Há exato um ano, quando a Monsanto, empresa americana com faturamento global de US$ 15 bilhões, ainda estava na briga pela compra da suíça Syngenta, seu chefe de operações, Brett Begemann, afirmou que avançaria sobre a alemã Bayer caso não conseguisse fechar o negócio que vislumbrava. Na ocasião, Begemann disse que não sabia o que a Bayer, empresa alemã com receita global de € 46 bilhões, faria com a área de defensivos agrícolas, mas tinha certeza de que os executivos da concorrente ficariam felizes em conversar sobre outro arranjo comercial. Contudo, nenhuma das duas oportunidades foi para frente. A Syngenta aceitou a oferta de compra da chinesa ChemChina, de US$ 43 bilhões, transação anunciada em fevereiro deste ano, com expectativa de conclusão até o fim do ano. E a Bayer Ag decidiu investir em um retorno da provocação, oferecendo US$ 62 bilhões por toda a participação acionária da Monsanto. Caso se concretize, a união das duas companhias dará forma a maior empresa de sementes e produtos químicos do mundo, com valor de mercado de aproximadamente € 85 bilhões.

De acordo com Werner Baumann, presidente do Conselho de Administração da Bayer Ag, essa transação representaria uma oportunidade atraente para os acionistas da Monsanto, que receberiam US$ 122 por ação, um prêmio de 37% em relação aos US$ 89 verificados no dia de envio da proposta, 9 de maio. “Acreditamos que a nossa oferta seja a melhor chance de os acionistas da Monsanto gerarem valor imediato”, afirmou Baumann. Esta declaração fez com que as ações da gigante americana começassem a subir, fechando em US$ 109,1 no dia 24 de maio, enquanto as da alemã despencaram 12,5%, fechando em US$ 97,1 na mesma data. Uma movimentação que fez com que a Monsanto recusasse a proposta, considerando-a incompleta e financeiramente inadequada. A empresa, contudo, ainda se diz disposta a manter o canal de conversa aberto. “Enxergamos os benefícios substanciais que uma estratégia integrada poderia trazer aos produtores e para a sociedade”, disse Hugh Grant, presidente da Monsanto Company, em comunicado oficial. “No entanto, a atual proposta subestima significativamente o valor da nossa empresa.”


Hugh Grant, da monsanto “A proposta atual da Bayer subestima significativamente o valor da nossa empresa”

O recuo faz parte do jogo corporativo. Trata-se de uma maneira de barganhar mais. Afinal, as duas empresas sabem que a melhor maneira de encarar os chineses, que absorveram a Syngenta, é unir forças e capturar sinergias. Mundialmente, a companhia estima conseguir economizar US$ 1,5 bilhão, em três anos, e registrar um aumento do lucro de 5% no primeiro ano e de, pelo menos, 10% nos períodos seguintes. Em vendas de produtos agrícolas, a nova companhia superaria em 56% o faturamento da empresa composta por Syngenta e ChemChina, com € 23,1 bilhões contra € 14,8 bilhões. “Estamos convencidos de que a união das empresas vai atender de forma eficaz às necessidades dos agricultores e aos desafios da indústria em relação aos agroquímicos e às sementes”, diz o presidente do Conselho da Bayer. “Com isso, teríamos um investimento combinado em pesquisa e desenvolvimento que equivaleria a cerca de € 2,5 bilhões.” Nesse pacote entrariam melhoramento genético, desenvolvimento de traits, novas soluções para proteção química e biológica de cultura, além da agricultura digital. 

Werner baumann, da bayer “Acreditamos que a nossa oferta seja a melhor chance de os acionistas da Monsanto ganharem”

Se por um lado o surgimento da nova companhia contribuirá para o desenvolvimento da agricultura mundial, por outro pode tirar do produtor rural o poder de barganha no momento de compra dos insumos. Esse, aliás, é um dos fatores que certamente serão analisados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) caso a fusão se concretize e chegue no Brasil. Segundo Rodrigo Zingales, sócio fundador de Zingales Advogados e especialista em direito da concorrência, é possível que o órgão coloque imposições para aprovar a união das empresas. “De cara, elas precisarão comprovar que a livre concorrência não será prejudicada em nenhuma região do País”, afirma. Isso porque, em alguns lugares, a Bayer e a Monsanto são as indústrias com maior força de mercado. E, mesmo com produtos complementares, em determinadas áreas são concorrentes diretas e únicas. “Provavelmente, será na pesquisa e desenvolvimento o maior problema enfrentado. Quebras de patentes podem estar no horizonte dessa negociação.”

A divisão agrícola da Bayer Ag, a Crop Science, é responsável por 75% do faturamento do grupo no Brasil, um montante que alcançou R$ 7,5 bilhões em 2015. No ano passado, a alemã investiu R$ 31 milhões em novos laboratórios de monitoramento de resistência a fungicidas, herbicidas e inseticidas (FHI) e em um centro de tecnologia de aplicação. Por outro lado, a Monsanto do Brasil encerrou 2015 com faturamento de cerca de R$ 6,2 bilhões, com a comercialização de sementes, biotecnologia e herbicidas. Hoje, a americana está estruturada no País com 21 estações de pesquisas, além das unidades de beneficiamento de sementes e produção de defensivos, e realizou investimentos da ordem de R$ 550 milhões no ano passado. Os próximos passos serão dados no decorrer deste mês. Em último comunicado ao mercado, a Bayer Ag reiterou a proposta inicial, enfatizando que é o valor certo para os acionistas da Monsanto. Mas, de acordo com analistas, ainda há espaço para aumentar a oferta e a Bayer não vai deixar essa oportunidade passar.