A despeito das diferenças que seguramente têm entre si, as três maiores gigantes do agronegócio que se destacam no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2014 exibem algumas importantes características em comum. Têm a produção em seus DNAs, são cuidadosas e astutas nas tomadas de decisão e mantêm uma cultura empresarial focada em princípios, apostando no aprimoramento dos processos e na valorização das pessoas. A JBS, maior empresa global de proteína animal, é a campeã da categoria Agronegócio Direto – Conglomerados. Nesse grupo, a americana Cargill, uma das maiores processadoras de alimentos do mundo, apresentou a Melhor Gestão Financeira. A Raízen, líder nacional da produção de etanol, formada pela joint venture entre a brasileira Cosan e a anglo-holandesa Shell, obteve o troféu de Melhor Gestão Corporativa. 

De acordo com Wesley Batista, CEO global da JBS, o ato de gerir e administrar tem uma relação direta com os princípios estabelecidos desde que a empresa foi criada, em 1953. “Nós acreditamos no trabalho duro, no foco e no exemplo”, diz. 

“Também cremos que tudo precisa ser conquistado, jamais imposto.” No ano passado, a JBS, controlada pela holding J&F, faturou R$ 92,9 bilhões. No País, ela é a segunda companhia pelo critério de receitas, atrás apenas da Petrobras, e a maior do agronegócio. Não por acaso, ela é a Empresa do Ano nessa edição de AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL.

Para deslanchar no mercado mundial, a partir da decisão de internacionalizar-se, tomada em 2007, a JBS, atualmente com 200 mil funcionários, apostou na profissionalização de seus quadros.  “Às vezes, o mercado ainda associa a empresa à nossa pessoa, à família Batista, mas a JBS é hoje uma organização toda profissionalizada, tocada por um corpo diretivo de altíssimo nível”, diz Batista. Segundo ele, os resultados financeiros crescentes são frutos da governança dos últimos sete anos. “Sem falsa modéstia, conseguimos implantar nossa cultura onde fomos, dentro de princípios rígidos”, afirma. “Todos os líderes, sem exceção, têm o mesmo perfil de acreditar no que nós acreditamos.” Uma pesquisa com dez diferentes públicos, realizada em setembro pela consultoria espanhola Merco, em parceria com o Ibope, mostra pela primeira vez a JBS entre as 100 empresas com melhor reputação corporativa do Brasil, escolhida pelos diferentes stakeholders da empresa, como clientes, sindicatos, analistas financeiros, consultores e representantes das comunidades em que atua. 

A exemplo da JBS, na Cargill Agrícola, instalada no Brasil desde 1965, comandada pelo executivo Luiz Pretti, interagir com seus diversos públicos é um mandamento observado com rigor. O portfólio da empresa é gigantesco e inclui processamento de soja, algodão, tomate, cacau, açúcar, etanol, adoçantes, óleos e gorduras vegetais, óleos industriais, além de energia e prestação de serviços bancários através do Banco Cargill. A companhia faturou no ano passado R$ 24,8 bilhões, quase 5% acima de 2012. 

“Os investimentos da Cargill mostram um compromisso muito forte com o País e com a sociedade brasileira”, diz Pretti, orgulhoso da premiação na categoria de Gestão Financeira (no ano passado,
a Cargill foi a Empresa do Ano no anuário da DINHEIRO RURAL). Ele cita como exemplo, o investimento de R$ 500 milhões no ano passado para implantar no município de Castro, no Paraná, a
primeira biorrefinaria do País para processar milho. “Além do diálogo permanente com a população e as autoridades locais, a Cargill contribuiu, com essa operação, para atrair nossos fornecedores 
ao município, promovendo a geração de empregos e renda”, afirma Pretti.

Nos últimos cinco anos, a Cargill investiu US$ 1,2 bilhão no Brasil. Além da expansão física da empresa, faz parte do pacote de investimento a aposta em logística. Em 2014, foram desembolsados
US$ 140 milhões para ajustar as operações no porto de Santarém, no Pará. A capacidade de transporte deverá passar dos dois milhões de toneladas atuais para cinco milhões de toneladas.
Outros US$ 70 milhões foram aplicados em outro terminal paraense, o de Miritituba. De acordo com Pretti, a Cargill possui sob sua responsabilidade 600 navios circulando o tempo todo no mundo.
“Ou estão levando soja do Brasil para a China, ou trazendo potássio dos Estados Unidos para cá, ou para qualquer outra parte do mundo”, diz. “Tudo está mudando com pessoas e processos.”

A Raízen, controlada pelo empresário paulista Rubens Ometto, o maior usineiro do País, e pela Shell, destacou-se nesta edição por sua capacidade para gerir processos e pessoas. No ano passado, a empresa faturou R$ 9,4 bilhões, ante R$ 8,4 bilhões em 2012. A Raízen possui cerca de 870 mil hectares de área cultivada, 4,7 mil postos de combustíveis, 24 unidades de produção de açúcar, etanol e bioenergia, 60 terminais de distribuição e 40 mil funcionários. De acordo com o presidente Vasco Dias, a gestão corporativa é um dos pilares do sucesso da companhia. “Para uma empresa do porte da Raízen, que está entre as cinco maiores do Brasil em termos de faturamento no seu setor, é fundamental ter uma governança definida e consolidada”, afirma Dias. “Os processos precisam ser claros, com planejamento de longo prazo e metas que direcionem as decisões de investimento.” 

Assim como ocorre com as demais empresas do setor sucroenergético, os tempos atuais não têm sido fáceis para a Raízen, seja em função de problemas climáticos, seja pela falta de uma política pública consistente de valorização do etanol. Dias afirma que é preciso se reinventar constantemente. “Os últimos anos têm sido bastante desafiadores, porque são poucas as empresas com recursos para investir na ampliação da produção”, diz o executivo. No caso da Raízen, os  resultados têm sido positivos porque a companhia tem um estilo de gestão alinhado com as metas dos acionistas. “É essencial a sinergia entre o corpo gerencial, a direção executiva e o conselho de administração”, diz o executivo. “Sem ela, não há como tomar decisões estratégicas pensando na perpetuação da companhia.”

Um exemplo de estratégia com olho no futuro é a inauguração, prevista para os próximos meses, da primeira usina da Raízen a processar etanol de segunda geração a partir da palha e bagaço da cana, a exemplo da baiana Granbio. O biocombustível será produzido na usina Costa Pinto, em Piracicaba, no interior paulista. A unidade, com capacidade para produzir 40 milhões de litros por ano, demandou
investimentos de R$ 230 milhões. Está nos planos da Raízen a construção de outras sete unidades de etanol celulósico até 2024, para adicionar à atual produção mais um bilhão de litros do biocombustível, por safra. “Para isso, o capital humano é fundamental”, afirma Dias. “É preciso acreditar na capacidade das pessoas e na meritocracia.