Na relação que andava estremecida, entre o governo da presidenta Dilma Rousseff e os produtores rurais, o anúncio do agricultor Neri Geller para ministro da agricultura, no dia 13 de março, ecoou como um sinal de trégua bem-vinda no setor. Mesmo aborrecidos com os eternos problemas do agronegócio – de estradas mal cuidadas, a portos lotados, seguro ineficiente e tributação excessiva –, não houve voz que se levantasse para contestar a decisão da presidenta. Geller tem, de fato, trânsito livre entre os produtores rurais, que o consideram um dos seus. “Minha base está na agricultura e conheço com profundidade o desenvolvimento agropecuário”, disse Geller em sua primeira agenda como ministro, dois dias após a sua posse, durante o principal fórum nacional do Conselho de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e inovação, em Cuiabá (MT), que acontece todos os anos. “É uma satisfação estar no meu estado, após assumir o ministério.”

Geller, nascido em Selbach, cidadezinha de cinco mil habitantes no noroeste do rio Grande do Sul, deci- diu, em 1984, virar agricultor e empresário em lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, um dos principais municípios produtores de grãos do País. Em Lucas, foi vereador por dois mandatos pelo PSDB e, a partir daí, deputado federal pelo PP. No ano passado, aos 45 anos de idade, Geller se filiou ao PMDB e assumiu a Secretaria de Política agrícola, órgão do Ministério da agricultura. nessa trajetória, o senador por Mato Grosso Blairo Maggi (PR), um dos principais produtores de soja do País e ex-governador do estado, foi uma presença constante na vida do ministro e trabalhou para que a sua indicação fosse efetivada.

“Tenho uma relação de muito respeito pelo Geller, porque até poucos anos atrás ele podia ser encon- trado facilmente em cima de um traor, plantando e colhendo”, diz Maggi, que defendeu publicamente a indicação de Geller ao ministério, inclusive em conversa com a presidenta Dilma Rousseff. “Tenho certeza de que o novo ministro vai fazer uma defesa intransigente do setor”, diz. “Se não der para ir em frente em alguma demanda, faz parte da política negociar, mas ele não vai abaixar a cabeça.”

Como um dos convidados espe- ciais do Global Agribusiness Forum (GAF 2014), realizado no dia 24 de março, em São Paulo, Geller reafirmou que os produtores podem contar com ele. Acostumado a ouvir e ponderar, o novo ministro raramente altera o tom de voz. “Estou como ministro para contribuir com o setor”, afirmou. “Porque produtor rural sabe como fazer.  Não foi por acaso que no milho, por exemplo, elevamos o cultivo de 18 milhões de toneladas, em 2012, para 27 milhões na safra passada.” O GAF é organizado a cada dois anos pela Sociedade Rural Brasileira e pela consultoria Datagro. Neste ano, a revista DINHEIRO RURAL foi a parceira oficial de mídia, para o evento que reuniu 1,2 mil pessoas, entre autoridades internacionais, nacionais e produtores, e um público estimado em 36 mil pessoas que acompanhou os debates pela internet, incluindo nesse grupo alunos de 17 universidades brasileiras. “Os desafios de um país como o Brasil não são pequenos”, disse o economista Plínio Nastari, presidente da Datagro, ao se referir ao ministro. “É preciso planejar o futuro para que a produção cresça e atenda consumidores cada vez mais exigentes.”

Alguns dias depois do GAF, durante um encontro promovido pela Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), em Brasília, o ministro anunciou que até o fim deste mês será apresentado o Plano Safra 2014/2015, que começa em julho. Na safra em andamento, o governo federal destinou R$ 136 bilhões para a agricultura empresarial e R$ 21 bilhões para a fami- liar, destinados às operações de custeio e investimento. Geller não adiantou valores, mas certamente eles serão maiores que os do plano passado. O ministro disse que o governo estuda a possibilidade de ampliar o volume de recursos para financiar a armazenagem no País, capaz de abrigar a produção de grãos, que deve chegar a 188,7 milhões de toneladas nesta safra. Atualmente, a capacidade do sistema é de pouco mais de 144 milhões de toneladas, guardadas em 176 armazéns públicos e em cerca de 34 mil privados. “As questões logísticas estão sendo destravadas e o Brasil vai avançar muito nos próximos anos”, afirmou Geller. No plano passado, foi feita uma primeira tentativa para sanar de vez a falta de logística de armazenagem, com a criação do Programa para a Ampliação e Construção de Armazéns (PCA). A dotação de R$ 4,5 bilhões, com condições muito favoráveis de 3,5% de juro ao ano, prazo de 15 anos para quitação e três anos de carência, atraiu os produtores. “Somente nos primeiros oito meses do programa, cerca de R$ 2,9 bilhões foram emprestados”, disse Geller. Quem entrou na fila pegou o dinheiro em 40 dias.