Uma verdadeira montanha de açúcar, que hoje se amontoa pelos armazéns das grandes usinas brasileiras, poderá, em breve, embarcar para uma longa e lucrativa viagem que tem como destino Bagdá, capital do Iraque. Isso porque o governo daquele longínquo país está costurando uma negociação inédita, na qual pretende fechar a aquisição de 200 mil toneladas do produto, comprando diretamente dos produtores brasileiros, sem passar pela intermediação das grandes tradings. O acordo está sendo tocado pela Câmara de Comércio Brasil Iraque com o apoio do escritório comercial iraquiano, reaberto em São Paulo no ano passado, e tem o objetivo de reduzir os custos da operação. “O governo em Bagdá entende que dessa forma, sendo ele o comprador direto, conseguirá uma negociação melhor, além de abrir a possibilidade de firmar parcerias diretas com empresas brasileiras”, explica o presidente da Câmara Brasil Iraque, Jalal Chaya. Ele afirma que os primeiros pedidos já foram encaminhados e que os contatos com os produtores brasileiros já estão sendo realizados. “O mercado de açúcar é muito difícil, com poucas empresas que comercializam o produto. Estamos conversando com as companhias, que precisam começar a se preparar para firmar os contratos futuros. Acredito que em três ou quatro meses já ocorram os primeiros embarques”, afirma.

Para Chaya, a grande vantagem para os produtores brasileiros é a possibilidade de estreitar relações comerciais com o país, que, segundo ele, passa por um momento de retomada. “O Iraque vive uma fase de reconstrução. A economia está aquecida, com projetos de construções de novos postos petrolíferos. Isso irá elevar o consumo e fazer crescer as exportações”, garante o presidente, que acredita que esse modelo de operação pode se repetir também em outros produtos, como carne bovina e aves. “Em 2009, as importações do Iraque de produtos brasileiros somaram US$ 700 milhões. Para este ano já prevemos algo em torno de US$ 1 bilhão.”

De fato, a relação comercial entre os dois países vem crescendo nos últimos anos. Somente no primeiro semestre de 2010, as vendas de produtos agrícolas para o Iraque somaram US$ 122 milhões, valor que representa um crescimento de 29%, se comparado ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura. “O Brasil tem um bom produto e todas as condições de ser um grande parceiro comercial”, afirma o presidente.

Já para o diretor da Bioagência, Tarcilo Ricardo Rodrigues, é preciso ter cautela com esse tipo de operação. “As tradings são um elo importante da cadeia porque assumem riscos na comercialização e na tomada de crédito que muitos produtores não poderiam assumir”, avalia ele. A empresa atua na comercialização dos produtos de várias usinas associadas, que juntas processam 54 milhões de toneladas de cana e produzem 3,6 milhões de toneladas de açúcar, cerca de 10% do mercado. “É difícil que os produtores queiram assumir o risco Iraque. Claro que pode ser um negócio interessante, mas vai depender das garantias e condições comerciais que o governo iraquiano tem a oferecer”, analisa. Agora, resta esperar os embarques para saber se a venda irá, de fato, se mostrar um negócio da China, ou melhor, do Iraque.