O Brasil é reconhecido como um dos mais importantes protagonistas da agropecuária mundial. É o maior produtor e exportador de várias commodities, e tem presença crescente nos mercados de proteínas e de diversos alimentos processados. Instituições internacionais de peso como FAO, OECD e USDA estimam que o Brasil responda por cerca de 40% do crescimento do consumo mundial de alimentos até 2050. Este reconhecimento se deve em grande parte ao desenvolvimento do que se denominou a nova Agricultura Tropical, inicialmente pela Embrapa, e continuamente aprimorada pela própria empresa e outros centros de pesquisa e empresas de tecnologia. Esta nova agricultura valiosa para o Brasil e outros candidatos a relevantes papéis na produção de alimentos permitiu a incorporação de regiões antes consideradas inapropriadas à atividade agropecuária de forma sustentável, principalmente sob os aspectos econômico e ambiental.

O Brasil é um protagonista de escala global na cadeia de alimentos, elemento fundamental para a paz. No entanto, a má gestão orçamentária têm reduzido sua expressão em importantes fóruns. É lamentável que o governo não tenha sido capaz de oferecer os recursos comprometidos junto a várias organizações internacionais. Deve enorme soma de recursos à ONU e à UNESCO, e recursos de menor monta a algumas organizações-chave de commodities como a do café (OIC/ICO) e a do açúcar (OIA/ISO), das quais tem sido vergonhosamente excluído das votações em conselho.

Enquanto nações mais desenvolvidas discutem o combate à ação de grupos extremistas como EI e Al-Qaeda, o Brasil está imerso em sua incapacidade de administrar o seu próprio orçamento, controlar suas próprias fronteiras, e superar uma crise político-institucional que se arrasta por um tempo além da conta.


Embarques: Brasil é o maior exportador de várias commodities, como a soja, e tem presença crescente nos mercados de proteínas animal

Enquanto vários países liderados pelos Estados Unidos avançam de forma consistente em acordos de comércio e serviços como a TPP, TTIP e TISA, firmam regras de controle para a cobrança e a isenção de impostos, e harmonizam padrões e regras trabalhistas e de controle ambiental, criando um novo paradigma para as negociações de livre comércio, o Brasil se contenta em estar inserido em uma união aduaneira incompleta e casuísta, e paralisado numa estratégia, cada vez mais longínqua, de um grande acordo multilateral. É por esse motivo que o Brasil e os países que compartilharam até agora a mesma cartilha estão literalmente fora do mapa. A renovação política na Argentina, com a vitória do oposicionista Mauricio Macri, mereceu apenas reportagens em cadernos internos nos maiores jornais internacionais.

Todos os agentes envolvidos na cadeia de valor da agropecuária brasileira devem se preocupar com a imagem que o País projeta no exterior. O valor dos bens que produzem e exportam está diretamente relacionado às ações e ao posicionamento que o País adota em fóruns internacionais. A diplomacia brasileira é uma das mais bem preparadas em todo o mundo, mas tem sofrido com uma agenda de ambições limitadas, e a falta de uma grande visão estratégica de longo prazo. É por esse e outros motivos que, embora tendo as maiores reservas, exportamos minério de ferro para a China, para de lá importar trilhos e vigas de baixo conteúdo tecnológico num enorme passeio internacional, ao mesmo tempo em que se desestrutura a siderúrgia nacional.

O Brasil perde a oportunidade de se projetar como a grande economia verde mundial que produz alimento, fibras e energia, seguindo padrões ambientais e trabalhistas sem paralelo.  Mas, com uma agenda global e um posicionamento desconectados com o que importa para o mundo que compra, investe e decide, perde valor no presente e a oportunidade de gerar muito mais no futuro. Isto deve ser motivo de grande preocupação do produtor e de todos os agentes que suprem insumos e serviços para esta enorme cadeia de valor.