todo vapor. Eles pretendem produzir também outros insetos para controle biológico, como a vespa trichogramma spp, e estão buscando soluções para controlar pragas como a mosca-branca e o percevejo da soja. Além disso, a Promip vai entrar no segmento de polinizadores, com a venda de colmeias. “A ausência de polinizadores causa uma perda de até 40% da produção de morango”, afirma Konno. “As abelhas são muito importantes para produzir um fruto perfeito e com um bom peso.” 

Para ele, depois que a startup engata em marcha ascendente, não tem quem segure. Vista como um negócio promissor e bem estruturado, a Promip chamou a atenção do Fundo de Inovação Paulista, um fundo de investimentos criado em 2013 pela agência Desenvolve SP, do governo paulista, em parceria com outras entidades, como a empresa pública de inovação e pesquisa Finep, e de um grupo de investidores privados. Esse fundo elegeu a Promip como a primeira apta a receber investimentos, com uma aplicação de R$ 4 milhões. Com a entrada dos investidores, a rotina dos sócios já mudou. Poletti e  Konno passaram a ter reuniões periódicas com os executivos da SP Ventures, a gestora do fundo. “O sistema tributário mudou, agora a Promip tem conselho de administração e vamos aperfeiçoar a nossa visão de negócio”, afirma Poletti. “A empresa está se reestruturando totalmente.” 

O papel do fundo é ser um “sócio passageiro” para alavancar o crescimento da nova empresa, na qual detém de 20% a 49% do capital, por um período de oito e dez anos, prazo em que o negócio é fortalecido, passando a remunerar os investidores. Ao final dessa fase, há três caminhos possíveis: o empreendedor pode comprar a participação do fundo e retomar o controle total do negócio, contar com a entrada de outro  sócio-investidor ou simplesmente vender a empresa. “Quando o empreendedor entende como esse jogo funciona, percebe que o casamento com o capital de risco é vantajoso”, diz Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures. 

Segundo Jardim, esse modelo segue o que ocorre no Vale do Silício, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde essa prática é recorrente. Foram os fundos de venture capital que forneceram os recursos necessários para que empresas como Facebook, Apple e Google deslanchassem e viessem a se tornar as gigantes de hoje. Por aqui, essa cultura ainda está se disseminando. Mas a boa notícia é que os fundos brasileiros estão de olho especialmente no campo. “O agronegócio é o segmento mais inovador, é a grande vocação brasileira”, opina Jardim. Para ele, a vantagem é que o fundo traz não apenas o dinheiro, mas novas competências e experiência na área gerencial. O novo sócio passa um pente-fino nas finanças da empresa e, junto com o empreendedor, desenha um plano estratégico para o futuro. “A gente melhora a gestão e o processo de tomada de decisão”, diz Jardim. “Reduzimos os riscos, mas sem engessar a startup.” De acordo com o presidente da Desenvolve SP, Milton Luiz de Melo Santos, a entrada do capital de risco pode ser uma alternativa muito melhor do que o financiamento. “Uma empresa em  estágio inicial precisa de recursos para investir e demanda um certo tempo para se estruturar e gerar caixa”, diz Santos. “Contar com um sócio profissional é melhor do que se endividar.”

Conhecido por alavancar o financiamento de grandes empresas do agronegócio, como a JBS e a Marfrig, o BNDES tem um fundo destinado a irrigar startups. Trata-se do Criatec, que aplicou R$ 100 milhões em 36 startups, sendo oito delas do campo. Nesse grupo de beneficiados pelos recursos oficiais figura a Enalta, empresa paulista de automação agrícola, fundada em 1999 pelo engenheiro eletrônico Cleber Manzoni, de 42 anos. Em 2010, a Enalta foi escolhida pelo Criatec para receber um aporte de R$ 5 milhões. “A união com o fundo foi um sucesso, a empresa ganhou relevância e hoje tem uma marca muito mais forte”, diz Manzoni, presidente da Enalta. Naquela época, a empresa tinha apenas 15 clientes e uma receita de R$ 2,8 milhões. Em 2013, o faturamento quase quintuplicou, atingindo R$ 14 milhões, enquanto a carteira de clientes aumentou para 120. Agora, Manzoni está finalizando a negociação com outro fundo de investimento. “A Enalta ganhou mercado e agora vamos dar mais um passo para continuar crescendo.”

Para ser contemplada por um fundo de investimento, a palavrachave é inovação. Mas a gestora também avalia o perfil do empresário, afirma Gustavo Junqueira, gestor da Inseed, responsável pelo Criatec, em consórcio com a Antera Gestão de Recursos. “O empreendedor tem de estar motivado, gostar de trabalhar em equipesquisa pe, preparado para receber um novo sócio”, afirma ele. “Assim, a empresa vai alcançar o patamar profissional que queremos.” A Inseed também está à frente de outra empreitada: o Fundo de Inovação em Meio Ambiente (Fima), que conta com recursos da ordem R$ 165 milhões para serem investidos em duas dezenas de startups. O objetivo do Fima é selecionar empresas do setor de tecnologias limpas, startups que apostem no desenvolvimento de uma economia de baixo impacto ambiental, ou que criem inovações para favorecer o desenvolvimento de ciclos produtivos sustentáveis. Até agora, o Fima já escolheu três empresas. Segundo Junqueira, a quarta eleita, em processo de negociação, será uma startup do segmento de sementes. 

Os empreendedores interessados podem entrar em contato com as gestoras, que vão avaliar o empreendimento e, se houver interesse, investir após uma negociação que costuma levar de três a seis meses. Até 2017, o Fundo de Inovação Paulista deverá injetar R$ 105 milhões em 22 startups paulistas. No BNDES, além do Criatec, que já alocou todos os seus recursos, foram criados o Criatec II e III, ambos em andamento. O Fima, por sua vez, com os seus R$ 165 milhões, vai selecionar startups até 2016.