Poucos segmentos sofreram tanto com as incertezas políticas no Brasil quanto o setor sucroenergético. O controle dos preços da gasolina – aliado ao aumento nos custos de produção do etanol – tirou a competitividade do combustível renovável nos últimos anos. O endividamento cresceu e muitas usinas não resistiram. A partir de 2015, porém, esse cenário adverso finalmente começou a mudar. Agora, com uma demanda interna por etanol forte, preços competitivos e o açúcar em alta no mercado internacional, o otimismo voltou ao setor. Mas as incertezas macroeconômicas ainda preocupam.

“As perspectivas para 2016, do ponto de vista de mercado, são positivas”, afirma Luiz Mendonça, presidente da Odebrecht Agroindustrial, uma das maiores empresas do setor sucroenergético em operação no Brasil. De acordo com o executivo, o único temor do setor é o aprofundamento da crise econômica, que levaria um uma restrição de crédito e poderia colocar algumas empresas em risco. “É um setor endividado, que tem linhas de crédito de curto prazo. Com o  agravamento da crise, essas linhas de crédido podem ficar menos disponíveis ou muito mais caras”, explica.


“A integração tecnológica tem potencial para triplicar o rendimento por hectare” Luiz Mendonça, presidente da Odebrecht Agroindustrial

O setor já está plenamente recuperado?
As perspectivas são positivas. Devemos ter uma demanda forte tanto por etanol, pela necessidade da frota brasileira, e também a confirmação da recuperação do mercado mundial de açúcar. Tudo isso deve ajudar a sustentar os preços.

A boa fase, desta vez, será duradoura?
O setor é redescoberto, sobretudo no Brasil, pela questão da sustentabilidade. O etanol, eu acredito, volta com muita força na pauta de sustentabilidade, apoiado pela COP 21.

Ainda existe espaço para crescimento da produção?
O setor tem investido no etanol de segunda geração, para aumentar o rendimento dos canaviais. Mas o mais importante ainda está por vir. A tecnologia vista nos grãos nos últimos anos ainda não chegou aos canaviais. Isso está para ser feito nos próximos três a cinco anos.

Mendonça, porém, acredita que desta vez a recuperação do setor será definitiva, reforçada pelas questões ambientais e pelos compromissos de redução de emissões firmados pelo Governo brasileiro na COP 21. “Eu acho que quando a presidente anuncia que o país tem um objetivo de reduzir fortemente as emissões de gases de efeito estufa, que pretende ter 40% de sua matriz energética renovável, isso sem dúvida nenhuma recoloca o etanol, seja como biocombustível, seja como energia limpa a partir de biomassa, à frente de novo”, segue o executivo.

Nas usinas mais modernas, a geração de energia a partir da biomassa da cana-de-açúcar, vendida quase sempre no mercado livre, ajuda a reforçar o caixa das empresas. No entanto, a grande maioria da energia disponível nos canaviais brasileiros ainda é desperdiçada. Estima-se que o potencial de geração das usinas de cana-de-açúcar chegue a 20,2GW médios até 2023 – mais de quatro vezes a geração prevista para a polêmica hidrétrica de Belo Monte. Mas os investimentos necessários para a adaptação das plantas mais antigas são elevados e só devem ser realizados quando houver uma clara definição da política de preços energéticos o Brasil.

Por ora, o principal objetivo das empresas é aumentar a eficiência nos canaviais. O setor já fez grandes investimentos nos últimos anos, especialmente em mecanização e treinamento de pessoal. Mas ainda existe muito a ser feito. Muita tecnologia deve chegar às lavouras de cana nos próximos anos. “A gente deve ter muito brevemente variedades de cana-de-açúcar geneticamente modificadas, resistentes a variações climáticas, às pragas. A integração tecnológica tem potencial para triplicar o rendimento por hectare em termos de etanol, açúcar e energia”, afirma Mendonca.

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com cerca de 630 milhões de toneladas processadas na última safra. O país é também o maior produtor e exportador de açúcar do mundo, com 36 milhões de toneladas produzidas e 24 milhões de toneladas exportadas no período. O Brasil ainda colocou no mercado 28 bilhões de litros de etanol, o que faz do país o segundo maior produtor global do biocombustível, atrás apenas dos Estados Unidos.

A entrevista completa, em vídeo, pode ser acessada abaixo:

ESPECIAL PERSPECTIVA – RURAL 2016

Ano gordo para a pecuária

No embalo das carnes

Cenário desefiador para os defensivos