Dinheiro Rural 15 anos

Alguns meses atrás, o coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e embaixador para as cooperativas na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Roberto Rodrigues, e o coordenador do Agribusiness Center, da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, José Luiz Tejon, lançaram um manifesto que versa sobre o futuro do agronegócio brasileiro, seu papel e o potencial de responder à demanda global por alimento. Começa com a seguinte provocação: “que conselho um homem com 104 anos daria para um jovem do agro hoje?” A resposta, atribuída ao agrônomo Fernando Penteado Cardoso, criador da Fundação Agrisus e que no próximo dia 19 de setembro completa 105 anos de idade, foi: “não se afaste da ciência e confie no mercado.” A provocação também serviu para que a dupla lançasse um desafio: onde estará o Brasil dentro de cinco anos? “Em 2018, exportamos US$ 101 bilhões, 5 vezes mais do que no ano 2000”, diz Tejon. “Com estratégia, podemos pensar em US$ 1 trilhão, vendendo alimento e bioenergia para o mundo”, afirma Rodrigues.

Para a dupla, é preciso decidir, agora, “o que e por que fazer”. E estão iniciando uma convocação pública para que as entidades de classe, as associações, as federações e o governo se juntem em um movimento para planejar o salto nas exportações, rumo a US$ 1 trilhão em 5 anos. “Todo o agro global vale cerca de US$ 20 trilhões”, afirma Tejon. “Podemos sim, ter uma presença maior lá fora.” Para ele, a produção e o comércio serão impactados por transformações profundas, acompanhando as mudanças pelas quais a sociedade já passou nas últimas décadas. “As novas demandas da sociedade requer um novo olhar sobre como produzir e se comunicar”, diz Tejon.


E vão continuar demandando, em um modelo de sociedade impensável há poucos anos. O primeiro vídeo de 18 segundos, por exemplo, foi colocado no canal de internet Youtube há exatos 14 anos. Hoje, vão para a rede 300 horas de vídeos por minuto. O termo drone, que era para designar uma arma militar, hoje tem um mercado global de cerca de US$ 125 bilhões, segundo a consultoria PwC. A agricultura é dona de uma fatia de 26% desse mercado. Fica atrás, apenas, de infraestrutura, um setor do qual ela também se beneficia. Até o ano de 2009, ninguém havia escutado os termos Uber e AirBnB, embora já houvesse 6,4 bilhões de habitantes na terra. Hoje são 7,7 bilhões e as duas plataformas de conectividade valem, respectivamente, US$ 82,4 bilhões e US$ 30 bilhões.

A frase “o futuro não será mais como era antigamente” nunca foi tão atual. Interessa, agora, o que os futurólogos preveem, como é o caso do americano Peter Diamandis, que esteve no Brasil no ano passado. Ele é um dos fundadores da Singularity University, uma instituição do Vale do Silício, na Califórnia, especializa em formar líderes. Diz Diamandis que em 2025 os computadores domésticos terão a velocidade de processamento do cérebro humano. Que 8 bilhões de pessoas, do total de 8,6 bilhões da população mundial, estarão hiperconectadas em plataformas globais. E que entre elas, 5 bilhões estarão fazendo negócios na casa os trilhões de dólares. Hoje, 3 bilhões de pessoas estão conectadas.

COMIDA NA MESA

Mas quem vai alimentar o mundo para suportar essas transformações? “As novas tecnologias vão impulsionar os ganhos de produtividade no campo”, diz Rodrigues. “Da porteira para dentro seremos cada vez melhores. E da porteira para fora, também”. De acordo com a FAO existem 570 milhões de propriedades rurais no mundo. A maior parte é de pequenos negócios familiares, cerca de 80%. Por isso, o Brasil pode ter um papel fundamental nesse arranjo. Do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, cerca de R$ 1,7 trilhão anuais vêm do campo, equivalentes a 25% da economia do País. A produção de alimentos é sustentada por uma agricultura familiar diversificada e uma agricultura empresarial baseada em grandes culturas, como soja, milho e cana-de-açúcar.

De acordo com o mais recente Censo Agropecuário, realizado em 2017, são 5 milhões de propriedades rurais, ocupando 350 milhões de hectares, equivalentes a 41% do território nacional. Mas isso não é tudo. Dados da Embrapa Territorial mostram que os produtores rurais preservam em suas propriedades uma área de 103,1 milhões de hectares de vegetação nativa.
Para Marcelo Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, entidade que representa grande parte da agroindústria nacional, por conta dessa preservação é possível planejar o crescimento do País, baseado na tecnologia, e tomar uma posição firme no cenário global a partir das bases construídas até aqui. “Nós temos uma legislação ambiental que permite falar em crescimento sustentável da produção”, diz ele. “E o maior exemplo que podemos dar é cumprir o que diz o nosso Código Florestal para atender ao mercado interno e exportar”.

Nos últimos anos, Brito, Tejon e Rodrigues têm participado da elaboração de documentos sobre as potencialidades do agronegócio e que já foram entregues a vários setores do governo. Na eleição presidencial do ano passado, por exemplo, os candidatos ao posto receberam um extenso estudo sobre o setor, que depois foi compilado em um livro coordenado por Rodrigues, chamado “O Agro é Paz”. “A base do crescimento está em acertar a logística de escoamento das safras para que as cadeias produtivas funcionem”, diz ele. “Podemos fazer isso como meta estratégica de política de estado, em parceria entre o público e o privado”. Para Tejon, a proposta atual em busca de US$ 1 trilhão nas exportações dá um passo além para que áreas como defesa sanitária, segurança logística, comunicação, sustentabilidade, política agrícola, agroindústria, entre outros, cumpram uma agenda. “O que nós estamos propondo é estabelecer metas que possam ser cumpridas nos próximos anos”, diz ele. “É isso que pode sustentar um movimento em busca desse valor nas vendas externas.” Em 2015, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento da Europa (OCDE) e FAO publicaram um longo estudo no qual está previsto que em 2024 o Brasil pode assumir a liderança das exportações mundiais do setor agropecuário. Faltam 5 anos para que a previsão seja cumprida.

De olho no campo
A Dinheiro Rural e o agronegócio

Em 2019, a revista DINHEIRO RURAL completa 15 anos. O projeto que nasceu na equipe da Dinheiro, a única revista semanal de economia do País, tinha uma missão: falar de negócio e ser porta-voz de um público que até então não era visto como de empresários. A revista ajudou a mudar a imagem do agropecuarista, não importando se a sua propriedade possui um hectare ou milhares deles. Porque, no fim das contas, todos são empreendedores no campo. Nas próximas edições, acompanhe o Especial 15 Anos na edição impressa e também no digital. A DINHEIRO RURAL vai mostrar como o setor chegou até aqui e o futuro que vem sendo construído. Venha conosco e acompanhe essa saga!