Frigoríficos

E m abril de 2016, dois executivos do Saudi Agricultural and Livestock Investment (Salic UK) desembarcaram no Brasil para uma missão: tomar posse no Conselho de Administração da Minerva Foods, com sede em Barretos (SP), até então um negócio essencialmente brasileiro. Isso porque o Salic, fundo público de investimentos da Arábia Saudita, havia comprado por R$ 746 milhões, no final do ano anterior, 20% das ações da Minerva. Esse foi o passo mais ousado em toda a história da família de Edivar Vilela de Queiroz, que começou no agronegócio em 1957 criando gado e transportando animais. Com dinheiro no bolso, e fiel à sua origem boiadeira, a empresa conseguiu expandir os seus negócios. No início deste ano, a Minerva comprou as unidades da JBS na Argentina e no Uruguai, por US$ 300 milhões, equivalentes a R$ 1 bilhão. Essas operações darão ainda mais musculatura para a empresa que não para de crescer.Em 2016, a receita da companhia com a venda de carne bovina in natura e processada, mais couro e gado vivo nos mercados interno e externo foi de R$ 9,6 bilhões, 1,3% acima do ano anterior.

A previsão é de que a receita de 2017 chegue próxima de R$ 11 bilhões. “Os indicadores operacionais e financeiros atestam a eficiência das operações e a solidez das nossas ações”, afirma Fernando Galletti Queiroz, 49 anos, CEO da companhia e um dos principais acionistas. “Esse desempenho se deve à criação de programas para padronizar processos, reduzir a volatilidade dos resultados operacionais e elevar a produtividade.” O desempenho da Minerva Foods levou a empresa a ser a campeã do setor Frigorífico no prêmio AS MELHORES DA DINHEIRO RURAL 2017.

Segundo Galleti, um exemplo do aperfeiçoamento da estrutura de capital da companhia foi a emissão de US$ 1 bilhão em títulos no mercado internacional, em setembro de 2016, o que reduziu o custo médio da dívida em mais de 100 pontos base e elevou seu prazo de vencimento. A dívida da Minerva Foods é de R$ 3,4 bilhões o que a deixa confortável com o alongamen-to.“Com a engenharia financeira, a empresa encerrou o ano com R$ 3,4 bilhões em caixa e uma estrutura de passivos alongada e mais barata”, afirma Galletti. “Nossa posição de caixa cobre as amortizações das dívidas até 2026.” No mercado interno, uma das ações foi a ampliação dos canais de distribuição, com foco no pequeno varejo e no food service, setor que faturou R$ 184 bilhões, em 2016, segundo o Instituto FoodService Brasil. “Isso resultou no aumento de 30 mil distribuidores para cerca de 50 mil”, afirma o executivo. “Também ampliamos a venda de carne in natura em 10%.” A receita da Divisão Carnes no País foi de R$ 2,7 bilhões, ante R$ 2,4 bilhões no ano anterior.

Dando um passo de cada vez, a Minerva Foods se tornou a segunda maior exportadora de carne bovina do País, desde 2016, e a primeira no Paraguai e na Colômbia. No ano passado, a empresa vendeu 344,4 mil toneladas de carne bovina para cerca de 100 países, o equivalente à receita de R$ 5,72 bilhões. No mercado internacional, o cenário foi favorável, graças à redução na oferta de carne bovina. Somente da Austrália, um grande concorrente do País no mercado global, as exportações caíram 17% no ano passado. Elas foram de 963 mil toneladas, ante 1,3 milhão no ano anterior, segundo o Meat and Livestock Australia (órgão de pesquisa e marketing da indústria australiana de carne bovina). A Minerva Foods aproveitou esse panorama para consolidar suas estruturas globais. “Nossos escritórios internacionais passaram a originar um volume superior de produtos de terceiros, por meio de tradings próprias no Uruguai e na Austrália, além do Brasil”, diz Queiroz. “Também criamos canais mais eficientes de distribuição.” Queiroz acredita que a retração das exportações australianas ampliará o acesso da América do Sul a mais mercados, especialmente o Brasil. “Isso deverá resultar em novas aberturas comerciais pelos países sul-americanos”, diz ele.

“Vai ampliar a participação da região e da companhia no exterior.”

Para a Minerva, o cenário favorável deve se manter em 2017, embora o setor tenha passado por desafios na gestão de sua cadeia, como a Operação Carne Fraca e a delação dos controladores do grupo JBS, os irmãos Wesley e Joesley Batista. De acordo com Antonio Camardelli, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carnes, a expectativa é positiva e o desempenho desse ano deve ser ainda melhor, comparado ao ciclo anterior. Em 2016, as exportações de carne bovina foram de US$ 5,34 bilhões, o equivalente a R$ 17,9 bilhões, com a venda de 1,35 milhão de toneladas, entre in natura e processada. “Seguramente, o Brasil vai exportar mais, tanto em volume quanto em receita”, afirma.