Os despachos no terceiro andar do Palácio do Planalto não serão novidade para a nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu. Em seu primeiro mandato, não foram poucas as vezes em que a presidenta
Dilma Rousseff recebeu a senadora pelo PDMB de Tocantins e presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) para discutir assuntos do setor. A goiana, que se tornou agropecuarista por acidente, com a morte prematura do marido, no fim dos anos 1980, impressionou-se com o interesse de Dilma pelo assunto, desde o primeiro encontro, quando abriu o mapa do Brasil e mostrou a longa estrada percorrida pela produção agrícola, do Centro-Oeste, Norte e Nordeste até os portos do Sul e Sudeste. Apesar da pouca familiaridade com o tema, a presidenta compreendeu que era preciso melhorar a infraestrutura para reduzir o desperdício e aumentar a rentabilidade da produção nacional de grãos, hoje na casa dos 200 milhões de toneladas anuais. Na cerimônia de posse no Ministério, no dia 5 de janeiro, a ministra prometeu promover o diálogo com o campo, atendendo aos produtores de todos os portes. “Este será o ministério dos produtores rurais, sem nenhuma espécie de divisão ou segregação, e das empresas”, afirmou.

A escolha de Kátia foi uma decisão pessoal de Dilma, que enfrentou resistências de várias frentes, de ambientalistas a integrantes do seu próprio partido, além dos defensores da permanência no posto de seu antecessor, o ministro Neri Geller, que assumiu o posto em março de 2014, indicado pelo PMDB de Mato Grosso. A posse, apesar da presença de vários colegas do Senado, não contou com a participação de representantes do partido na Câmara dos Deputados. Para os ambientalistas, Kátia defende o desmatamento em detrimento da preservação. Em 2010, ela recebeu da organização Greenpeace o prêmio Motosserra de Ouro, que já fora conferido no passado a outro senador, Blairo Maggi, do PR de Mato Grosso, e um dos donos do grupo Amaggi. Nos últimos anos, é verdade, a presidente da CNA se esforçou para desfazer essa imagem, sempre citando a importância do respeito ao meio ambiente para a sustentabilidade do setor. Em sua primeira entrevista já como ministra, no entanto, provocou polêmica ao sustentar que o Brasil não tem mais latifúndios. A afirmação foi criticada por lideranças de sem-terra e combatida pelo petista mineiro Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário, pasta responsável pela reforma agrária. “Ignorar ou negar a existência da desigualdade e da injustiça é uma forma de perpetuá-la”, disse Ananias. 

Entre os políticos, sua nomeação enfrentou a resistência tanto do PT quanto do PMDB, que preferia escolher outro representante. Os produtores rurais ficaram divididos. O deputado federal Luis Carlos Heinze (PPRS), plantador de arroz no Rio Grande do Sul e líder da Frente Parlamentar Agropecuária, que reúne 214 deputados e senadores, diz que a presidente da CNA sempre foi muito competente e atuante, e que a aproximação com Dilma foi positiva para o setor. “Acho que ela vai fazer um bom trabalho”, afirmou. Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), também 
acredita que a escolha é positiva, especialmente pela densidade política da senadora. “Ela vai trazer um prestígio que o Ministério da Agricultura realmente precisa”, diz ele. Não é essa, no entanto, a opinião das lideranças da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato). “Ela é competente, mas já tem muitas atribuições, como presidente da CNA e senadora”, diz o presidente em exercício da entidade, Normando Corral, que preferia a permanência de Geller, produtor do Estado.

Com ou sem unanimidade do setor, a nova ministra da Agricultura terá grandes desafios pela frente. O principal deles é a implantação da infraestrutura necessária para reduzir os custos de escoamento da safra e aumentar a renda do produtor. No ano passado, o setor exportou US$ 101 bilhões e gerou um superávit comercial de US$ 83,3 bilhões. O plano de estradas, ferrovias e hidrovias já existe, mas
ainda há muito para ser feito. A crise do setor sucroalcooleiro, por sinal, marcada pelo fechamento de dezenas de usinas de etanol, é outro problema. Os produtores também reclamam da falta de segurança jurídica, tanto nas relações trabalhistas quanto na questão de sem-terras e demarcações indígenas. Kátia prometeu desburocratizar o Ministério, acelerar a aprovação do registro de agroquímicos e
estabeleceu como meta dobrar a classe média rural nos próximos quatro anos. Hoje, segundo ela, 70% dos produtores rurais são das classes D e E, e apenas 15%, cerca de 800 mil, estão na classe C.