Conforme a colheita dos quase 30 milhões de hectares de soja avança pelo País, principalmente em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná, dezenas de milhares de caminhões, dos mais diferentes portes, vão tomando conta do 1,5 milhão de quilômetros de rodovias brasileiras. A missão: transportar 90 milhões de toneladas da oleaginosa que estão sendo colhidas na safra 2013/2014 e que, sem exceção, saem das fazendas pela via rodoviária. Desse total, quase a metade precisa chegar aos portos, enquanto o restante deverá ficar no País para o consumo interno. Até agora, a movimentação não gerou grandes transtornos, como o ocorrido em julho do ano passado. No auge do escoamento da safra, filas de mais de 50 quilômetros de veículos congestionaram rodovias e acessos a portos, especialmente em Santos, o principal terminal marítimo brasileiro, no litoral paulista. Mas é só uma questão de tempo, dizem os especialistas. Há quem aposte que a partir deste mês o agronegócio brasileiro mais uma vez voltará a se deparar com um dos principais fatores que embaçam sua competitividade no mercado mundial da oleaginosa: a falta de infraestrutura logística.

A previsão para os próximos meses é de que a malha rodoviária, assim como os portos, volte a provocar grandes desconfortos. “A qualidade das rodovias pouco mudou do ano passado para cá”, diz Bruno Batista, diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), entidade que representa 70 mil empresas de transporte e 1,9 milhão de caminhoneiros. “Os caminhões enfrentam praticamente os mesmos problemas estruturais para trafegar pelo País e para chegar aos portos.” Segundo Batista, as más condições das rodovias brasileiras geram um aumento médio de 25% no custo operacional do transportador. “É um preço muito alto a ser agregado ao valor do frete”, afirma ele. Há três anos, a EC Consultoria em Comércio Internacional, de São Paulo, calculou que o agronegócio perdia US$ 4 bilhões por safra, em função da logística deficiente. De lá para cá, pouca coisa mudou. “Muitas vezes o frete chega a valer mais do que o produto transportado”, diz Batista.

Patrocinado pelo governo  federal, o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), que completa dois anos no próximo mês, promoveu licitações para concessões e investimentos que, embora representem um avanço na direção da solução dos problemas acumulados, ainda se mostram insuficientes para atender às necessidades do agronegócio. O PNLT prevê injetar mais de R$ 300 bilhões na melhoria do transporte do País, até 2030. “Mas o governo tem dificuldade burocrática para acelerar esse investimento”, diz Batista. Segundo ele, dos R$ 12 bilhões previstos para investimentos em rodovias, em 2013, apenas R$ 8,2 bilhões foram aplicados. No total, o PNLT projeta gastos de R$ 47 bilhões em sete mil quilômetros de rodovias nos próximos 16 anos. “Mas, mesmo que o governo consiga investir esse volume de dinheiro até 2030, ainda é pouco para resolver o problema das estradas”, afirma Batista. De acordo com a CNT, são necessários cerca de R$ 355 bilhões apenas para acabar com os gargalos da malha rodoviária do País. No ano passado, 64% dos quase 97 mil quilômetros da malha federal pavimentada, e das principais rodovias estaduais, apresentavam alguma deficiência no pavimento, na sinalização ou em seu traçado. A desobstrução desse gargalo é impostergável. Afinal, o transporte rodoviário representa quase 60% das cargas movimentadas no País. Do restante, 25% segue por ferrovias, 13% por navegação de cabo tagem e os demais são feitos via aérea e por dutovias.

No curto prazo, o governo apela para alguns paliativos. Segundo Miguel Masella, secretário- executivo do Ministério dos Transportes, a pasta propôs algumas alternativas imediatas para melhorar o escoamento de grãos nesta temporada. Masella diz que para este ano há R$ 15,6 bilhões destinados a medidas de curto prazo em obras rodoviárias. Uma das rodovias que receberão uma parte dessa verba é a BR-163, que liga Cuiabá a Santarém, no Pará. “A BR-163 está no planejamento logístico de transportes como uma das principais vias de escoamento da produção das regiões Centro-Oeste, principalmente de Mato Grosso, e Norte do País. Estamos de olho nisso”, diz Masella. “Apenas no trecho que vai de Sinop, no médio Norte, até Rondonópolis, no Sul do Estado, são escoados mais de 20 milhões de toneladas de grãos por ano.”

Ainda segundo o secretário-executivo, o trecho que liga Guarantã do Norte, próximo da divisa do Estado de Mato Grosso com o Pará, até Miritituba, às margens do rio Tapajós, onde está  localizado o porto fluvial, tem 760 quilômetros de estradas. Até o mês passado, 550 quilômetros desse trajeto já estavam asfaltados. “A obra vai garantir a trafegabilidade da soja rumo aos portos da região Norte”, diz Masella. Há quem duvide que isso ocorra nesta safra. No trecho ainda sem asfalto, entre Miritituba e Sorriso (MT), cuja distância é de mil quilômetros, mais de 20 quilômetros são de puro atoleiro em época de chuva. Masella diz que, para minimizar o problema, no mês passado o governo federal, com ajuda do Exército, começou a colocação de pó com brita nesse trecho de tráfego mais complicado.

Nos portos, a medida imediata para reduzir as filas de caminhões é a obrigatoriedade de agendamento para descarregar os grãos. A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) determinou penalidades, caso haja descumprimento das regras determinadas pelo Controle de Segurança dos Portos (Codesp). A multa para o terminal pode chegar a R$ 2 mil por veículo em situação irregular e até a R$ 20 mil por veículo que interromper o trânsito portuário. “O agendamento está funcionando bem até agora”, diz Batista. “Nos próximos meses, as filas de caminhões podem se formar, mas será nas divisas de Estado e não nos portos.” As novas regras mostraram embarques tranquilos de soja, farelo e milho pelo corredor de Paranaguá, que em janeiro atingiu o maior volume da história do porto para o mês. Foram exportadas 983 mil toneladas de grãos, volume 12% superior a janeiro de 2013. O número de carretas estacionadas no desembarque foi de 20,7 mil, 19% a mais.