Todo pecuarista que investe individualmente em produção de carne diferenciada tem por objetivo o reconhecimento financeiro. No entanto, os melhores resultados são alcançados quando são tocados por conjuntos de produtores. Atualmente, os programas de qualidade de carne administrados por associações ou grupos de criadores têm o maior poder de negociação e são bem-vistos pelas empresas frigoríficas. Na prática há quem ganhe até 10% a mais do que o preço de mercado local por entregar um produto com características especificas de idade, peso, acabamento que serão negociados em nichos de mercado. Quem não gostaria dessa bonificação?

Em 2012, quem mais entregou animais para abate dentro de um programa foi a Fazenda São Marcelo do Grupo JD, localizada em Tangará da Serra (MT), que pertence aos antigos controladores da rede de supermercados Carrefour, a francesa Defforey. É ela a vencedora do prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL na categoria Carne de Qualidade. Sozinha, a São Marcelo envia para o Nelore Natural, da Associação de Criadores de Nelore do Brasil, quatro mil animais por ano. A Nelore, que reúne 500 pecuaristas, paga uma bonificação máxima de 4%, que dobra com outras bonificações concedidas pelo frigorífico Marfrig.

A fazenda São Marcelo, em especial, consegue com esse acréscimo ser a primeira brasileira e uma das únicas empresas mundiais a conquistar a certificação Rainforest Alliance, direcionada às práticas ambientais, sociais e de produtividade. Apenas ela e a Unilever receberão o certificado nos Estados Unidos neste ano. Por sua produção diferenciada, também foi a primeira brasileira a conseguir a certificação de bem-estar animal, concedida pela Ecocert Brasil.

Arnaldo Johannes Eijsink, responsável pelas atividades da pecuária do Grupo JD, diz que a maior produtividade por área e carne de qualidade exige investimento e modernização. “O pecuarista tradicional que não investir não terá vida longa”, afirma. Ele cita como exemplo de inovação práticas como a adubação de pastagem, controle zootécnico, reprodução com touros provados por programas de melhoramento e confinamento estratégico, entre outros. A São Marcelo abriga, atualmente, um rebanho de 40 mil bovinos, dos quais 11 mil são matrizes nelore.

Além de volume, na carne de qualidade, uma das principais preocupações dos pecuaristas está na uniformidade do produto. Por esse motivo, a Novilho Precoce MS tem índice de 80% a 90% de animais classificados dentro do padrão das parcerias. Líder em uniformidade, Elo Ramiro Loeff, de Água Clara, MS, está muito próximo dos 100% e também figura entre os que mais entregam reses. Com um grupo estruturado, com 300 associados e iniciado há 15 anos, as bonificações variam em 14 categorias e podem chegar a um acréscimo de R$ 8 por arroba para determinada categoria de macho, representando quase 10% sobre o valor de mercado.

A Associação Brasileira de Hereford e Braford, por seu turno, encabeça desde 2000 o projeto da Carne Pampa, com cerca de 2.500 produtores inscritos, a maioria deles do Rio Grande do Sul. Atualmente, quem mais entrega animais no programa são os irmãos Waldomir, Vandi, João e Moacir Coradini, que também atuam no mercado de arroz. “Participar do programa de qualidade garante maior fidelidade para a venda do produto”, diz Waldomir sobre a recompensa de não ficar à mercê das flutuações de compra dos frigoríficos. Ele também cita a bonificação como um ganho que compensa o investimento no maior controle, rastreabilidade e exigências nutricionais. No Hereford, onde a premiação máxima, dependendo do tipo de animal e fornecedor, pode chegar a 10%, a maioria dos participantes recebe de 6% a 7% de prêmio por arroba produzida. O Angus, por meio da Associação Brasileira de Criadores, desde 2003, também tem um programa de qualidade, subdividido em diversas marcas e parceiros. Seu objetivo, como dos demais grupos, é a melhoria dos processos e produtos ao longo da cadeia produtiva, beneficiando todos os participantes.