Minas Gerais não é o maior celeiro agrícola brasileiro. Mas foi o Estado que acabou decidindo o novo rumo do Ministério da Agricultura. Explica-se: a troca do titular da pasta pela presidenta Dilma Rousseff teve como pano de fundo um pedido do PMDB mineiro e a necessidade de garantir o apoio do partido nas eleições para presidente e governador do próximo ano. Saiu o deputado federal Mendes Ribeiro, do PMDB gaúcho, amigo desde os anos 1980 de Dilma, e entrou o também deputado federal Antônio Andrade, presidente do PMDB mineiro, pecuarista de Vazante, no noroeste mineiro. “Tenho certeza de que o Antônio Andrade estará à altura desse ministério que tem, no Plano Safra, um grande desafio”, afirmou Dilma, na cerimônia de posse do ministro, no dia 16 de março. Outros desafios, de acordo com a presidenta, são a criação de uma política de incentivos para a pesquisa e a inovação, a criação de uma agência de assistência técnica e uma nova política de armazenagem.

Andrade tem 59 anos e nasceu em Patos de Minas, no Alto Parnaíba. Entrou no PMDB em 1987, e dois anos depois foi eleito prefeito de Vazante, onde é dono de fazendas de gado leiteiro. Nos anos seguintes foi deputado estadual por três mandatos e desde 2008 é deputado federal. No Congresso, criou a Frente Parlamentar da Cadeia Produtiva do Leite e foi membro da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Na Frente Parlamentar da Agropecuária, não se notabilizava como um dos mais atuantes entre seus 230 integrantes, segundo entidades do setor. Sua base eleitoral fica no noroeste, Alto-Paranaíba, Triângulo Mineiro e centro-oeste, justamente as maiores regiões produtoras de grãos e carnes do Estado.

O novo titular do Ministério da Agricultura assume em meio à colheita de uma safra recorde de grãos – 183 milhões de toneladas – e ao caos provocado pela dificuldade de transportar a produção até os portos. Em maio, o governo deve anunciar o novo Plano Safra, com um volume de recursos em torno de R$ 130 bilhões – no ano passado foram R$ 115,2 bilhões –, com juros menores e melhores condições de pagamento. Mas as entidades que representam os produtores reclamam da falta de incentivo ao seguro, que garantiria a renda do produtor em caso de problemas climáticos. Andrade diz que ainda está tomando pé da situação, mas já definiu algumas prioridades. “Vamos implementar ações para aumentar a produtividade do setor agropecuário”, disse o ministro à DINHEIRO RURAL. “Outro foco importante será o pequeno produtor.”

A escolha do ministro agradou às entidades do agronegócio. “O novo ministro é um homem do setor”, diz a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Mas ela não deixa de cobrar as reivindicações que já vinha fazendo ao ministro anterior, como um Plano Safra para um período maior, com recursos e condições definidas por quatro ou cinco anos. “A agricultura não pode mais trabalhar no improviso, com um plano a cada ano”, diz Kátia. A CNA também quer uma atenção maior do governo à abertura de novos mercados. “Já perdemos uma grande oportunidade quando negamos a Alca.”

O presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, elogia a escolha de Andrade, mas acredita que a troca constante de ministros é sinal de desprestígio do ministério. “Tivemos ministros excelentes nos últimos anos”, diz Ramalho. “Mas o ministério tem perdido importância política.” Andrade é o sexto ministro a assumir o cargo, desde 2003, o que dá uma média de menos de dois anos de permanência para cada um.Nesse período, quem ficou mais tempo no cargo foi o paranaense Reinhold Stephanes. Ministro entre 2007 e 2010, ele deixou o posto para disputar mais um mandato como deputado federal.

A mesma trajetória deve ser seguida pelo atual ministro, que pretende deixar o cargo em julho de 2014 para disputar a reeleição ao Congresso. “Temos um ministro que tem data para sair”, reclama Ramalho, da SRB. De fato, existe um rumor de que o novo ministro possa sair como candidato nas próximas eleições. Caso isso ocorra, ele precisará deixar o cargo, algo que preocupa o setor, que depende de políticas de continuidade.