Na maior parte de sua existência mais que centenária, o café produzido na fazenda Baggio, formada no final do século 19 pelo imigrante italiano Salvatore Baggio, em Araras, no interior paulista, era vendido
como mera commodity, sem nenhuma diferenciação em relação à colhida na região. Hoje, uma parte expressiva da produção é vendida diretamente ao consumidor final, com a marca Baggio Café, que concorre na categoria gourmet, em redes sofisticadas como San Marché, Casa Santa Luzia e Empório São Paulo. A responsável pela nova estratégia atende pelo nome de Liana Baggio, bisneta de Salvatore, que em 2006 resolveu instalar uma torrefadora na fazenda. “Quando criei a marca, queria agregar valor ao nosso produto”, diz Liana, que produz 1,2 mil toneladas de café por ano e está investindo na nternacionalização da marca. “Não imaginava que conseguiria exportá-la.”

Para chegar ao mercado externo, Liana conta com a parceria da agência francesa Enivrance, que, através da campanha “Seleção Brasileira de Alimentos”, levará 22 produtos brasileiros para participar de feiras no Exterior, até a Copa do Mundo, que será realizada em junho, no País. “Para participar, as empresas selecionadas teriam de criar um produto inovador e diferente”, afirma Diego Ruzzarin, diretor da Enivrance Brasil. “Levamos quase um ano para criar 13 produtos.” 

Depois de negociar com a Enivrance, Liana, que já produzia a bebida com seis aromas diferentes, entre eles chocolate trufado, açaí e limão, resolveu homenagear o bisavô italiano e, de quebra, criar algo diferente, com a cara do Brasil: o café com aroma de cachaça. “Na Itália é muito comum tomar café com grappa, que é uma bebida alcoólica deles”, diz Liana. “Criamos uma receita para deixar o produto bem brasileiro e assim entrar na Seleção Brasileira de  alimentos.” 

A receita tem feito sucesso, tanto que, após as primeiras exposições na França, na China e nos Estados Unidos, o café com cachaça pode trazer para a torrefadora os primeiros contratos de exportação da
marca. Segundo Liana, a expectativa é vender até quatro mil quilos por mês para a China e para a Rússia. “Ainda não sei quando fecharemos esses contratos, mas as negociações já estão bem avançadas”, diz ela. A Baggio Café ainda participará de outras duas exposições no Brasil – uma no Rio Grande do Sul, e outra no Rio de Janeiro, durante a Copa do Mundo de Futebol. 

Ao todo, tanto a Enivrance Brasil quanto a Apex investiram aproximadamente R$ 5,6 milhões na campanha. “Enquanto a seleção de futebol não entra em campo, a seleção de alimentos segue marcando gols e fazendo sucesso”, diz Ruzzarin.