No ano passado, o mercado brasileiro de máquinas agrícolas, para alívio dos fabricantes, destoou da indústria automotiva, crescendo em ritmo chinês. Enquanto as vendas de automóveis registravam uma queda de 0,9%, o setor bateu seu recorde histórico ao colocar no campo 83 mil unidades de tratores, colhedoras, plantadeiras e retroescavadeiras, ante 69,4 mil unidades em 2012, segundo a Associação
Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Esse desempenho, cerca de 20% superior ao do ano anterior, no entanto, não deve se repetir em 2014. Mesmo assim, os números permanecem de bom tom: a expectativa é fechar o ano com cerca de 70 mil unidades vendidas, 27% acima do que se vendia há cinco anos. Nessa maré de bons ventos para o setor, o Grupo Jacto, com sede em Pompeia, no interior paulista, foi uma das empresas que souberam aproveitar o momento para crescer. “Commodities com preços altos, que aumentaram a renda do produtor, e boas condições de financiamento proporcionaram um período fantástico”, diz Fernando Gonçalves Neto, presidente da Máquinas Agrícolas Jacto, unidade de negócio que tem respondido por cerca de 70% dos resultados da empresa. Em 2013, a receita líquida do Grupo Jacto cresceu 31%, para R$ 1,4 bilhão. 

O grupo, campeão no setor Máquinas e Implementos do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014, é dono de dez marcas, entre elas a Rodojacto, que fabrica semireboques para caminhões,
a Mizuno, com sistemas para tratamento de esgoto, e a Sintegra, de peças para cirurgias e a indústria farmacêutica. Mas a grande especialidade da companhia sempre foram as máquinas agrícolas, como pulverizadores, colhedoras e tecnologias para a agricultura de precisão. “Investimos 5% do faturamento em pesquisa e apostamos na inovação, com o objetivo de dar maior produtividade para o agricultor”, diz Gonçalves Neto. Segundo ele, o desempenho promissor reflete o legado do fundador da Jacto, o imigrante Shunji Nishimura, um defensor do trabalho árduo e da teoria de que ninguém cresce sozinho. “Por isso, a filosofia da empresa é ter uma visão de longo prazo e nunca deixar o cliente desamparado”, diz Gonçalves Neto. Não à toa, a logomarca do grupo leva o trevo de três folhas, um símbolo de perseverança usado há mais de cinco séculos como brasão dos Nishimura, uma tradicional família japonesa. 

Para 2015, num ambiente de negócios que deverá ser mais cauteloso, a Jacto tem uma posição firme. Para Jorge Nishimura, presidente do conselho de acionistas do grupo, a oscilação das vendas no mercado agrícola acontece de tempos em tempos e ninguém fica surpreso quando elas caem. “O que fazemos nessas circunstâncias é adequar as nossas estratégias para o período e seguir em frente”, diz Nishimura, um dos seis filhos do fundador Shunji. Segundo João Carlos Marchesan, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e da câmara setorial do Ministério da Agricultura, o setor prevê uma turbulência passageira. “O prognóstico para o próximo ano é um pouco difícil, com redução das vendas em torno de 15% na comparação com 2014”, afirma Marchesan. “Mas o mercado tem um grande potencial, a agropecuária não vai parar de crescer e as perspectivas para o longo prazo são favoráveis.” 

Para Gonçalves Neto, as perdas no mercado interno poderão ser compensadas por um incremento nas exportações, que representam cerca de 20% do faturamento da empresa. Atualmente, a Jacto vende para mais de 100 países. “As exportações devem avançar e, com o câmbio favorável, ganhamos competitividade no Exterior”, diz Gonçalves Neto. Para o mercado interno há algumas estratégias em análise. Entre elas está a ampliação do consórcio Jacto, principalmente para a compra de pulverizadores e de adubadoras automotrizes. As vendas do consórcio, que no ano passado representaram 1,9% do faturamento do grupo, devem subir para 8%. “O consórcio é uma ferramenta que será cada vez mais importante para nós.”